Milton Flavio As carências, insuficiências, deficiências e desigualdades são nossas velhas conhecidas.
Nossas e deles, os governantes que a cada quatro anos assumem o poder carregando consigo, via promessas eleitorais bem elaboradas, as esperanças daqueles que, com seu trabalho e suor, constroem o país sem poder usufruí-lo.
Infelizmente o que vem depois igualmente é conhecido por todos e, mais ainda, por aqueles que necessitados depositaram com seu voto, mais uma vez, a expectativa que desta vez tudo vai melhorar.
Acostumei-me com as comemorações, festas e discursos feitos tão logo anunciados os resultados e reconhecidas as vitórias.
Nós e eles, as palavras mais pronunciadas.
Eles, aqueles que deixam o poder, derrotados pelas urnas e pela má gestão. E nós, ungidos pelas urnas, os que compromissados com as necessidades, respaldados pelos votos e incensados pelas palavras, os que farão acontecer.
Amanhã sobrarão empregos, nossos jovens chegarão às Universidades, todos teremos pelo menos três refeições ao dia.
Mulheres, negros, gordos e diversos étnicos, sociais, sexuais e ideológicos seremos igualmente respeitados e o paraíso será finalmente compartilhado por todos.
Diferentemente da Arca de Noé, agora e neste novo momento, pós dilúvio, não apenas um representante por espécime, mas todos teremos lugar e espaço no novo mundo prometido.
Infelizmente, e sempre acontece assim, tem o dia seguinte.
Não falo dos garis limpando a sujeira deixada pelos convidados especiais, menos ainda das enxaquecas decorrentes das bebidas de péssima qualidade oferecidas a granel nas festas oficiais e nas petit comitê.
Falo das segundas feiras, que sucedem aos domingos. Dos dias seguintes que chegam depois dos feriados e da realidade a ser enfrentada pelos políticos, secretários, ministros, governadores e presidente depois da festança e comemoração.
Incrível a rapidez como descobrem a dura realidade que ignoraram nas campanhas, na transição e até mesmo nos discursos das posses.
Seus olhares, dizeres e acenos se dirigem agora para os poderosos que com seu apoio podem lhes garantir, se não vida fácil, pelo menos tempo para respirar e pensar como enfrentar a realidade que o cidadão, o eleitor e, principalmente, o desassistido e desempregado enfrenta todos os dias e há muito tempo.
Não estou pedindo soluções mágicas e menos ainda respostas imediatas a problemas ancestrais.
É verdade que prometeram mas os céticos como eu nunca acreditaram e ou levaram a sério.
O que peço e insisto é que abram os seus ouvidos e disponham-se a aprender.
No país há muitos que podem colaborar com trabalho, ideias e iniciativas.
Não é pedir muito sugerir a humildade aos que governaram muitos e por muito tempo, que com suas ideias e limitações tem responsabilidade no que de pior temos aqui.
* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Sobre o autor: Milton Flavio é professor aposentado da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, ex-subsecretário de Energias Renováveis do Estado de São Paulo, e hoje é Assessor da Presidência da FAPESP