Um quilo de petróleo vale, agora, nesta média diária de junho, na Bolsa de Londres, exatos US$ 0,17. Um quilo de ouro, na bolsa ao lado, em Londres, está cotado a US$ 10.122. Um quilo de cocaína genuína, segundo consta em Nova York, não sai ou não entra em qualquer mercado por menos de US$ 140 mil. Pois um quilo de hormônio do crescimento humano, sintetizado pela moderna engenharia genética, já está acima de US$ 20 milhões.
Essa comparação esdrúxula (eta, palavrinha esdrúxula) tem tudo a ver com a crescente relevância científica, econômica e estratégica dos arroubos da chamada bioeconomia, na garupa chipada da infoeconomia. Promessas de exploração monitorada e sustentável do patrimônio coletivo da biodiversidade universa.
Ocorre que o Brasil, gigante ainda deitado, é o titular soberano do maior repositório de biodiversidade do planeta, tal como a gente aprende na escola primária e declina no Hino Nacional. A novidade está nos primeiros ensaios de valoração econômica da biodiversidade verde-amarela.
Bem, há que se dar um desconto à chutometria que embasa simulações do gênero. A primeira delas é a suposição de que temos no território nacional, com sobras para a plataforma continental, uma fauna e flora de aproveitamento econômico a futuro da ordem de US$ 2,4 trilhões. Uau!
Esse número transitou em relatórios e manifestos encaixados na vasta agenda da Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, ano passado, na África do Sul. Longe ou perto da verdade, a ser considerada por volta de 2040, se tanto, o certo é que a biodiversidade brasileira, para além da Amazônia, equivale a um cheque visado, para saque futuro, emitido pela natureza em nome do Brasil. Ou como costumo dizer lá em casa: "Ah! Como eu gostaria de ser neto de mim mesmo!'
Do afluente mercado global do crédito de carbono, a partir do Brasil, aos recentes gols de placa da genômica brasileira, o importante é que, malgrado ainda deitados, já estamos acordados em nosso berço esplêndido. Esforço e talento são as moedas de ouro dos nossos pesquisadores. As moedas de chumbo ainda são o suporte institucional poroso e o capital de risco escasso.
Caso, por exemplo, do domínio do genoma do zebu brasileiro, boi de capim. Projeto da Fapesp estatal, orçado em US$ 1 milhão e bancado pela parceria privada Central Bela Vista Genética Bovina, é uma corrida contra o relógio do genoma bovino americano, boi de ração. O projeto deles acaba de ser amarrado no Texas por um contracheque privado de US$ 50 milhões.
Pêlo nelore
Nosso primeiro genoma bovino privilegia o zebu nelore, raça de maior extensão em nosso rebanho de 167 milhões de cabeças. A ordem é identificar genes de maior potencial para desenvolver e democratizar a reputação do nelore em sanidade, rusticidade, produtividade e qualidade da carne.
Rede Onsa
Chamado Genoma Funcional do Boi, o projeto mexe com os 20 laboratórios da Rede Onsa, instituto virtual de genômica criado em 1997. A Fapesp espera concluir o seqüenciamento genético e a análise funcional até o final de 2003.
Em parceria
O modelo de genômica brasileiro apóia-se na parceria da atividade acadêmica com a iniciativa privada. Caso do Forest, projeto de genoma do eucalipto, em parceria com Ripasa, Suzano, Duratex e Votorantim (VCP). Ela também atua como incubadora de empresas de biotecnologia de origem acadêmica, tais como Alellyx, Scyla e Cana Vialis.
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