Um terço das mortes causadas por 20 tipos da doença no país poderia ser evitado com mudanças no estilo vida.
Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física são fatores de risco associados a 114 mil casos de câncer (27% do total) e 63 mil mortes (34% do total) por ano no Brasil.
Um terço das mortes causadas por 20 tipos da doença no país poderia ser evitado com mudanças no estilo vida.
Levantamento feito por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) traz dados impressionantes e abre uma nova perspectiva para a redução do número de casos da doença.
O estudo aponta, por exemplo, que a incidência de câncer de pulmão, de laringe, de orofaringe, de esôfago, de cólon e de reto poderia ser reduzida pela metade, caso esses cinco fatores de risco fossem eliminados.
De acordo com pesquisadores envolvidos no trabalho, não se conhece outra forma de prevenir tantos casos e mortes. Ou seja, grande parte da profilaxia está em nossas mãos. Uma quantidade considerável de casos seria evitável a partir da redução desses fatores de risco.
Os pesquisadores traçaram estimativas de diminuição da doença caso esses fatores sejam reduzidos. Foi considerado o seguinte cenário: o consumo de álcool com uma redução relativa de 10%, uma diminuição de 1 kg/m2 no índice de massa corporal na média da população, uma dieta de cálcio de 200 mg a 399 mg por dia ea redução de 30% na prevalência do consumo de tabaco.
Tais alterações, do ponto de vista Estilo de vida está nos matando populacional, poderiam evitar 19.731 casos de câncer (4,5% dos casos) e 11.480 mortes (6,1%).
Esta é uma ótica a se considerar, tanto individualmente, quanto em termos de políticas públicas. Até porque estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que, em 2025, os casos de câncer cresçam em até 50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população. Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país.
O tabagismo é responsável por 67 mil casos de câncer por ano no Brasil, o equivalente a 15,5% dos casos e 40 mil mortes. O combate ao tabagismo é um bom exemplo de contribuição de políticas públicas na área da saúde com resultados positivos. Foi adotado um pacote de medidas, leis e regulamentação do tabaco, incluindo a tributação do cigarro, a proibição do consumo em local fechado.
Assim, o Brasil conseguiu reduzir para menos da metade a proporção de fumantes em relação a década de 1990.
Hoje, aproximadamente 10% da população brasileira fumam, antes, eram mais de 30%.
Esta experiência bem-sucedida poderia servir de exemplo para a elaboração de outras políticas no campo da alimentação. Rotulagem, restrições de marketing e aumento de impostos de produtos da indústria de alimentos para desestimular o consumo são propostas possíveis de serem implementadas visando reduzir o excesso de peso e obesidade da população.
O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda que sejam consumidos principalmente produtos in natura e que se evitem alimentos processados, especialmente ultraprocessados. No entanto, nem essas informações são divulgadas de forma maciça para a sociedade e tampouco usados em campanhas educativas.