Entre desafios e conquistas, o país avança na comunicação pública de Ciência, porém, ainda tem um longo caminho pela frente.
Diante da pandemia e dos esforços em combater a disseminação, não só do vírus, mas, também, da onda de negacionismo a seu respeito, o mundo inteiro voltou a sua atenção para a Ciência. Restrita, normalmente, a própria bolha da Academia, a divulgação científica, por vezes, não chega ao público geral.
Os pesquisadores produzem conteúdos que são apenas consumidos por seus pares. A permanência de uma divulgação científica nichada e elitista faz com que a Ciência não ocupe espaços no dia a dia da população que está à margem dessa bolha acadêmica.
Assim, a crise da COVID-19 escancarou uma necessidade de se ter uma comunicação fluida entre aquilo que a Ciência está produzindo e a sociedade, uma vez que ela é diretamente afetada por esses estudos.
Apesar de todas essas falhas comunicacionais ainda existentes e perceptíveis, estudos apontam que houve, sim, uma evolução na divulgação de conteúdo científico no Brasil.
Um levantamento realizado entre 2017 e 2018 com vários países, entre eles o Brasil, avaliou a comunicação pública da Ciência em uma amostra com mais de 2.000 instituições. Como resultado, eles notaram que a intensidade das ações das organizações científicas brasileiras é maior do que em outros países, como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido.
Segundo a coordenadora do estudo e pesquisadora na London School Economics and Political Science, Marta Entradas, em entrevista à Revista Fapesp [Agência FAPESP - https://agencia.fapesp.br/comunicacao-publica-da-ciencia-no-brasil-e-mais-intensa-que-a-media-internacional-aponta-estudo/34274/] , as análises feitas demonstraram que as atividades de divulgação das universidades e instituições de pesquisas dos países participantes são muito semelhantes. Aquilo que varia é a intensidade e os investimentos que fazem em comunicação.
De acordo com o levantamento, as organizações de pesquisa responderam que investem cerca de 3% de seu orçamento anual de pesquisa em ações de comunicação pública científica. E apenas algumas contratam profissionais da Comunicação para trabalharem nessa área.
Contrastes além da pesquisa
Apesar das semelhanças coletadas no estudo, ao comparar as taxas de educação e analfabetismo científico dos países participantes, é possível verificar outros desafios diante da divulgação científica.
Segundo a edição de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), aplicada em estudantes de 15 anos, o cenário educacional brasileiro é preocupante. De 79 países analisados, o Brasil encontra-se entre as posições 66 e 68 na temática focada em Ciências. Esse número reflete a situação de declínio que a educação, principalmente pública, está passando.
Comparando a outros países como Estados Unidos (13º), Alemanha (22º) e Reino Unido (15º), é possível ver que mesmo com os aspectos positivos relatados na pesquisa de comunicação pública de Ciência, as métricas brasileiras sobre os conhecimentos acerca de conteúdos científicos não acompanham as análises coletadas pelo estudo internacional.
Outro ponto de destaque é a posição dos acadêmicos em relação à divulgação científica por meio das redes sociais. Segundo a pesquisa, as mídias sociais têm pouca participação e são utilizadas com menor frequência na divulgação.
Por outro lado, o relatório da We Are Social e da Hootsuite, os brasileiros passam em média 9 horas por dia nas redes sociais. Então, não seriam elas um ambiente propício para a divulgação científica?
Segundo a jornalista Mariluce Moura, em entrevista à revista eletrônica Com Ciência, as redes sociais são um espaço fundamental para a comunicação pública de ciência e podem ser utilizadas de diferentes formas.
A exemplo disso temos a National Aeronautics and Space Administration (NASA (em português Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) a agência espacial estadunidense tem dezenas de perfis criados em quase todas as plataformas e realiza um extenso trabalho nesses canais. Esse tipo de atividade propicia uma experiência para o público leigo, gerando engajamento e senso crítico diante da produção de Ciência no mundo.
De acordo com a análise do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp), as últimas pesquisas de percepção social da Ciência tiveram resultados promissores, alegando que o brasileiro deseja saber mais sobre o tema, porém, não tem conhecimento sobre a área: 87% dos entrevistados não souberam informar o nome de nenhuma instituição científica e 94% não conhecem o nome de nenhum cientista brasileiro.
Então, cruzando as informações desses levantamentos, é possível analisar que, apesar dos avanços que as instituições de estudos científicos alcançaram no quesito divulgação no Brasil, ainda existe um longo caminho para que a Ciência consiga causar engajamento e impactar no senso crítico do público brasileiro.
HÁ DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL? was originally published in revistatorta on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.
Editado por Arthur Almeida e Giovana Silvestri