Por Alex Sander Alcântara, da Agência Fapesp
A doutoranda Carolina Salinas de Souza, do Departamento de Morfologia e Genética e do Instituto de Oncologia Pediátrica/Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ganhou dois prêmios por trabalhos apresentados durante o 12º Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica, realizado de 29 de setembro a 2 de outubro em Curitiba.
Carolina recebeu o Prêmio Onco pelo trabalho "Expressão dos genes MMP9 e CXCR4 no direcionamento pulmão-específico de metástases de osteossarcoma" e o Prêmio Rhomes Aur por "Expressão de genes relacionados ao perfil metastático do osteossarcoma". Os dois receberam pontuação máxima na avaliação. Não houve outros ganhadores.
Carolina é autora principal dos trabalhos, que correspondem à sua tese de doutorado, com Bolsa da FAPESP, que será concluído em 2011. Ambos os prêmios visam a estimular a pesquisa na área de oncologia pediátrica. Além de certificados, ela receberá uma quantia em dinheiro pela premiação no Onco.
O estudo tenta identificar genes relacionados ao osteossarcoma, tumor ósseo maligno e agressivo de alta capacidade metastática cuja maior incidência é em crianças e adolescentes. A doença se manifesta principalmente no fêmur e na tíbia.
De acordo com Silvia Regina Caminada de Toledo, coordenadora do Laboratório de Genética do Instituto de Oncologia Pediátrica-Graacc e orientadora do estudo, esse tumor é um grande desafio da oncologia pediátrica porque, no mundo inteiro, só cerca de 10% das crianças são metastáticas quando fazem diagnóstico.
No Brasil, o número chega próximo de 30%, mas não se sabe os motivos dessa diferença. "A hipótese é que esse tumor, na sua origem, já tenha a programação para que o processo metastático se estabeleça, inclusive preparando o microambiente pulmonar para receber essas células e talvez exista aí alguma diferença nos tumores brasileiros", disse Silvia à Agência FAPESP.
O estudo de Carolina tenta identificar quais são os possíveis marcadores do osteossarcoma no grupo de amostras brasileiras. A partir de amostras metastáticas de pacientes com o câncer foi possível identificar seis genes. Quatro deles (RB1, RANKL, MDM2 e Oxterix) estão relacionados ao processo metastático do osteossarcoma e os outros dois (MMP9 e CXCR4) estão diretamente ligados a metástases de osteossarcoma para o pulmão.
Em mais de 90% dos pacientes metastáticos, o órgão onde ocorre a metástase é o pulmão. "Pouco se conhece sobre os mecanismos moleculares de direcionamento de metástases específicas para o pulmão. Por isso, torna-se necessária a caracterização dos genes e vias moleculares que determinam se uma célula tumoral terá a capacidade de formar metástase nesse órgão", explicou Carolina.
"Os trabalhos premiados focam na parte molecular, que já está avançada. A análise citogenética ainda está em andamento", disse. O estudo é uma continuação de três outros projetos apoiados pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular e coordenados por Silvia.
Segundo a orientadora, há 20 anos não se tem uma droga nova e uma mudança do perfil de tratamento nos pacientes com osteossarcoma. "O tratamento é feito com quimioterapia pré-operatória, cirurgia, quimioterapia pós-operatória e, se o paciente tiver metástases, essas são então retiradas antes do fim do tratamento" disse.
Atualmente o protocolo de tratamento do osteossarcoma do Grupo Brasileiro de Tratamento do Osteossarcoma (GBTO), coordenado pelo professor Sergio Petrilli, da Unifesp, associa a quimioterapia em baixas doses à de altas doses, chamada quimioterapia metronômica.
"O objetivo é tentar controlar o processo de formação de novos vasos (angiogênico). Mas esse protocolo ainda está em avaliação de sua eficácia nos pacientes com osteossarcoma", disse Carolina.
(Envolverde/Agência Fapesp)