Ontem procurei mostrar que a resistência aos ataques ao meio ambiente tem falhado ao dedicar pouco tempo e energia para entregar às pessoas ferramentas para ver os caminhos para mudança e muito esforço em responder à narrativa dos que agem para piorar as mudanças climáticas e comento que temos a ciência e a tecnologia necessárias, mas precisamos dar mais atenção às ciências humanas que são a chave para a civilização agir de fato.
Foi por isso que usei a imagem acima (por Markus Spiske no Unsplash) para ilustrar o post: não nos faltam ferramentas tecnológicas, nos falta articulação popular e pressão para mudar os sistemas de consumo, produção etc. No próprio post faço uma sugestão ao indicar fontes independentes de construção do conhecimento que se espalham por sites, canais e podcasts. Há pouco tempo falei também sobre um tipo de neurose que tem dividido a sociedade pelo medo e pela ignorância e que deve ser compreendida para podermos despolarizar a sociedade em tópicos que não poderiam estar polarizados.
Hoje esbarrei nesse webnário da FAPESP que se inicia justamente apontando que temos as tecnologias e precisamos de ação imediata. Decidi ouvir comentando. Segue o vídeo e meus destaques.
Muita gente não sabe o que é um grupo de trabalho do IPCC o que pode levar a declarações como “Recebi um vídeo de cientista com fama contradizendo…”. Então achei melhor esclarecer que são 278 autores, 354 colaboradores cientistas (29% mulheres), 65 países, mais de 18 mil artigos analisados e mais de 59 mil comentários para revisão. O objeto de estudo desse grupo de trabalho foi a mitigação da mudança climática.
Anote aí para pesquisar: Justiça Climática.
Um avanço que me parece importante é a maior participação de Estados, cidades, ONGs e até corporações nas ações de mitigação.
Também importante é a maior atenção para os impactos das mitigações para setores sociais e econômicos incluindo mudanças no uso do solo.
Tá lá a crítica ao agronegócio e a necessidade de mudarmos o comportamento alimentar para reduzir os impactos ambientais, principalmente relacionado ao transporte e habitação. Se entendi bem significa mais produção local e por agricultura não corporativa.
O investimento em eficiência energética foi pequeno e é um campo com grande importância para a mitigação dos fatores que provocam a mudança climática.
Apesar das taxas de crescimento de emissões dos gases de efeito estufa desaceleraram, mas não diminuíram na última década. Ela mostrou o gráfico que deixa claro o peso dos setores de uso da Terra (agricultura, uso da floresta) e indústrias.
Temos dispositivos tecnológicos necessários para reduzir pela metade as emissões até 2030.
22% das emissões globais são originárias da agricultura, florestas e outros usos da terra, mas esse percentual muda de região para região.
É crucial o conhecimento e o respeito aos direitos de Povos Indígenas e comunidades locais.
Sobre a mudança de hábitos alimentares trata-se de uma mudança que já precisamos fazer de qualquer forma para termos saúde. Recomendo o site e o podcast do O Joio e o Trigo, que já recomendei ontem.
AFOLU: Agricultura, Florestas e Outros usos da terra (Agriculture, Forestry and Other Land Use)
Ao final o Gilberto lembrou que o Brasil foi um dos poucos países que aumentou suas emissões durante a pandemia por causa das queimadas e desmatamento da floresta Amazônica.
O IPCC gera um sumário (TS) que é o documento destinado a ser entendido e assinado por governos e ela sentiu uma dificuldade de convergência muito grande, com o retorno de argumentos antigos, em um momento em que já estamos atrasados e temos que agir rápido. Falta ação política como comentei no post de ontem.
O setor de transporte vai precisar de emissão negativa.
A propósito a matriz elétrica limpa para veículos é um desafio que não é trivial como colocou há pouco tempo a Dianna Cowern do Physics Girl.
Abaixar os custos das energias limpas investindo em pesquisa e desenvolvimento é essencial. Pessoalmente vejo que sobram fontes de onde retirar verbas para isso em uma época em que empresas trilionárias e até indivíduos trilionários começam a se tornar comuns…
Transferência de tecnologia e financiamento para países em desenvolvimento são necessárias, assim como a redução de emissões dos mais desenvolvidos.
Mesmo com as reduções de emissões de gases estufa, teremos que fazer também a Remoção de Carbono (CDR)
Destaquei poucos pontos, mas a apresentação dela está rica em detalhes que vale a pena assistir e ela tratou de um setor que talvez tenha o impacto mais próximo para a maior parte da sociedade brasileira, bem concentrada em metrópoles.
Trabalhou com quase 1700 cenários de mitigação até 2100 e fizeram um zoom em seis.
A apresentação dele é um pouco mais teórica e menos prática, mas muito importante para criar expectativas realistas das nossas possibilidades.
Em alguns cenários podemos passar do limite de 1,5º, mas depois retornar para baixo do limite. Em outros conseguimos manter o aumento abaixo de 1,5º.
Nosso pico de emissão não pode passar de 2025, ou seja, desse ano em diante temos que emitir menos que no ano anterior e com reduções significativas e persistentes atingindo zero de emissão até 2050. Ou seja, quem tem filhos com menos de 30 anos devia se empenhar bastante nas questões climáticas se tem o mínimo de carinho por eles, né?
O modelo desenvolvido pela COPE foi selecionado e aponta a possibilidade de mitigar o aquecimento mesmo diante da dificuldade de reduzir o suficiente os combustíveis fósseis compensando com muita emissão negativa à partir do melhor uso da terra.
Começa depois da apresentação acima por volta de 1h13 do vídeo.