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Programa Biota: Rumo a 2020 (1 notícias)

Publicado em 08 de junho de 2009

Por Fábio de Castro

Agência Fapesp

Mais de 200 pesquisadores ligados ao Biota-FAPESP discutem o planejamento do programa para os próximos dez anos. Algumas das metas são a integração com áreas de genômica e modelagem, ênfase em ações educacionais e investimento em coleções biológicas.

O Programa Biota-FAPESP de pesquisa sobre a biodiversidade comemorou uma década de existência com o workshop BIOTA+10: definindo metas para 2020. O evento foi encerrado na última quinta-feira (4/6) com uma reunião na qual mais de 200 pesquisadores envolvidos com o programa realizaram um balanço das atividades iniciadas em 1999 e fizeram um planejamento para os próximos dez anos.

Maior integração com as áreas de biologia molecular, ênfase no desenvolvimento e uso de modelos matemáticos, prioridade para ações educacionais e investimento no aprimoramento das coleções biológicas são algumas das metas traçadas pelos cientistas que, divididos em oito grupos temáticos, avaliaram e definiram rumos do programa.

Segundo Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-FAPESP, a reunião refletiu uma das principais características do programa, que é o diálogo com a comunidade científica.

“É uma tradição do Biota, desde que ele começou a ser planejado, promover continuamente uma discussão com os pesquisadores que trabalham na área para definir metas, prioridades e ações importantes para o programa. Acreditamos que, nesse momento de comemoração de dez anos, seria importante fazer uma avaliação retrospectiva e começar a pensar no futuro”, disse à Agência FAPESP.

Durante a reunião, os pesquisadores se dividiram em oito grupos de trabalho sobre os seguintes temas: “Inventários, DNA e estudos filogeográficos”, “Genômica”, “Biodiversidade marinha e de manguezais”, “Ecologia aplicada e dimensões humanas da conservação da biodiversidade”, “Funcionamento de ecossistemas, mudanças climáticas e biocombustíveis”, “Educação”, “BIOprospecTA” e “Transferência de conhecimento”.

Joly, que é professor titular do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta que um dos pontos enfatizados pelos grupos de forma generalizada foi a necessidade de uma interação maior com a área de biologia molecular.

“O Estado de São Paulo investiu muito na área de genômica, capacitou muitos pesquisadores de centros de pesquisas nessa área e agora acho que é o momento de termos uma interação maior dela com o Biota, a fim de usar parte dessas ferramentas como mecanismos para fazer inventários de microrganismos, estudar a evolução de espécies e criar marcadores moleculares. Essa integração é algo que irá de fato acontecer”, afirmou.

Outra prioridade é o aumento da interação com especialistas em modelagem. “Seja a modelagem relacionada ao que ocorreu no passado – como a evolução e a formação dos biomas, para compreender a situação que encontramos hoje –, seja a modelagem do que acontecerá no futuro, com os possíveis cenários de mudanças climáticas”, disse.

Para isso, segundo Joly, os bancos de dados do Biota precisarão adquirir capacidade de exportar ou importar informações dos modelos climáticos para que se possa observar o que poderia ocorrer com distribuição de espécies: por exemplo, se haveria uma tendência de migração de alguns grupos importantes de organismos para o sul.

“Isso é feito hoje por nós de forma pontual, procurando projetar o que pode ocorrer com uma determinada espécie. Mas se fazemos isso com uma árvore, precisamos saber sobre a árvore, sobre o polinizador, sobre o dispersor e sobre o resto das árvores com as quais ela interage. Ainda não temos essas capacidades e o pessoal da área climática tem desenvolvido alguns modelos com supercomputadores que nós também precisaremos utilizar”, explicou.

Coleções biológicas

Um aspecto pontuado por todos os grupos de trabalho no workshop foi a necessidade de uma ação mais afirmativa na área educacional. “Nos referimos à educação em sentido amplo – produzir material que possa ser usado tanto na rede de ensino fundamental e médio, como para a divulgação voltada à sociedade em geral”, disse.

Segundo Joly, será preciso discutir minuciosamente como traduzir os dados técnicos em uma linguagem com a qual o programa consiga mobilizar a sociedade, mostrando a ela o que os pesquisadores estão produzindo em termos de conhecimento da biodiversidade.

“Tivemos em alguns momentos iniciativas como exposições e vídeos, mas precisamos de algo mais organizado e sistemático, encarado como uma prioridade”, disse.

A questão das coleções biológicas também foi levantada como prioritária para o futuro do programa. “O Biota investiu bastante na informatização e na melhoria das coleções, mas trata-se de uma demanda que continua. Essa necessidade de investimentos extrapola até o próprio programa. Precisaremos de uma ação de governo capaz de assegurar a proteção desses acervos”, destacou.

Joly cita um exemplo utilizado pelos pesquisadores durante o debate para destacar a importância de se preservar as coleções biológicas: se um laboratório de uma área de pesquisas em exatas fosse incendiado, poderia ser reconstruído, apesar do prejuízo. Mas, se um herbário pegasse fogo, todo o material seria perdido para sempre.

“Não se poderia mais coletar material semelhante, pois as áreas de onde ele era proveniente já foram alteradas e eventualmente algumas espécies não existem mais. É algo irrecuperável. Temos uma deficiência imensa, no Brasil, na preservação dessas coleções. São Paulo tem uma situação muito melhor em relação a isso, mas mesmo assim os investimentos são imprescindíveis”, afirmou.

De acordo com Joly, foi também consenso entre os integrantes do Biota o fato de que as linhas de estudo atuais do programa devem permanecer ativas, ainda que novas abordagens passem a ser exploradas.

“Muito do que o Biota vinha fazendo está dando muito certo, trazendo muitos resultados e, portanto, devemos continuar fazendo aquilo para o que temos competência. Devemos estender os inventários para áreas do Estado que ainda não conhecemos”, disse.

“Queremos realizar mais trabalhos em cooperação com grupos em estados vizinhos. E queremos expandir os estudos, por exemplo, na área marinha, na qual trabalhamos muito bem o litoral norte, agora precisamos estender para o sul”, ressaltou.

Crédito da imagem: F. Castro

(Envolverde/Agência Fapesp)