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O Liberal (PA)

Sem medo dos desafios (1 notícias)

Publicado em 15 de agosto de 2004

Por JAQUELINE ALMEIDA - Especial para o Caderno Mulher
Aos 16 anos, 11 anos atrás, a paraense Carolina Mattos Affonso começou uma jornada que mostra que ela não tem medo de desafios ou de fazer coisas que chamem a atenção dos amigos e da família. Precoce, entrou no curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Pará na primeira tentativa e hoje, aos 27, ostenta um currículo invejável. Mestre em Engenharia Elétrica e às vésperas de obter o título de doutora na área, com o subtema Sobre Critérios de Estabilidade de Tensão. Carolina também já deu aulas na Universidade de Campinas (Unicamp), onde vai concluir o doutorado e provavelmente ingressar num pós-doutorado, antes de completar 28 anos. Ela diz que pensa voltar a Belém se aqui houver oportunidades. Em meio a tantos estudos, Carolina já acumula também uma boa experiência no exterior. Já fez um doutorado sanduíche (curso em módulos) na Universidade de Alberta, no Canadá. Este ano representou a Unicamp na Grécia onde apresentou um trabalho sobre engenharia elétrica em Rodes. Desde 2000 publica artigos e colunas em revistas norte-americanas e de países de língua espanhola. Há dois anos, como se não bastasse a carga de estudos e as atividades profissionais, Carolina se casou. O compromisso e a casa em Campinas não assustam a engenheira, assim como o fato de ser mulher e se destacar numa área dominada pelos homens. Como ela mesmo diz na entrevista abaixo, feita pelo telefone, leva os compromissos com tranqüilidade e sempre olhando para frente. Você pensa em se radicar em São Paulo ou gostaria de voltar para Belém? Não tenho problema quanto a morar aqui ou em Belém. Mas ainda não está nada certo. Não há uma porta fechada, pelo menos não de minha parte com relação a voltar a morar em Belém. Eu acho que poderia ser mais fácil em Belém por eu já ter estudado na Universidade Federal do Pará e conhecer muita gente, ter contato com os professores, mas só isso. Em algum momento você se sentiu mate cobrada por ser mulher em uma área ainda dominada pelos homens? Eu sempre gostei e nunca pensei muito se era uma coisa de homens ou mulheres. Acho que por isso mesmo nunca percebi nenhuma diferença no trabalho ou na sala de aula. Nunca fui a única mulher da turma, mas éramos poucas, três ou quatro. A cobrança sempre foi a mesma entre nós e os homens, acho que talvez por sermos poucas mesma. Você é casada. Como equilibra a vida de casada com o tempo que tem que dedicar ao doutorado? É uma vida corrida, saímos de manhã cedo e só voltamos à noite, mas até agora, sou casada há dois anos e tem sido tudo tranqüilo. O meu casamento foi aí em Belém, mas minha mãe me ajudou a organizar tudo, então não foi difícil e em nenhum momento o casamento ou a vida de casada atrapalharam meus estudos. Você pensa em ter filhos? Sim, porém mais pra frente. Agora estou concentrada na defesa da minha tese. Quais são suas perspectivas profissionais? Eu estou tentando fazer pós-doutorado aqui mesmo na Unicamp. Enquanto isso, é esperar aquela coisa de concurso para dar aula ou fazer pesquisas. Você Já fez um mestrado sanduíche nos Estados Unidos. Você pensa em voltar a estudar no exterior? Talvez sim, mas agora não. Estou querendo ficar por aqui. Quais suas experiências profissionais até agora? Eu trabalhei na Celpa aí em Belém, foi minha experiência profissional. Mas eu descobri que gosto mesmo de estar na universidade, dando aula ou fazendo pesquisa. Aqui na Unicamp (Universidade de Campinas), eu participei do Programa de Estágio Docente (PED) dando aulas aos alunos da graduação em Engenharia. Você acha que há uma maior dificuldade para os estudantes que estão no Pará? O problema não é a distância geográfica. A questão é que o pólo está aqui, o dinheiro circula muito mais, então é mais fácil conseguir bolsas. Aqui, a gente tem muitos incentivos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), então acaba sendo mais fácil. Isso não tem a ver com uma maior dificuldade para quem está em Belém.