Há coisas que ficam, para sempre, nas gavetas da alma, presas pela memória afetiva que por alguma razão resolve guardar. É o caso desta história. Luiz Maria Alves chegou a Natal em 1939, ano da deflagração da II Guerra Mundial, vindo de Belém do Pará. Nasceu em 1908, no Amazonas, e cedo passa de estafeta a telegrafista da Western Telegraph. Anos e anos depois, terminaria sendo o gerente aqui, quando os ingleses, chamados à Inglaterra, passaram as gerências aos brasileiros.
A memória não guardou o registro fiel. Não lembro se dia três de setembro Alves já estava em Natal, se viu chegar ou recebeu, ele mesmo, a declaração de guerra da Inglaterra aos alemães. Lembro que contava o zelo do gerente inglês que tinha na sua mesa o despacho telegráfico que a Western transmitiu ao mundo. E na frase que fechava o texto, com aquele timbre solene que só os britânicos sabem dizer com garbo e eloquência: “Good save the King' - “Deus salve o Rei”.
O noticiário em torno da posse do novo rei, Charles III, acabou por acordar essa tão velha lembrança jogada no arquivo morto das recordação inúteis. Quando Elizabeth II subiu ao trono a letra do hino inglês precisou substituir ‘King' por ‘Queen'. Agora, andei lendo, o austero cerimonial britânico vai fazer voltar o ‘Deus salve o rei'. Em nada altera a tradição, se o Rei é homem, integra o corpo nobre das forças ingleses, e se o navio real, por dever, é a nau capitânia em caso de guerra.
Depois, qualquer que venha a ser o destino do novo Rei, caberá sempre aos chefes militares a saudação secular de respeito à monarquia inglesa. Eles, os britânicos, é bom não esquecer, até hoje preservam e defendem a monarquia. O rei é o chefe de estado simbólico do Reino Unido, e vem desde quando ‘no Império Britânico o sol nunca se põe'. As suas possessões estavam em todos os quadrantes da terra e a quem representava o Rei, dizem, recomendava-se respeitar os deuses locais.
Alves era um homem de alma britânica por admiração. Seu rigor no cumprimento de horários - vi editor substituído por atrasar a impressão do jornal - era uma marca. O cachimbo apagado era para tentar deixar de fumar, ele que tragava dois maços de Hollywood por dia. Tinha hábitos eternos: só saia do jornal com um exemplar impresso debaixo do braço, pouco depois de meia-noite; dormia pouco, com a insônia que adquiriu do tempo de telegrafista, e era leitor fiel e diário do Estado de S. Paulo.
Não suportava jornalista medroso. Para ele, o medo era incompatível com a profissão. Dizia, ferino: “Quem nasceu covarde peça a Deus que o mate e ao Diabo que o carregue”. E, se por acaso, notasse que a vaidade andava cercando algum dos companheiros - era assim que tratava a todos, antes mesmo de existir o PT, seguindo Assis Chateaubriand - alisava o bigode espesso e grisalho, e soltava a farpa como se soprasse uma zarabatana veloz e venenosa: “A lisonja encanta os fáceis”.
NUDEZ - A novidade nas redes sociais são as fotos atribuídas à jornalista Renata Vasconcelos revelando sua nudez total. Para os bem aquinhoados no saber das redes, não passam de montagens.
SERÁ? - A perfeição das imagens, revelando a jovem e escultural beleza de Renata, hoje casada e com filhos adultos, vem sendo interpretada como uma ação das aguerridas milícias do bolsonarismo.
RISCO - O prefeito Álvaro Dias corre risco ao anunciar apoio a Fábio Dantas se as pesquisas não apontarem mudança substancial no patamar do candidato. O gesto põe sua liderança em julgamento.
EXEMPLO - O escritor Humberto Hermenegildo localizou e adquiriu vários livros pertencentes ao Instituto Histórico para devolvê-los ao acervo. Um grande exemplo a ser seguido. Viva Humberto!
GESTO - A governadora Fátima Bezerra deu de presente a Chico Buarque, depois da primeira noite de show, uma toalha com o retrato de Lula e um livro da Câmara Cascudo, edição da Universidade.
GRITO - No show da noite seguinte, sábado, Chico gritou no microfone: ‘Viva Câmara Cascudo', numa saudação aos natalenses e norte-rio-grandenses. Ele e o PT levantaram a plateia vários vezes.
FACES - A revista ‘Pesquisa', da Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, mostra em dição temática, outras faces da Independência. Como o papel da ciência, dos índios e dos negros.
ELAS - De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, ao saber das dondocas, animadas e cantantes, no show de Chico Buarque: “São as tucanas do jet. Cantam Chico e votam em Bolsonaro”.
VETADO - O TSE, com todo respeito à legislação eleitoral, só se pronuncia quando provocado ou em transgressões flagrantes, como se sabe. Mas, desta vez, ao proibir Jair Bolsonaro de usar as cenas do 7 de setembro da propaganda eleitoral mostra não conhecer bem a dinâmica da comunicação.
TARDE - Essa decisão do Tribunal Superior Eleitoral pode até atender ao PT ou mesmo a qualquer outro partido de oposição, mas já não terá efeito algum. As imagens das duas multidões, em Brasília e em Copacabana, no Rio, já estão gravadas no imaginário coletivo. A decisão é legal, mas é inócua.
ALIÁS - Não se trata de justificar o uso, nem contestar a decisão do TSE, mas de não desprezar os princípios da dinâmica da comunicação e sua força de persuasão. A proibição não terá eficiência e ainda pode gerar um forte efeito reverso. O proibido reforça. Como o povo diz, o estrago já estava feito.