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Microplásticos no meio ambiente (1 notícias)

Publicado em 11 de dezembro de 2024

O uso excessivo de plásticos descartáveis e a fragmentação de objetos plásticos maiores contribuíram para a proliferação dos microplásticos, que são agora considerados um dos maiores desafios ambientais do século XXI

Por: Dra. Patricia Bento da Silva, PhD | Principal Product Specialist – Material Characterization na PerkinElmer do Brasil Analítica*

Introdução

Todos os anos, cerca de 9 milhões de toneladas de plástico entram no meio ambiente, acabando por se decompor nos poluentes que hoje conhecemos como microplásticos . Com uma vida útil de até 450 anos, os microplásticos podem persistir no meio ambiente causando danos à vida marinha e entrada na cadeia alimentar humana através da produção de frutos do mar, por exemplo. Os microplásticos são reconhecidos como um contaminante global preocupante, com o volume de atenção pública e pesquisa acadêmica que aumentam constantemente. Esses pequenos fragmentos de plástico, com menos de 5 milímetros, têm se infiltrado em quase todos os ecossistemas do planeta, desde os oceanos, solo e até no ar. O uso excessivo de plásticos descartáveis e a fragmentação de objetos plásticos maiores contribuíram para a proliferação dos microplásticos, que são agora considerados um dos maiores desafios ambientais do século XXI.

O que são microplásticos?

Os microplásticos são partículas plásticas pequenas, geralmente menores que 5 mm. Eles podem ser classificados em duas categorias: microplásticos primários e secundários. Os microplásticos primários são produzidos de forma intencional em pequenas dimensões, como as microesferas encontradas em produtos de cuidados pessoais (ex. esfoliantes, cremes dentais) e em algumas formas de abrasivos industriais. Enquanto os microplásticos secundários resultam da degradação de plásticos maiores, como garrafas, sacolas e embalagens, que se fragmentam ao longo do tempo devido à exposição ao sol, vento e água. Esses fragmentos acabam se espalhando por ambientes aquáticos e terrestres.

As fontes de microplásticos são diversas e estão frequentemente associadas à sociedade de consumo atual. Algumas das principais fontes incluem:

– Descarte inadequado de plásticos: Objetos como garrafas plásticas, sacolas e embalagens, quando não são devidamente reciclados ou descartados, se quebram e se transformam em microplásticos.

– Produtos cosméticos e de cuidados pessoais: muitas vezes contêm microesferas plásticas, que são levadas para o sistema de esgoto e, eventualmente, acabam em rios e oceanos.

– Fibra sintética de roupas: As roupas feitas de materiais como poliéster, nylon e acrílico liberam microfibras plásticas durante o processo de lavagem.

– Atividades industriais e marítimas: Navios, plataformas de petróleo e fábricas também contribuem para a poluição por microplásticos, seja através do despejo de resíduos plásticos ou pela abrasão de materiais plásticos usados nessas atividades.

Impactos no meio ambiente

A presença de microplásticos nos ecossistemas tem efeitos profundos e duradouros. Entre os impactos mais significativos, destacam-se:

– Contaminação de ecossistemas aquáticos: Microplásticos têm sido encontrados em todos os oceanos do mundo, desde a superfície até as profundezas oceânicas. Eles podem ser ingeridos por uma ampla variedade de organismos marinhos, como peixes, moluscos, crustáceos e plâncton. Essa ingestão pode levar à obstrução do trato digestivo, à desnutrição e até à morte desses animais.

– Bioacumulação e biomagnificação: Além de sua ingestão física, os microplásticos podem absorver toxinas e produtos químicos presentes na água, como pesticidas e metais pesados. Quando os animais marinhos consomem essas partículas, essas substâncias químicas podem se acumular em sua cadeia alimentar, chegando aos predadores de topo, incluindo os seres humanos.

– Danos à fauna terrestre: Embora os oceanos sejam os maiores reservatórios de microplásticos, essas partículas também têm sido encontradas em ambientes terrestres, como solos agrícolas e florestas. Animais terrestres podem ingerir microplásticos ao consumir plantas contaminadas, afetando a saúde desses animais e dos ecossistemas em que vivem.

