Nesta quinta-feira (17), o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse que o governo está investigando se adolescentes foram vacinados com imunizantes não recomendados —AstraZeneca, CoronaVac e Janssen— para o grupo. No momento, a Pfizer é a única vacina que tem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a aplicação em adolescentes de 12 a 17 anos no Brasil.
A revelação foi apontada pelo ministro da saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista coletiva. Na conversa, a pasta exibiu um gráfico (veja aqui) mostrando que foram aplicadas mais de 26 mil doses de vacinas que não foram autorizadas para adolescentes no Brasil. Dessas, 6.921 teriam sido apenas no estado do São Paulo, sendo: 2.356 da AstraZeneca, 4.464 da CoronaVac e 92 da Janssen.
Por isso, o governo anunciou que irá investigar os casos já que a orientação não está entre as diretrizes repassadas aos municípios para a aplicação neste grupo.
Isso pode causar algum risco à saúde?
Primeiro ponto que precisa ficar claro é que, caso confirmem os casos, isso é considerado um erro grave, já que não houve autorização do órgão regulador, a Anvisa.
"O debate é sempre científico, com dados, até que chegue na sociedade. Quando chega, é porque já houve uma discussão entre cientistas, pesquisadores e órgãos. Por isso, devemos respeitar as decisões dos órgãos técnicos", afirma o imunologista Gustavo Cabral, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo)/Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e colunista de VivaBem.
No entanto, Cabral explica que dificilmente as vacinas —CoronaVac, AstraZeneca ou Janssen— vão causar algum risco à saúde dos adolescentes. "No caso da CoronaVac, a gente fica mais seguro porque a tecnologia não é nova, é a que mais conhecemos e utilizamos", diz.
No caso da AstraZeneca e Janssen, ambas com a mesma tecnologia que utiliza o adenovírus, a afirmação é a mesma. "Não deveria ter ocorrido, mas não quer dizer que vai causar qualquer problema à saúde. Inclusive, podemos pensar na mistura de vacinas. Temos muitos dados sobre isso, principalmente envolvendo a AstraZeneca com a Pfizer", diz.
Isso que o imunologista citou é, de fato, bem amparado por estudos recentes. Quando falta a AstraZeneca, por exemplo, a orientação é de aplicar a segunda dose com a da Pfizer.
Em sua coluna, Cabral explica como funciona essa mistura entre imunizantes e de onde surgiu essa ideia durante a pandemia —quando muitos países europeus suspenderam o uso da AstraZeneca após a possível associação dessa vacinação com o aparecimento de casos raros de trombose.
O importante, de acordo com o cientista, é que os responsáveis por este adolescente, primeiramente, mantenham a calma e observem os possíveis efeitos colaterais —os mais comuns são mal-estar, dor no corpo, dor de cabeça e febre. Caso algum sintoma fuja do padrão, aí sim é indicado procurar um atendimento médico.
"Mas a probabilidade de fugir disso é mínima. A CoronaVac, por exemplo, tem efeitos colaterais bem menores", afirma. "Agora, se fugir muito do padrão dos efeitos, é bom procurar um médico, um posto de saúde e informar a situação. Eles vão acompanhar e tomar as providências corretas."