No dia 15 de janeiro de 2021, morreu aos 99 anos a primeira membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Marta Vannucci. Uma das fundadoras do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), a bióloga foi uma grande representante feminina no ambiente acadêmico, com mais de 100 trabalhos publicados.
Segundo a diretora do IO-USP, Elizabete Graça Saraiva, em entrevista à Agência Fapesp, Marta foi a primeira mulher a dirigir o Instituto e peça crucial nas discussões políticas sobre a necessidade dos estudos da oceanografia para o país.
Entretanto, as mulheres ainda são minoria em representatividade quando se trata de espaços acadêmicos, de acordo com levantamento do projeto “Open Box da Ciência”.
A presença das mulheres na ciência sempre esbarrou em preconceitos e no machismo de uma sociedade que insiste em delegar um lugar específico a elas. || Infográfico: Reprodução/Rodrigo Sanchez/G1
Segundo a pesquisa, na área da Saúde é que mais se encontram pessoas qualificadas com o título de Doutor. É nela, também, que está a maior presença feminina, já que, dos 28.612 pesquisadores, 57% são mulheres.
Porém, quando consideramos as 5 principais áreas do conhecimento, elas são apenas 40,3% do total, com a representatividade ainda menor nas áreas das Ciências Exatas (31,1%) e das Engenharias (26%).
Em entrevista ao portal G1, Natália Leão?—?responsável pelo levantamento?—?explica que a baixa presença feminina nesses espaços está entrelaçada à cultura do cuidado. Dessa forma, ocupada com a manutenção da casa e da família, elas têm menos tempo e incentivo para se dedicar à Ciência.
Uma questão mais profunda…
No artigo “Mulheres na Ciência no Brasil: Ainda Invisíveis?”, escrito pela Doutora em Economia Fernanda de Negri e publicado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), essa proporção desigual deve ser tratada como uma “questão mais profunda”.
O texto evidencia que, entre 2008 e 2012, as mulheres eram responsáveis por 70% do total de publicações de cientistas brasileiros, apontando um dos maiores índices do planeta.
Assim, mesmo ocupando menos espaço dentro das áreas acadêmicas, elas possuem um papel fundamental na geração e reprodução de material científico.
Marta Vannucci, por exemplo, além do destaque por seus trabalhos sobre os manguezais brasileiros, ainda é a responsável por implementar um programa de incentivo a bolsas de estudo e pesquisa para estudantes latinoamericanos na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Entre outros feitos de sua carreira, Vannucci recebeu, em 1996, a Ordem Nacional do Mérito Científico na classe Grã-Cruz. Após sua morte, a pesquisadora foi homenageada como nome de um prêmio da UNESCO para Mulheres na Ciência do Oceano e Sustentabilidade.
Como apresentado no decorrer desta matéria, as mulheres ainda não conquistaram totalmente seu espaço no ambiente acadêmico, mas estão caminhando para isso. E, nós, da Revista Torta, como divulgadores de conteúdo científico, não poderíamos ficar de fora no que se refere à inclusão de gênero.
A nossa equipe atual (abril/2021) é 60% feminina. Dos 30 colaboradores que temos, são 18 mulheres atuando em todas as áreas da RT, atuando como editoras, redatoras, designers, artistas, apresentadoras, gestoras de pessoas e social medias.
ONDE ESTÃO ESTAS MULHERES? was originally published in revistatorta on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.