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Diário de Cuiabá online

Um olhar sobre casas (1 notícias)

Publicado em 28 de fevereiro de 2008

Artista plástico retrata casario chapadense em oito telas e revela modos de viver dentro de um contexto histórico

Da Redação

O artista José Pereira sondou o cotidiano chapadense e lançou seu olhar sensível sobre o casario da cidade, principalmente do centro histórico de Chapada dos Guimarães. O resultado dessa sondagem resulta na exposição "Casas da gente chapadense", a ser aberta no próximo sábado, a partir das nove horas da manhã, na Pellegrim Galeria de Arte, em Chapada dos Guimarães.

O processo de concepção de uma obra de arte é bem peculiar a cada artista, mas o que se percebe é que geralmente esse processo exige muito envolvimento, observação sensível, pesquisa e aquele toque especial, característico de cada artista, que dá identidade à obra, algo que faz com que olhemos para a mesma e saibamos quem a construiu. "A percepção artística é o instante em que o artista vai tateando o mundo com olhar sensível e singular. Sondar o mundo é uma forma de apreensão de informações, que são processadas e que ganham novas formas de organização", segundo Cecília Almeida Salles em seu livro Gesto Inacabado, publicado pela Fapesp.

Entre as obras que constam nesta mostra estão telas que mostram casas tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), onde hoje funcionam bares e outros tipos de estabelecimentos comerciais e também casas de famílias chapadenses.

A moradia das pessoas revela modos de viver de uma época e reflete o contexto histórico, social, econômico e cultural em que foi construída e, o modo como são utilizadas hoje, reflete os valores atuais dessa sociedade. Tal patrimônio é de grande valor para o desenvolvimento da paisagem urbana de uma cidade, representando a memória viva de um passado, estabelecendo referências no presente e apontando direções para o futuro de uma localidade.

Com sede de preservação, José Pereira concebeu a exposição "Casas da Gente Chapadense". Em suas telas, as casas aparecem bem pintadas e conservadas, da maneira que o artista gostaria que todas elas estivessem, levando o espectador a imaginar e a vislumbrar esse patrimônio restaurado.

As pessoas e suas atividades cotidianas são de suma importância em suas composições, e o casario é o cenário, o que nos faz pensar também que somos protagonistas dessa história, muitas vezes sem nos darmos conta disso.

"O trabalho de José Pereira caracteriza-se pela fusão de valores laboriosos com a simplicidade do figurativo popular. Com cores vibrantes, geralmente utilizando tinta acrílica, trabalha a temática do futebol e dos casarios, preferindo muitas vezes, os pequenos formatos, onde nota-se a virtuosa riqueza de detalhes." A afirmação é do produtor cultural Daniel Pellegrim, que também destaca que em alguns trabalhos pode-se observar que os símbolos propostos perdem importância frente o impacto visual causado pelos milhares de detalhes postos em pequenos espaços. Pellegrim aponta estas as qualidades como responsáveis por tornar José Pereira um artista diferenciado.

Nesta exposição, em uma das telas, vêem-se as casas como se o observador estivesse na Praça Dom Wunibaldo, outro ícone da cidade. A praça foi construída já no século XX, mas respeitando — não se sabe se por acaso ou pela simples observação dos costumes dos transeuntes locais — o traçado original de quando ainda não era uma praça, mas um grande largo. Esse traçado assemelha-se ao traçado jesuíta que pode ser observado em muitas outras localidades onde os mesmos fundaram suas missões. O traçado da Praça Dom Wunibaldo reflete a influência dos costumes e conhecimentos dessa ordem religiosa que chegou à localidade onde hoje é Chapada dos Guimarães em 1751, fazendo o aldeamento de índios e permanecendo durante oito anos, quando então foi extinta pelo Marquês de Pombal.

Outra tela interessante é a que mostra uma casa de adobe meio a uma belíssima paisagem da zona rural do município, na comunidade do Rio da Casca. Chapada tem uma população rural expressiva, são aproximadamente sete mil pessoas distribuídas em 42 comunidades rurais.

Voltando ao centro histórico, o tradicional Bar do Santos e o Bar do Seu Antônio Eloy são mostrados na exposição. A casa de Dona Leopoldina Olinda da Silva e as casas da família Paixão, ao lado da Câmara Municipal também fazem parte desse trabalho do artista. (com assessoria)

SERVIÇO:

O QUE: "Exposição Casas da Gente Chapadense", do artista José Pereira

QUANDO: de 01 a 28 de março

ONDE: Pellegrim Galeria de Arte, na praça Dom Wunibaldo, sala 02, em Chapada dos Guimarães

HORÁRIO DE VISITAÇÃO: Quinta-feira a Sábado das 9 às 20h e Domingo das 9 às 17h