A divulgação de assuntos científicos nos jornais brasileiros é recente e ainda enfrenta inúmeras dificuldades. Há, em primeiro lugar, entre os pesquisadores alguma desconfiança em permitir que o jornalista seja o mediador entre o seu es tudo e o público leigo. Por outro lado, um reduzido número de cientistas consegue de fato "traduzir" o jargão acadêmico para audiências não iniciadas, deficiência que pode resultar em artigos incompletos ou pouco atrativos.
Mas, felizmente, essas barreiras vêm sendo superadas com a aposta dos jornais em criar seções e cadernos destinados à divulgação científica. Numa conjuntura globalizada altamente competitiva e de recursos escassos não se pode mais enxergar a atividade da comunidade científica como algo encastelado e improdutivo, indiferente à sociedade que a financia e a preserva, na expectativa de que o esforço daquele trabalho possa beneficiar a todos.
Neste ponto, a divulgação científica para uma maioria de cidadãos não-especialistas ganha dimensão. Democrática e fiscalizadora, diga-se. Esses espaços vêm permitindo consolidar o necessário elo de confiança entre os centros de produção do conhecimento e os jornalístico que se especializam tipo de cobertura. Na Bahia, a iniciativa, entre os veículos de circulação diária coube ao jornal A TARDE. Há exato um ano, o jornal lançou a sessão Observatório, veiculada às quintas-feiras, destinada a publicar reportagens sobre a produção científica, principalmente a desenvolvida pelas universidades baianas. Paralelamente, dedica-se espaço a reportagens em que se procura ressaltar a qualidade de vida e a prevenção de doenças como fatores essenciais à coletividade.
A iniciativa de A TARDE chamou, para nosso júbilo, a atenção da jornalista e editora da conceituada Revista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) [Pesquisa FAPESP], Mariluce Moura, que dedicou todo um artigo, publicado no blog de Ricardo Noblat, para comentar "as duas páginas interessantíssimas de uma editoria ou seção chamada Observatório, voltadas à ciência, e como de hábito nesses casos, com ênfase especial em pesquisa de saúde".
A explosão no Brasil da oferta de veículos de divulgação científica, como a Superinteressante, Galileu, Revista Fapesp e Ciência Hoje, além das editorias científicas dos jornais, atesta e supre o crescente interesse por assuntos científicos e, principalmente, relativos à saúde.
Ao jornalista do setor cabe, contudo, evitar a armadilha da banalização que corrompe o conteúdo e logra o leitor. E necessário que o jornalismo especializado em ciência assuma o papel educativo de forma a instrumentalizar o leigo de informações necessárias para que possa, enquanto cidadão, avaliar e julgar o resultado de pesquisas e o impacto que terá na sua vida e de sua comunidade. Neste sentido, o jornalismo científico é a grande janela pela qual o cidadão comum pode observar esse fascinante mundo.