As duas proteínas brasileiras - uma ligada ao desenvolvimento da doença de Chagas e a outra sintetizada a partir da semente de jaca, que está sendo estudada no combate a infecções - voltarão hoje do espaço, na missão STS-83, e serão encaminhadas para análise ao Center for Macromolecular Crystallograpy (CMC) da Universidade do Alabama, em Birmingham. A informação foi transmitida ontem pelo diretor do CMC, Larry DeLucas, ao presidente da Brazsat, João Vaz, que está coordenando o envio ao espaço da primeira experiência biotecnológica brasileira.
O objetivo é a cristalização dos dois tipos de proteínas fora da gravidade. Segundo DeLucas, é possível que algumas delas já começaram a desenvolver cristais em apenas quatro dias de vôo espacial. "Os cristais que já cresceram serão usados para análises de raios-X", disse o cientista. O experimento voltará ao espaço para a sua conclusão ainda neste ano, garante Vaz, mas provavelmente não na próxima missão da Nasa, a STS-84, prevista para 15 de maio. Naquela ocasião serão embarcadas novas proteínas brasileiras.
Devido aos problemas técnicos com a nave espacial Colúmbia, que teve de antecipar a sua volta em doze dias, "pela primeira vez na história vamos poder analisar o que acontece com as proteínas que começaram a crescer no espaço e depois voltam para a Terra", afirmou Vaz. A missão da Nasa começou na tarde da última sexta-feira no Kennedy Space Center, na Flórida, mas já nas primeiras 18 horas de vôo os sete astronautas detectaram falhas na cápsula de combustível que gera eletricidade. A Nasa resolveu então antecipar a volta da missão para não colocar em perigo a vida da tripulação.
DeLucas, técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e funcionários da Brazsat estarão hoje em Cabo Canaveral esperando a chegada do ônibus espacial. Em fax dirigido a Vaz, DeLucas afirma que tomou a decisão "de reativar todas as amostras assim que elas retornem para Birmingham, para que os cristais continuem a crescer no período de 16 dias, conforme originalmente previsto. É possível que algumas das proteínas já tenham começado a se cristalizar em ambiente de microgravidade, e será interessante ver se um cristal que começa a crescer na microgravidade e termina o seu crescimento na Terra é diferente dos cristais que crescem somente aqui". O diretor do CMC antecipa que "dados úteis serão obtidos de várias proteínas envolvidas nos experimentos", mas lamenta que "não teremos a vantagem adicional da microgravidade para melhorar a qualidade do cristal".
A primeira experiência científica brasileira lançada ao espaço a bordo do Colúmbia é parte de um projeto temático coordenado pelo professor Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP de São Carlos, que sintetizou as proteínas, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para o projeto global denominado "Cristalografia, Modelagem Molecular e Planejamento de Substâncias de Interesse Biológico", iniciado em 1994 e com prazo de conclusão previsto para este ano, a Fapesp concedeu ao pesquisador R$ 180 mil. No total, entre auxílio a bolsistas e apoio à pesquisa, a fundação paulista gastou mais de R$ 300 mil com o experimento, disse ontem o diretor presidente da Fapesp, Francisco Romeu Landi, que foi à Flórida para assistir ao lançamento do Colúmbia. Os custos do vôo espacial, estimados entre US$ 800 mil e US$ 1 milhão, foram absorvidos pela Brazsat -única empresa no Brasil especializada em consultoria espacial - e pelo CMC.
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Gazeta Mercantil