Houve avanços na produção científica no Brasil nos últimos anos. Levantamento realizado pelo pesquisador Cristiano Aguiar Lopes mostrou que, entre 2000 e2018, a participação do País no conjunto da produção mundial passou de 1,30% para 2,94%, mais que dobrando. O cálculo foi feito com base na contagem de citações em periódicos indexados na Scopus, a maior base global desse tipo de dados. Tal avanço não foi suficiente, porém, para que o Brasil ocupe lugar de destaque no cenário internacional. Sua posição é a 14ª. no ranking dos países com maior número de citações em publicações indexadas, ficando na última classificação quando são consideradas as dez maiores economias do planeta.
O crescimento da produção científica no País tem relação direta com a expansão dos cursos de pós-graduação: no período 2000-2017, os programas de mestrado e doutorado aumentaram 150%, passando de 1.430 para 3.557, enquanto o número de alunos passou de 116 mil para 313 mil (mais 170%). E houve apoio aos estudantes, com salto de 336% nas bolsas concedidas pela Capes, agência do Ministério da Educação, de 21.501 para 93.801. Os investimentos do órgão em bolsas e fomento à pesquisa cresceram ainda mais, de R$ 443 milhões em 2002 para R$ 3,27bilhões em 2017.
O financiamento público à ciência é fundamental. Embora estudo recente do diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz, tenha mostrado que o número de artigos científicos realizados em coautoria entre pesquisadores da academia e da indústria cresceu a uma taxa média de 14% ao ano entre 1980 e 2018, passando de pouco mais de uma dezena para 1,5 mil no final do período, esse movimento não é suficiente para fazer avançar, de fato, a ciência no Brasil. Enquanto a média mundial de destinação de recursos para pesquisa e desenvolvimento (PD) fica em 2,2% do PIB, no Brasil esse valor é de apenas 1,27%.
Quando se consideram as aplicações em ciência e tecnologia, elas nunca passaram de 1,34% do PIB, evidenciando o atraso nacional. Nos últimos anos houve maior atenção ao tema, o que explica os avanços recentes. Preocupam muito, portanto, os recentes cortes em bolsas e programas de fomento.
Se o quadro nunca foi plenamente satisfatório quanto ao apoio público à ciência, a situação atual é pior, com especialistas alertando para o que chamam de colapso orçamentário. No Orçamento aprovado para 2020, os recursos para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) foram reduzidos em 15%, e do total aprovado, 40% (R$ 5,1 bilhões) estão em reserva de contingência, ou seja, indisponíveis para gasto. Embora o orçamento para bolsas do CNPq, vinculado ao MCT, tenham tido aumento este ano de 30%, houve queda de 41% para o financiamento de projetos de pesquisa. Na Capes, aquedado seu orçamento foi de 28% para 2020.