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Verbete Draft: o que é Deep Technology (181 notícias)

Publicado em 24 de novembro de 2021

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Por Dani Rosolen

Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

DEEP TECHNOLOGY

O que é e quem criou: Deep Technology (Deep Tech), também conhecida como Hard Technology, ou Tecnologia Profunda (em tradução livre), se refere a empresas inovadoras que desenvolvem produtos ou serviços com base em pesquisas científicas, em áreas como biotecnologia, blockchain, inteligência artificial, genética, realidade aumentada e virtual, química etc.

Geralmente, essas inovações são desenvolvidas em laboratórios ou universidades por estudantes, cientistas e pesquisadores, expandindo as possibilidades do mercado, já que antes apenas as big techs ou grandes laboratórios concentravam a criação de soluções disruptivas com base na ciência.

Segundo Leandro Berti, PhD em Nanotecnologia e fundador da consultoria Fiber Inova:

“As deep techs têm origem no que se chama de ‘hard science’, aquela ciência mais difícil de virar um negócio. Elas são resultado de um ponto de interseção, onde a ciência encontra a tecnologia”

O termo foi cunhado em 2014 pela indiana Swati Chaturverdi, CEO e cofundadora da plataforma de investimento Propel (X). Segundo a empreendedora:

“Empresas de Deep Tech são baseadas em descobertas científicas tangíveis ou inovações de engenharia significativas. Eles estão tentando resolver grandes problemas que realmente afetam o mundo ao seu redor.”

Sobre a questão do impacto das tecnologias profundas, Leandro afirma: “As deep techs fortalecem a criação da Sociedade 5.0, centrada no ser humano, na criação de valor – e não só de receita”.

Especificidades: Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) e da Hello Tomorrow (acesse o material no item “Para saber mais”, no fim deste Verbete) indica três pontos que caracterizam as deep techs num contexto de negócio: as tecnologias devem ter um grande impacto (social e ambiental); levam muito tempo para atingir a maturidade do mercado; e exigem um montante substancial de capital.

Além disso, o estudo indica quatro atributos complementares de deep techs de sucesso:

– Ter como foco o problema (97% dos negócios deep tech levantados pela pesquisa contribuem com pelo menos uma das metas de desenvolvimento sustentável da ONU);

– Operar na convergência de tecnologias (96% usam pelo menos duas tecnologias e 66% usam mais de uma tecnologia avançada);

– Transferir a inovação do mundo digital para o físico (83% das empresas pesquisadas estão desenvolvendo um produto físico, hardware);

– Ser catalisadora de um novo ecossistema com atores — empresas, investidores, pesquisadores etc. — interconectados. (Segundo o report, cerca de 1 500 universidades e laboratórios de pesquisa estão envolvidos em tecnologias profundas; empreendimentos deep tech receberam cerca de 1 500 concessões de governos somente em 2018.)

De acordo com Leandro, as deep techs têm ainda a multidisciplinariedade como uma forte característica: “Existe uma interação muito grande entre todas as áreas. O Tesla, por exemplo, é um carro autônomo, mas a empresa continua desenvolvendo uma série de outras tecnologias para serem embarcadas — o que acabou inclusive se desmembrando na criação da Space X.”

Startups x Deep Techs: Mas afinal, como distinguir uma empresa de tecnologia de uma de tecnologia profunda? De acordo com a própria Swati, em um artigo (acesse o texto na íntegrano item “Para saber mais”), as empresas de tecnologia mais convencionais baseiam-se na inovação do modelo de negócios ou na transição do modelo de negócios offline para online, usando tecnologias já existentes.

Ela cita como exemplo o Uber, que se baseou no conceito de “economia compartilhada” para trazer uma inovação no modelo de negócio, permitindo aos indivíduos compartilhar recursos existentes.

