Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) detectaram um vírus pouco conhecido – o gemykibivirus-2 humano (HuGkV-2) – em amostras de sangue de doadores de três regiões brasileiras.
Embora não haja evidências de que se trate de uma ameaça transfusional, a descoberta confirma a importância do uso de metagenômica (técnica que analisa todo o material genético contido em amostras de um determinado ambiente, sem isolar os organismos) na área de hemoterapia. O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Transfusion and Apheresis Science
Nas últimas décadas, vírus emergentes e reemergentes que podem ser transmitidos por procedimentos hemoterápicos, como transfusões de sangue, vêm sendo reconhecidos como ameaças à saúde pública. O exemplo mais impactante é o do HIV, causador da Aids, que emergiu na década de 1980 e contaminou derivados sanguíneos em diversos bancos de sangue mundialmente até que seu efeito fosse identificado.
Sequenciamento de última geração e análise do metagenoma viral são técnicas de alto desempenho que podem ajudar a investigar potenciais ameaças e, portanto, se tornar ferramentas úteis e viáveis no Brasil, que ainda não conta com estudos aprofundados sobre o tema.
Em trabalho anterior, o mesmo grupo de pesquisadores, vinculados ao Hemocentro de Ribeirão Preto, associado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), já havia identificado o gemykibivirus humano-2 por análise metagenômica em doadores de sangue positivos para HIV e HBV (causador da hepatite do tipo B) do Estado do Amapá. A descoberta levantou a hipótese de disseminação do agente viral também entre doadores saudáveis. O trabalho atual, que contou com apoio da FAPESP, buscou justamente avaliar essa prevalência.
Para isso, foram investigadas 450 amostras de plasma sanguíneo de doadores sadios obtidas em três regiões brasileiras: 150 do Distrito Federal, 150 do Amapá e 150 do Rio Grande do Sul. A análise feita pela técnica conhecida como PCR (reação em cadeia da polimerase, que permite ampliar e sequenciar os ácidos nucleicos presentes em uma amostra biológica) constatou a presença do vírus HuGkV-2, ainda pouco conhecido pela comunidade científica mundial e sem relação comprovada com efeitos clínicos, mas que levantou preocupação na comunidade científica em 2019, após ter sido encontrado em um paciente chinês com síndrome respiratória aguda inexplicada.
A prevalência geral desses agentes nas amostras avaliadas foi de 7,78% – com 15,33% em doadores da região amazônica, 6% do Centro-Oeste e 2% do Sul.
Análise metagenômica
“É importante lembrar que a metagenômica detecta uma grande abundância de material genético viral em amostras de sangue – conjunto conhecido como viroma humano –, mas isso não quer dizer que esses vírus sejam necessariamente ameaças transfusionais”, explica Svetoslav Nanev Slavov , pesquisador do Instituto Butantan, do Hemocentro de Ribeirão Preto e coautor do estudo. “Para isso, é preciso que atendam a vários requisitos, como serem comprovadamente patogênicos, ou seja, causarem alguma doença no receptor de sangue; serem transmitidos via transfusão; e, por fim, resistirem a todas as condições envolvidas no tratamento dos produtos sanguíneos, como, por exemplo, o uso de radiação ultravioleta.”
“As principais conquistas do projeto são contribuir para a compreensão do impacto dos vírus emergentes na hemoterapia, mostrar a aplicabilidade da metagenômica na área e capacitar pesquisadores brasileiros para trabalhar com esses métodos, incluindo o sequenciamento de última geração”, diz Slavov.
Também participaram do estudo pesquisadores do Centro Universitário Unieuro (Unieuro), em Brasília, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB), do Instituto de Hematologia e Hemoterapia do Amapá (Hemoap), da Universidade Campus Biomédico de Roma (Itália) e da Universidade de Brasília (UnB).
O artigo Molecular identification of the emerging Human Gemykibivirus-2 (HuGkV-2) among Brazilian blood donors pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1473050222002002?via%3Dihub
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND . Leia o original aqui
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Menos de um mês depois da tragédia que provocou a morte de 16 pessoas no Rio Grande do Sul, um novo ciclone extratropical deve se formar no oceano e pode provocar estragos no próximo fim de semana na região Sul do país. Provavelmente, porém, em menores dimensões.
Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, a previsão é que no próximo sábado (8) o volume de chuva fique entre 100 mm e 150 mm. As rajadas de ventos podem atingir 85 km/h.
Já deve chover a partir de sexta-feira (7) por causa da passagem de uma frente fria.
O volume é inferior à média de 200 mm a 300 mm da tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul em 24 horas nos últimos dias 15 e 16 de julho. Mas, segundo a meteorologista, é suficiente para provocar inundações e alagamentos.
A previsão é que os reflexos do ciclone extratropical sejam vistos no leste e no nordeste do Rio Grande do Sul, que inclui a região de Porto Alegre, a Serra Gaúcha e o litoral do estado, além da região serrana e o litoral sul catarinense.
Há risco que Florianópolis, capital de Santa Catarina, também sofra com os estragos provocados pela chuva.
A Defesa Civil gaúcha afirma que a chegada de uma frente fria deverá provocar chuva no Sul do estado já nesta quinta-feira (6) e que irá se intensificar pelo estado na sexta, podendo causar transtornos relacionados ao acúmulo de água e aos temporais.
"Ciclones extratropicais são comuns no Sul do país, principalmente no inverno. Geram muita chuva e ventos fortes", afirma Pegorim
Segundo ela, os ciclones extratropicais se formam em áreas onde a pressão do ar fica mais baixa que a do entorno. A circulação do vento impulsiona a umidade a níveis mais elevados da atmosfera, gerando nuvens de chuva.
"Quanto mais baixa for a pressão, mais fortes são os ventos e mais instabilidade e nuvens carregadas podem se formar no entorno desse sistema", diz.
De acordo com meteorologista, a temperatura mais quente do mar na costa do Sul do país, acima do normal, deve colaborar para a formação de chuva forte. "A água quente faz com que evaporação seja maior. Mais umidade vai ser injetada na atmosfera."
No domingo, o tempo firme deve voltar a predominar na região Sul brasileira.
"Ainda há muitas incertezas em relação à posição e intensidade deste ciclone e também sobre o volume de chuva que poderá causar", afirma a Climatempo.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul diz não ter emitido nenhum alerta sobre a formação de mais um ciclone, porque ainda não foi identificado risco, mas em seu site cita a possibilidade do surgimento do fenômeno meteorológico no litoral norte do estado, mas com volume menor de chuva do que previsto pela Climatempo, de 40 mm a 60 mm.
A sala de situação, explica a Defesa Civil, está há alguns dias monitorando o prognóstico e, se for identificada a necessidade de envio de alertas, será feito.
Em nota publicada no seu site, a Prefeitura de Porto Alegre diz que a Defesa Civil municipal monitora a possibilidade de retorno da chuva intensa à capital gaúcha.
"Até o momento, não há indicativo de que os episódios registrados em junho irão se repetir na capital e não foi identificada a necessidade de emissão de um alerta preventivo", diz na nota o coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior.
Na semana passada, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou a implementação de medidas para auxiliar atingidos pelo ciclone de junho, como o pagamento de um benefício no valor de R$ 2.500 para todas as famílias afetadas.
A temperatura em Porto Alegre deve oscilar entre 12ºC e 26ºC entre esta quarta-feira (5) e o fim de semana, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).