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Tribuna do Norte (Natal, RN)

Good save the King! (3 notícias)

Publicado em 13 de setembro de 2022

Há coisas que ficam, para sempre, nas gavetas da alma, presas pela memória afetiva que por alguma razão resolve guardar. É o caso desta história. Luiz Maria Alves chegou a Natal em 1939, ano da deflagração da II Guerra Mundial, vindo de Belém do Pará. Nasceu em 1908, no Amazonas, e cedo passa de estafeta a telegrafista da Western Telegraph. Anos e anos depois, terminaria sendo o gerente aqui, quando os ingleses, chamados à Inglaterra, passaram as gerências aos brasileiros.

A memória não guardou o registro fiel. Não lembro se dia três de setembro Alves já estava em Natal, se viu chegar ou recebeu, ele mesmo, a declaração de guerra da Inglaterra aos alemães. Lembro que contava o zelo do gerente inglês que tinha na sua mesa o despacho telegráfico que a Western transmitiu ao mundo. E na frase que fechava o texto, com aquele timbre solene que só os britânicos sabem dizer com garbo e eloquência: “Good save the King' - “Deus salve o Rei”.

O noticiário em torno da posse do novo rei, Charles III, acabou por acordar essa tão velha lembrança jogada no arquivo morto das recordação inúteis. Quando Elizabeth II subiu ao trono a letra do hino inglês precisou substituir ‘King' por ‘Queen'. Agora, andei lendo, o austero cerimonial britânico vai fazer voltar o ‘Deus salve o rei'. Em nada altera a tradição, se o Rei é homem, integra o corpo nobre das forças ingleses, e se o navio real, por dever, é a nau capitânia em caso de guerra.

Depois, qualquer que venha a ser o destino do novo Rei, caberá sempre aos chefes militares a saudação secular de respeito à monarquia inglesa. Eles, os britânicos, é bom não esquecer, até hoje preservam e defendem a monarquia. O rei é o chefe de estado simbólico do Reino Unido, e vem desde quando ‘no Império Britânico o sol nunca se põe'. As suas possessões estavam em todos os quadrantes da terra e a quem representava o Rei, dizem, recomendava-se respeitar os deuses locais.

Alves era um homem de alma britânica por admiração. Seu rigor no cumprimento de horários - vi editor substituído por atrasar a impressão do jornal - era uma marca. O cachimbo apagado era para tentar deixar de fumar, ele que tragava dois maços de Hollywood por dia. Tinha hábitos eternos: só saia do jornal com um exemplar impresso debaixo do braço, pouco depois de meia-noite; dormia pouco, com a insônia que adquiriu do tempo de telegrafista, e era leitor fiel e diário do Estado de S. Paulo.

Não suportava jornalista medroso. Para ele, o medo era incompatível com a profissão. Dizia, ferino: “Quem nasceu covarde peça a Deus que o mate e ao Diabo que o carregue”. E, se por acaso, notasse que a vaidade andava cercando algum dos companheiros - era assim que tratava a todos, antes mesmo de existir o PT, seguindo Assis Chateaubriand - alisava o bigode espesso e grisalho, e soltava a farpa como se soprasse uma zarabatana veloz e venenosa: “A lisonja encanta os fáceis”.

NUDEZ - A novidade nas redes sociais são as fotos atribuídas à jornalista Renata Vasconcelos revelando sua nudez total. Para os bem aquinhoados no saber das redes, não passam de montagens.

SERÁ? - A perfeição das imagens, revelando a jovem e escultural beleza de Renata, hoje casada e com filhos adultos, vem sendo interpretada como uma ação das aguerridas milícias do bolsonarismo.

RISCO - O prefeito Álvaro Dias corre risco ao anunciar apoio a Fábio Dantas se as pesquisas não apontarem mudança substancial no patamar do candidato. O gesto põe sua liderança em julgamento.

EXEMPLO - O escritor Humberto Hermenegildo localizou e adquiriu vários livros pertencentes ao Instituto Histórico para devolvê-los ao acervo. Um grande exemplo a ser seguido. Viva Humberto!

GESTO - A governadora Fátima Bezerra deu de presente a Chico Buarque, depois da primeira noite de show, uma toalha com o retrato de Lula e um livro da Câmara Cascudo, edição da Universidade.

GRITO - No show da noite seguinte, sábado, Chico gritou no microfone: ‘Viva Câmara Cascudo', numa saudação aos natalenses e norte-rio-grandenses. Ele e o PT levantaram a plateia vários vezes.

FACES - A revista ‘Pesquisa', da Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, mostra em dição temática, outras faces da Independência. Como o papel da ciência, dos índios e dos negros.

ELAS - De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, ao saber das dondocas, animadas e cantantes, no show de Chico Buarque: “São as tucanas do jet. Cantam Chico e votam em Bolsonaro”.

VETADO - O TSE, com todo respeito à legislação eleitoral, só se pronuncia quando provocado ou em transgressões flagrantes, como se sabe. Mas, desta vez, ao proibir Jair Bolsonaro de usar as cenas do 7 de setembro da propaganda eleitoral mostra não conhecer bem a dinâmica da comunicação.

TARDE - Essa decisão do Tribunal Superior Eleitoral pode até atender ao PT ou mesmo a qualquer outro partido de oposição, mas já não terá efeito algum. As imagens das duas multidões, em Brasília e em Copacabana, no Rio, já estão gravadas no imaginário coletivo. A decisão é legal, mas é inócua.

ALIÁS - Não se trata de justificar o uso, nem contestar a decisão do TSE, mas de não desprezar os princípios da dinâmica da comunicação e sua força de persuasão. A proibição não terá eficiência e ainda pode gerar um forte efeito reverso. O proibido reforça. Como o povo diz, o estrago já estava feito.