“Já as empresas de deep tech estão tentando resolver grandes problemas que realmente afetam o mundo ao seu redor. Por exemplo, um novo dispositivo médico ou técnica de combate ao câncer, análise de dados para ajudar os agricultores a cultivar mais alimentos ou uma solução de energia limpa que tenta diminuir o impacto humano nas mudanças climáticas”, escreve ela no artigo. E complementa:

“Continuando com a referência do Uber, empresas de deep tech no negócio de transporte incluiriam veículos autônomos, carros voadores ou outras tecnologias transformadoras semelhantes…”

Tipos de soluções: As soluções apresentadas pelas empresas de deep techs podem resolver questões na área da saúde, na gestão de resíduos, no combate à fome etc.

O site da Propel (X) divide as deep techs em seis setores de atuação: Agricultura e Alimentação; Aeroespaço e Transportes; Energia e Tecnologias Verdes; Life Sciences; Tecnologias Industriais; e TI e Comunicações.

Para entender melhor o que as deep techs podem fazer nessas áreas, vale usar exemplos do que já estão fazendo algumas empresas brasileiras e estrangeiras que atuam neste segmento.

A japonesa Aroma Bit conseguiu desenvolver sensores que emulam o olfato humano, detectando aromas por meio da interação entre moléculas de odor e superfície do elemento.

A israelense Future Meat, por sua vez, desenvolveu uma tecnologia para o cultivo de carne em laboratório, inaugurando a primeira fábrica do tipo no mundo.

Já entre as nacionais, a APTAH (que já foi pauta aqui no Draft e é apontada pelo relatório da Liga Insights como uma deep tech brasileira acelerada pelo InovAtiva Brasil) reduz o tempo e o custo da descoberta de medicamentos com biologia computacional.

Enquanto isso, a Pluricell (que também foi perfilada aqui e é mencionada pelo report da Liga Insights) produzi células-troncos induzidas (iPS).

Um dos casos mais populares e recentes de soluções deep tech é o consórcio entre as farmacêuticas Pfizer e BioNTech, que possibilitou a criação de uma vacina contra a Covid-19 de forma rápida, eficiente e com um custo relativamente baixo.

2021, o ano das Deep Techs (na Europa): Segundo o estudo já mencionado do BCG, as deep techs serão responsáveis pela próxima grande transformação tecnológica – a primeira desde o surgimento da internet.

Não à toa, os investimentos neste segmento só vem crescendo e quadruplicaram de 2016 a 2020 — passando de 15 bilhões de dólares para mais de 60 bilhões de dólares. A previsão, reforça o documento, é alcançar até 200 bilhões de dólares em 2025.

Na Europa, os negócios desse segmento estão avaliadas em 700 bilhões de euros. Em janeiro, um estudo lançado pela Sifted, em parceria com a Dealroom, e com o apoio pela Comissão Europeia, intitulado “2021: The Year of Deep Tech” (acesse o material no item “Para saber mais”), mostra que esses empreendimentos respondem por 25% de todo o venture capital europeu, o que representa 10 bilhões de euros.

O ecossistema de deep techs no Brasil: Quando o assunto é produção científica, o Brasil ocupa o 13º lugar no ranking mundial, de acordo com o relatório Science-Metrix2018 (e a primeira posição, se levarmos em conta as publicações de acesso aberto, disponíveis gratuitamente).

No entanto, o investimento feito no setor vem caindo, o que impacta o desenvolvimento e a evolução de novas soluções. Só em 2021, por exemplo, o corte de recursos foi de 29% na comparação com 2020. Dá para conferir a queda do orçamento destinado à Ciência, Inovação e Tecnologia de 2015 para cá nesta reportagem do Jornal da USP.

Apesar das dificuldades, o segmento vem sendo impulsionado no Brasil por hubs de inovação, gestoras de fundos e pesquisas de ponta.

Entre as iniciativas, é possível citar um projeto do Sebrae-SP e da Fapesp que promete investir 150 milhões de reais em deep techs do estado de São Paulo ao longo de seis anos, por meio de dez editais.

Também vale destacar o STATE, hub de startups e empresas focadas Inovação e Criatividade (apresentado aqui no Draft), que lançou o programa Where Science Happens para atrair e desenvolver cientistas empreendedores e startups de base científica.