– Interferência na fotossíntese: Microplásticos em corpos d'água podem afetar a fotossíntese de plantas aquáticas e fitoplânctons, essenciais para a cadeia alimentar marinha e para a produção de oxigênio.

Efeitos na saúde humana

Embora a pesquisa sobre os efeitos dos microplásticos na saúde humana ainda esteja em estágios iniciais, algumas preocupações emergentes incluem: efeitos tóxicos (contaminação química, produtos químicos adicionados ao plástico), inflamação e estresse oxidativo, acúmulo e toxicidade a longo prazo, danos ao sistema digestivo, potencial para desenvolvimento de doenças respiratórias e até para o sistema nervoso central. Além disso, os microplásticos são uma mistura complexa de diferentes tipos de plásticos, tamanhos e formas, o que torna difícil determinar o impacto exato de cada tipo de microplástico no corpo humano.

Medidas para reduzir o impacto dos microplásticos

A conscientização sobre o problema dos microplásticos tem impulsionado esforços para reduzir sua presença no meio ambiente. Algumas das principais abordagens incluem: redução do uso de plásticos descartáveis, inovação em materiais alternativos, tecnologia de filtragem, educação e conscientização.

Conclusão

A poluição por microplásticos é um problema ambiental complexo que exige uma abordagem multifacetada. Embora o problema seja vasto e os efeitos a longo prazo ainda não são totalmente compreendidos, é evidente que a redução do uso de plásticos, o aprimoramento das práticas de gestão de resíduos e a pesquisa em materiais alternativos são passos essenciais para mitigar os danos causados pelos microplásticos. Apenas com uma ação global coordenada será possível enfrentar esse desafio e proteger os ecossistemas e a saúde humana de suas consequências a longo prazo.

* Patricia Bento da Silva é química e Especialista de Produto na área de caracterização de materiais na PerkinElmer do Brasil Analítica. No período de julho/2020 a outubro/2022 atuou como pesquisadora na Universidade de Brasília (UnB), trabalhou no desenvolvimento de nanopartículas de ouro bioconjugadas com anticorpo no Projeto “Nanopartículas de ouro bioconjugadas com anticorpos para a detecção de SARS-COV-2 pela técnica de espalhamento de luz dinâmico (DLS)” e coordenou o projeto CNPq/Universal Nanopartícula multifuncional para o tratamento multifatorial de câncer mamário metastático, e também foi Professora visitante na mesma universidade. Editora da Revista Frontiers in Microbiology e colaboradora de projetos em parceria com pesquisadores em diversas universidades. Possui graduação em Química pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2004), mestrado em Química pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2008), e doutorado em Química Inorgânica (Arar.) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2012). Em 2013 iniciou o pós-doutorado na FCFAr/UNESP concluído em 2018 com bolsas FAPESP e PNPD-CAPES pelos Programas de Ciências Farmacêuticas e Biociências e Biotecnologias Aplicadas à Farmácia, respectivamente. Tem experiência na área de Química, com ênfase em Química Bioinorgânica, compostos de coordenação: síntese e caracterização (FTIR, UV-vis, Raman, TGA, DSC, DLS, HPLC, entre outras técnicas). Na área de microbiologia, no desenvolvimento de novos antibacterianos. Na área de nanotecnologia, no desenvolvimento e caracterização de sistemas lipídicos nanoestruturados, nanopartículas poliméricas, nanopartículas metálicas, funcionalização de nanopartículas, bem como a aplicação dos mesmos na área de microbiologia (bactérias, mycobacterium tuberculosis e fungos) e biologia celular. Tem experiência também em ensaios biológicos in vitro como determinação da atividade antibacteriana e antifúngica, citotoxicidade em linhagens celulares e em modelo alternativo de Artemia salina L., bem como ensaios in vivo de toxicidade aguda, biodisponibilidade, biodistribuição e atividade anti-inflamatória. Com conhecimento e vivência nos últimos anos em metodologias analíticas atualmente tem otimizado protocolos de quantificação de compostos em ensaios de biodistribuição por diferentes métodos. Atuação como Revisora de diversos periódicos internacionais e autora de mais de 70 artigos científicos.

E-mail: patricia.silva@perkinelmer.com