Produzir mais com a mesma área plantada e a mesma moagem. O sonho de qualquer empresário do setor sucroalcooleiro pode estar perto de virar realidade. A Dedini Indústrias de Base, o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) estão finalizando o projeto da tecnologia DHR (Dedini Hidrólise Rápida), que promete um aumento de 44% na produção de álcool com a mesma quantidade de cana. O processo pelo DHR é simples. O bagaço da cana resultante da moagem é tratado quimicamente para separar seus principais componentes: celulose, hemicelulose e lignina. Os dois primeiros são separados e processados para se transformarem na glucose e outros açúcares, que serão depois fermentados e transformados em álcool. A lignina é utilizada como combustível nas caldeiras. A tecnologia está sendo testada de forma experimental na Usina São Luís, em Pirassununga (SP). Acho que dentro de duas ou três safras estaremos com a tecnologia pronta para a comercialização, prevê Antônio Hilst, consultor responsável pelo projeto. Prevê-se um incremento na produção entre 100 e 180 litros de álcool por tonelada de bagaço processada com a tecnologia. Cada 3,5 toneladas de cana processadas normalmente para a produção de açúcar e álcool resultam em uma tonelada de bagaço. Entre os principais entraves encontrados pelos pesquisadores estão a durabilidade dos equipamentos e a estabilidade operacional deles. Não considerado um entrave pelos idealizadores, mas uma constante dúvida dos empresários, é dimensionar o quanto de bagaço será destinado para a hidrólise, uma vez que o subproduto é hoje utilizado para mover toda a indústria e ainda no processo de co-geração de energia elétrica. Hilst afirma que os estudos firmados nesses mais de 20 anos de pesquisa mostram que as usinas hoje acabam utilizando-se de 90% de seu bagaço porque investem pouco no aperfeiçoamento de caldeiras.Com investimentos e utilizando-se da tecnologia desenvolvida principalmente nas décadas de 80 e 90, as usinas passariam a aumentar seus potenciais energéticos, gastando menos bagaço. Essa sobra poderia ser usada na fabricação do álcool pelo processo DHR, destaca o consultor da Dedini. Outra hipótese pesquisada é a utilização nas caldeiras da palha da cana-de-açúcar, o que destinaria quase que a totalidade do bagaço para a produção de álcool. Segundo Hilst, o processo de produzir álcool a partir do bagaço foi pensado inicialmente em 1975 por um pesquisador alemão chamado Kleinert. A Dedini teve contato com a idéia em 1978, começou seus estudos sobre o assunto em 1980 e patenteou o projeto em 1996. A Matemática do DHR O CTC conseguiu quantificar em termos práticos o que a tecnologia DHR apresentaria de resultados nas usinas. Utilizando-se uma indústria referência com uma moagem de 2 milhões de toneladas de cana ao ano, um mix de produção de 45% para álcool e 55% para açúcar e uma caldeira de 83 bar absoluto de pressão, aproveitando também 50% da palha da cana, seria possível produzir no processo DHR 31,4 milhões de litros de álcool ao ano. Somados aos 72 milhões de litros produzidos normalmente pela usina, dentro de uma média de 80 litros por tonelada de cana processada, daria um incremento de 44%. A mesma unidade ainda produziria 99.200 MWh de energia elétrica para comercialização.
Fonte: Revista Energia Brasileira