Caxias do Sul - Uma das cadeiras da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, foi ocupada ontem pela astrônoma e astrofísica caxiense Thaisa Storchi Bergmann, 54 anos. Por seu trabalho, publicações e conquistas, Thaisa foi indicada para a ABC na área de Física. Como acadêmica, terá sob sua incumbência a função de disseminar a ciência com mais intensidade entre as novas gerações.
- Os membros da ABC esperam da gente, a partir de agora, uma atuação política voltada a promover a ciência principalmente para os jovens. Fico feliz porque é um reconhecimento da comunidade científica em relação ao nosso trabalho, mas é também uma grande responsabilidade - considera Thaisa.
Ser astrônoma não constava nos planos da caxiense, mas a curiosidade e a vontade de pesquisar o que surgia em sua volta sempre a seduziram, desde pequena. Ciências é uma disciplina que ela começou a curtir no antigo ginasial, cursado no Colégio Madre Imilda. Mesmo gostando da disciplina, ela fez vestibular para Arquitetura em Porto Alegre.
Nos primeiros seis meses de estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), percebeu que seu negócio não era projetar prédios e demais espaços mas, sim, pesquisar o que o céu e as estrelas escondem.
Thaisa foi levada à Astronomia a partir do convite um professor. Ele era apaixonado pela área e conseguiu fazê-la também se encantar. Enquanto fazia o pós-doutorado na área de Astrofísica nos Estados Unidos, estudando as galáxias (conjunto de bilhões de estrelas) ativas, Thaisa fez uma importante descoberta: a existência de um buraco negro em atividade (engolindo matéria) numa galáxia próxima.
As observações da pesquisadora eram feitas do Observatório Interamericano Cerro Pololo, no Chile. Ao perceber o fato, entrou em êxtase e achou que nem era verdade. Refez as observações e a descoberta estava clara e em suas mãos.
- Desenvolvi meu trabalho pela ciência, mas acabei tendo sorte. Essa descoberta é resultado de um grande esforço. A área científica é árdua. Não se chega aos resultados de maneira fácil. Leva tempo até se chegar ao nível de uma contribuição original. Mas, quando o retorno vem, é maravilhoso. É gratificante descobrir algo que contribuirá com a ciência - relata Thaisa.
Depois de muitas noites passadas fora de casa para observar o céu, a filha dos caxienses Ladyr Dinarte Storchi, 83, e Iria Cesa Miliani Storchi, 76, acredita que tinha o vírus da ciência consigo desde pequena, quando brincava com seus laboratórios de Química e Biologia. Para a família, a opção pela área causou um pouco de estranheza. Agora, o marido Renan Bergmann e os filhos Bruno, 27, Frederico, 25, e Arthur, 13, estão acostumados com o trabalho da mãe. Bruno e Frederico, inclusive, nasceram quando Thaisa fazia seu doutorado, nos anos 1980.
- 1977: concluiu a graduação em Física (bacharelado) pela UFRGS
- 1980: completou o mestrado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
- 1987: terminou o doutorado em Física pela UFRGS
- 1991: encerrou o pós-doutorado na Universidade de Maryland (EUA) e no Instituto do Telescópio Espacial, estabelecendo várias colaborações
Atividades
- É professora associada do Instituto de Física da UFRGS, no Departamento de Astronomia, e chefe do grupo de pesquisa em Astrofísica
- Presta assessoria ao Laboratório Nacional de Astrofísica (em especial ao Projeto Gemini), sendo atualmente membro do Comitê Supervisor da AURA (Association of Universities for Research in Astronomy) para o Observatório Gemini. Também presta assessoria científica à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), à CAPES, ao CNPq e a revistas científicas Astrophysical Journal, Astronomical Journal, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, Astronomy e Astrophysics, Ciência Hoje e Revista da FAPESP
- Tem experiência na área de Astrofísica, com ênfase em Astrofísica Extragalactica, atuando principalmente nos seguintes temas: galáxias ativas, galáxias starburst, buracos negros supermassivos região nuclear de galáxias população estelar e gás emissor.