No momento em que a agroenergia está no centro das atenções da produção rural, o Brasil Ó estuda novas fontes para a geração do etanol.
O álcool de celulose, feito a partir do bagaço da cana, por exemplo, e mais barato do que o produto feito a partir do milho, cita a pesquisadora Lidia Maria Pepe de Moraes, professora de biologia molecular da Universidade de Brasília (UNB). "Podemos usar também re de soja que não são aproveitados para farelo ou óleo, assim como a palha do milho ou do arroz. E isso tudo sem aumentar a área plantada com cana. As gramíneas, em geral, servem para o etanol, e quem cria gado pode usar uma área para o pasto e outra para a produção do álcool", explica a especialista.
O etanol produzido no mundo — à base de cana no Brasil, beterraba na Europa e milho nos Estados Unidos — não e suficiente para atender a procura mundial por energia. Estudos mostram que em 2025 a demanda mundial por gasolina será de 1 ,7 trilhão de litros ao ano. No Brasil, a demanda por álcool deve chegar a 205 bilhões de litros em 2025, caso o Pais consiga atingir a meta de substituir 10% da gasolina consumida no mundo todo. Para se ter uma idéia, na safra 2006/2007, foram gerados 17,6 bilhões de litros de álcool com uma área de cana de 6,19 milhões de hectares. "Ou seja, a área com cana deveria passar dos 60 milhões de hectares até 2025 e isso é inviável", destaca a professora Lidia.
Hoje o protagonismo da cana-de-açúcar é realidade, ba e é mais barato obter etanol a partir dessa que a diferencia na produção do composto gerador de energia é o alto rendimento agrícola e industrial.
Alem disso, tanto amido enquanto celulose precisam ser fermentados para obtenção de açucares simples para depois serem transformados em etanol. A cana dispensa esse processo. A questão é a cerca de 38% do conteúdo energético da cana não têm aproveitamento adequado. As estimativas de custos de produção apontam que um litro de etanol de cana custa em media US$ 0,34. O derivado de milho custaria cerca de US$ 0,50 e o de celulose por volta de US$ 1,10
Frederico Durães chefe geral da Embrapa Agroenergia ressalva que o etanol de milho é uma tecnologia madura nos Estados Unidos. Não apresenta, portanto, tendência de uma redução significativa nos seus custos A grande aposta para isso no momento e o etanol de celulose Atualmente e mais caro converter material celulósico em etanol por causa do extensivo processamento requerido", avalia. Entretanto, a obtenção do álcool a partir da celulose traz a possibilidade de combinação de o etanol feito a partir sua produção e de disponibilidade de biomassa de baixo custo, como é o caso dos resíduos e do bagaço da cana. Essa característica, acrescenta o pesquisador, dá ao modelo celulósico três importantes funções: condicionador de solos, co-gerador de energia, além de, é claro, ser- vir para a produção do etanol. "Em países de clima tropical, como o Brasil, a celulose terá um papel complementar na matriz, ela fará parte do processo", acredita Durães.
A produção por meio da celulose não deve ficar restrita a determinadas regiões ou climas, já que é grande a diversidade de matérias-primas que podem ser empregadas, lembra a professora Lídia Maria. "Esse ponto é fundamental para o produtor, que pode ter uma nova e alternativa fonte de renda na propriedade", salienta.
Pesquisa é fundamental — Para produzir etanol de celulose em escala é preciso prioritariamente investir em pesquisa. Um dos grandes desafios, segundo a pesquisadora da UNB, é aproveitar integralmente os materiais lignocelulósicos, que são formados por celulose, hemicelulose e lignina. "Os dois primeiros servem para a produção de álcool, enquanto a lignina pode ser transformada em energia a vapor", ensina Lídia. Na opinião dela, o Brasil precisa apressar seus projetos na área, até porque os europeus e os norte-americanos estão investindo pesado nesse tipo de pesquisa. "Precisamos aproveitar o fato de termos o bagaço da cana totalmente ao nosso alcance para essa produção", conclui a professora.
No País, algumas instituições de pesquisas e universidades mantêm projetos nessa linha de pesquisa. No próximo ano, a Petrobrás deve inaugurar uma planta piloto para produzir álcool a partir de lignocelulose. A Dedini, de Piracicaba/SP, uma das maiores fabricantes de equipamentos para o setor de biocombustíveis, também tem investimentos nessa área. O Dedini Hidrólise Rápida(DHR) é um pro cesso de produção do álcool a partir do bagaço da cana. Consiste na utilização do processo de hidrólise, transformando o bagaço em açúcares que, fermentados e destilados, resultam em álcool. A inovação do DHR se deve ao reduzido tempo da reação de hidrólise, apenas alguns minutos, em processo contínuo, possibilitando elevados rendimentos, poucas operações unitárias, mínimo investimento e reduzido custo operacional.
O processo foi desenvolvido a partir do final da década de 80, em laboratório e em escala piloto. A empresa acredita que a tecnologia tem potencial para duplicar a atual produção de álcool por hec tare de cana colhida. Inicialmente, a Dedini desenvolveu e instalou planta-piloto completa e contínua para 100 litros de álcool por dia. Em novembro de 2002, depois da aprovação de um projeto conjunto entre a empresa, a Copersucar e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi implantada uma unidade semi-industrial com capacidade de 5 mil litros de álcool por dia. Esta planta está integrada à Usina São Luiz, em Pirassununga/SP. Com o trabalho nessa unidade, a empresa planeja concluir a definição de parâmetros de engenharia e de dimensionamento para o projeto de uma planta em escala industrial para, nos próximos anos, oferecer a tecnologia ao mercado.