Uma iniciativa pioneira no Brasil reuniu quem estuda, quem consome e quem produz água no I Workshop sobre Contaminantes Emergentes em Águas para Consumo Humano, realizado nesta quarta-feira no Centro de Convenções da Unicamp. Seu organizador, o professor do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química IQ da Universidade, Wilson Jardim, considera o encontro um antigo anseio de procurar entender questões que abordam os principais desafios da análise toxicológica de matrizes ambientais diante dos inúmeros contaminantes em misturas complexas, e que estão traduzidos no projeto temático da Fundação de Amparo ao Ensino e à Pesquisa, Fapesp, sobre a ocorrência de compostos com atividades estrogênicas nos mananciais e águas para consumo humano no Estado de São Paulo. Encabeçado pelo professor Wilson Jardim, o projeto tem como parceiros a Faculdade de Tecnologia de Limeira, a Cetesb e a Unesp de São José do Rio Preto.
Segundo Wilson Jardim, este tema é muito discutido no país mas pouco se sabe a respeito, sobretudo acerca dos vários compostos usados, por exemplo, em nanomateriais, nos protetores solares e nos hormônios sintéticos para contracepção. São vários compostos nãolegislados e sobre os quais ainda existe dúvida se podem, ou não, causar danos à saúde humana e aos ecossistemas. Muitos compostos têm sido classificados como interferentes endócrinos, embora ainda não haja um consenso sobre seus efeitos biológicos em condições naturais. O projeto da Fapesp traça a primeira radiografia de como estão as águas no Estado no tocante à presença destes compostos.
Já nesta terçafeira, o assunto começou a ser avaliado durante encontro na Casa do Professor Visitante, que teve amparo de pesquisadores das Universidades da Flórida e de Madri, e da Agência de Proteção Ambiental Americana. Tal trabalho, pontua Wilson Jardim, tem aspecto inovador porque junta a química e as respostas das atividades estrogênicas com vistas a calibrar os dados que vão surgindo. Com ambos é possível medir o quanto eles se refletem nessas atividades e se o que estávamos procurando compreender interferia nos ensaios de estrogenicidade.
O projeto já está em andamento há mais de um ano e terá duração de três anos no total. Além de Wilson Jardim, que trabalha há duas décadas com a Bacia do Rio Atibaia, participam da pesquisa cerca de 25 alunos, que devem gerar trabalhos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pósdoutorado.
Falando sobre o panorama no Estado, Wilson Jardim refletiu que houve aumento da densidade populacional, mas prossegue pobre a bacia de saneamento. Os mananciais, utilizados como fonte de água para consumo humano, foram se deteriorando em qualidade, de acordo com o especialista, por empregarem os mesmos processos de 50 anos atrás. E estudar os riscos com a participação, no Workshop, de 35% de profissionais que trabalham em concessionárias de água enriquece o encontro, que busca a troca de informações.