Marisa Moura Verdade
Algumas pessoas agem como vítimas o tempo todo, parecem desamparadas diante dos problemas mais corriqueiros. Muitas vezes, são insistentes para obter atenção e ajuda, visando as próprias dificuldades. Criam imagens de carência como se a vitimização fosse um modo de vida. São os "coitadinhos'' que reclamam de tudo: de não terem sorte, de seu dia a dia ser um poço de problemas, de sempre ter alguém "puxando seu tapete”.
O coitadismo carrega autopiedade e complacência diante dos próprios problemas, decepções, desgostos e responsabilidades. A tendência é ver os outros como a fonte dos seus fracassos e incapacidades. Basicamente, o desejo é que outros assumam o controle da vida pessoal. A questão psicológica dessa vitimização crônica é culpar os outros das circunstâncias atuais da própria vida.
É dificil assumir desafios que sugam energias! As tentativas de apoio são ambíguas - ao mesmo tempo são solicitadas e rejeitadas. Quem tenta ajudar não sabe como lidar com tanta lamentação. O coitadismo leva a um círculo vicioso: quem pede ajuda também pede mais atenção. Pessoas que vitimizam suas vidas costumam abusar da chantagem emocional, sabem como manipular quem está por perto. Estamos na esfera da vitimização crônica.
É bom lembrar que limitações, dores, dificuldades e desafios fazem parte do dia a dia. De modo geral, quem consegue administrar a própria vida sente-se mais seguro, eficiente e realizado. O contrário acontece com quem se percebe incapaz de modificar o modo de pensar, sentir e agir. Diante dos obstáculos é possível escolher entre duas alternativas: tornar-se vítima condicionada por sentimentos de piedade e dó ou transformar a dor em motivação para seguir adiante, enfrentando as barreiras internas e externas.
Geralmente, acolhemos as vitimas reais e suas necessidades de apoio e aconchego. Somos vulneráveis a múltiplas situações que nos tornam vítimas de fato. Não há como escapar dos perigos e das injustiças que impõem impotência, fragilidade e limitação. Quem confronta situações penosas precisa desenvolver resiliência- a capacidade de suportar os desafios que a vida nos impõe, disposição para se recuperar das adversidades e competência para transformar a realidade. Experiências de resiliência implicam reavaliação dos sentimentos de piedade e dó de si mesmo, transformando sofrimentos em motivação para seguir em frente.
Mestre em Educação Ambiental, Doutora em Psicologia, especializada em Psico-Oncologia, pesquisadora do Laboratório de Psicologia Social da Religião do IP-USP. Autora do livro Ecologia Mental da Morte. A troca simbólica da alma com a morte. (Editora Casa do Psicólogo FAPESP. 2006). E-mail: mmverdade@gmail.com