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Correio do Povo (Porto Alegre, RS)

Vírus que adoecem plantas (26 notícias)

Publicado em 14 de junho de 2020

Por Nereida Vergara

As plantas também são organismos vivos sujeitos ao ataque de vírus. No Brasil, foram identificados 219 patógenos capazes de infectar vegetais, muitos da agricultura, como a soja, o café, a cana-de-açúcar, as frutas e os legumes. Resultado de pesquisas desenvolvidas por 25 anos pelo professor do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Elliot Watanabe Kitajima, com respaldo da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o inventário de vírus que infectam vegetais publicado em maio é o maior já feito na história do país. “É um trabalho de décadas, com cerca de 8 mil referências registradas até agora”, salienta o professor Kitajima, agrônomo, na ativa aos 84 anos.

O professor explica que as doenças virais que atacam as plantas raramente são devastadoras, mas não deixam de causar danos à produção agrícola. A lista comentada é organizada por planta hospedeira, em ordem alfabética. Em cada espécie acham-se indicados os vírus e viroides que nela foram encontrados, a infecção natural, sintomas e sua distribuição geográfica. “Estão listadas 345 espécies de plantas, pertencentes a 74 famílias botânicas”, conta o pesquisador, citando como curiosidade o tomateiro, espécie na qual mais vírus foram encontrados (40 no total), seguido do feijoeiro e da batata, com 18 cada. Segundo Kitajima, o inventário é útil para os pesquisadores, mas também para os produtores atentos, que poderão tirar dele informações sobre cada cultura para buscar orientações com os extensionistas, por exemplo.

“Com relação às pesquisas em virologia vegetal, certamente a meta final é entender a virose e propor medidas de controle exequíveis, a baixo custo, e que redundem no melhor produto possível para o consumidor final”, complementa. Para o estudioso, combater os vírus vegetais é umprocesso multidisciplinar, multi- institucional e até multinacional, que requer coordenação e financiamento adequado. “E também um serviço de extensão eficiente”, complementa, reiterando que o conhecimento “permite levantar rapidamente um problema e também divulgar as medidas de controle aos produtores”.

“A revisão de registros de vírus, que vai de 1926 até 2018, resume basicamente tudo o que se conhece sobre vírus de plantas no Brasil, tanto de vegetação espontânea quanto cultivada”, comenta o pesquisador da Fapesp e coordenador do Programa Biota, que financia estudos sobre biodiversidade, Carlos Alfredo Joly. Os dois pesquisadores alertam sobre o risco ampliado da contaminação por vírus em monoculturas. Nestes cultivos, observam, a uniformidade genética faz com que a virose se dissemine muito rapidamente, causando perdas significativas.