Fundada em 2016 pelo brasileiro Guy Perelmuter, a GRIDS Capital é uma gestora de venture capital focada exclusivamente nesse setor. Ela já investiu em empresas como a CRTL-Labs (adquirida pelo Facebook e responsável por criar interfaces que permitem controlar computadores usando sinais enviados pelo cérebro), Optimus Ride (com foco em carros autônomos) e Halter (criadora de uma “coleira” de monitoramento remoto de vacas). Todas são estrangeiras: por enquanto, a gestora ainda não tem investimentos em deep techs nacionais.

Os desafios das deep techs: Apesar de todo o seu potencial, as deep techs precisam superar alguns desafios. O estudo do BCG cita quatro principais obstáculos.

O primeiro é a necessidade de reimaginação (visualizar como ciência e a tecnologia, juntas, podem remodelar processos e resolver problemas). O segundo obstáculo é a necessidade de ultrapassar os limites da ciência (em conjunto, governos, universidades e startups podem expandir esses limites, traduzindo tecnologia profunda em negócios).

Outro desafio é a dificuldade de escalar (pela necessidade de construir uma fábrica própria para uma nova solução, por exemplo). E, por fim, o quarto é a já citada dificuldade de acesso a financiamento (os fundos de investimento ainda não estão dispostos a correr o risco de aportar na ciência e preferem tecnologias mais “seguras”). Para Leandro:

“Hoje a gente não tem mais um gargalo tecnológico, mas uma dificuldade de convergência de tecnologias. Muitos investidores colocam dinheiro em coisas que são de certa forma simples, como um aplicativo — em vez de investir recursos para desenvolver tecnologias críticas que ajudariam a fazer a sociedade avançar”

O especialista complementa: “Um exemplo de como esse investimento pode trazer retorno a longo prazo é o que aconteceu com a TI, que hoje é uma tecnologia convencional, mas que só conseguiu transpor barreiras gigantes porque recebeu um investimento muito grande no começo de sua criação”.

Desigualdade de investimento entre países e soluções: Ainda sobre financiamento, um estudo chamado “The Deep Tech Investment Paradox” (acesse no item “Para saber mais”) aponta a necessidade de olhar para outras áreas da ciência que podem ter grande impacto no futuro, mas atualmente estão sendo “menosprezadas”.

Em 2020, dois terços de todos os investimentos em deep techs se concentraram em inteligência artificial e biologia sintética, enquanto apenas um terço foi destinado a outras áreas.

Além disso, o relatório aponta que 75% dos aportes foram para os Estados Unidos, deixando iniciativas de outros países subfinanciadas.

Cientistas empreendedores ou empreendedores cientistas: Outros desafios desses negócios são o tempo de maturação das soluções, a necessidade de validação de órgãos regulatórios e a falta de conhecimento de gestão dos cientistas.

Neste último ponto, Leandro diz que a academia falha ao colocar os estudantes e pesquisadores “em caixinhas”:

“O sistema educacional atual não ajuda na multidisciplinaridade que envolve o ecossistema das deep techs, porque você é obrigado a se formar em uma área específica. Além disso, a gente não tem ainda algo que conecte a indústria à academia. É importante, claro, fazer a ciência pela ciência, mas a gente precisa que isso tenha uma saída, um retorno para a sociedade em forma de produto ou serviço”

Já existem iniciativas tentando fazer esta ponte entre a academia e o mundo dos negócios, como a Wylinka, que já foi destaque neste artigo publicado no Draft por Ana Calçado, diretora-presidente da organização.

Para que o ecossistema das deep techs evolua, precisamos de mais projetos como esse, além da ampliação no acesso aos trabalhos realizados pelas instituições de pesquisa, criação de parcerias público-privadas e escala nos testes e validações em campo das descobertas feitas em laboratório.

Para saber mais:

1) Leia os artigos “The definition of Deep Technology” e “So What Exactly is ‘Deep Technology’?”, de autoria de Swati Chaturvedi, postados no LinkedIn;

2) Acesse os infográficos da Propel (X) com o panorama do mercado de deep techs;

3) Confira todos os materiais da BCG sobre deep techs;

4) Baixe o relatório da Liga Insights sobre o cenário das deep techs;

5) Acesse o estudo “2021: the year of Deep Tech”.

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