Notícia

O Progresso (Dourados, MS) online

Vírus emergente é detectado em bancos de sangue de três regiões brasileiras (32 notícias)

Publicado em 04 de julho de 2023

Por Julia Moióli Agência Fapesp

Nas últimas décadas, vírus emergentes e reemergentes vêm sendo reconhecidos como ameaças à saúde pública

Ao analisar todo o material genético presente em 450 amostras de plasma sanguíneo de hemocentros do Amapá, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, pesquisadores identificaram a presença do gemykibivirus-2 humano -

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) detectaram um vírus pouco conhecido – o gemykibivirus-2 humano (HuGkV-2) – em amostras de sangue de doadores de três regiões brasileiras. Embora não haja evidências de que se trate de uma ameaça transfusional, a descoberta confirma a importância do uso de metagenômica (técnica que analisa todo o material genético contido em amostras de um determinado ambiente, sem isolar os organismos) na área de hemoterapia. O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Transfusion and Apheresis Science.

Nas últimas décadas, vírus emergentes e reemergentes que podem ser transmitidos por procedimentos hemoterápicos, como transfusões de sangue, vêm sendo reconhecidos como ameaças à saúde pública. O exemplo mais impactante é o do HIV, causador da Aids, que emergiu na década de 1980 e contaminou derivados sanguíneos em diversos bancos de sangue mundialmente até que seu efeito fosse identificado.

Sequenciamento de última geração e análise do metagenoma viral são técnicas de alto desempenho que podem ajudar a investigar potenciais ameaças e, portanto, se tornar ferramentas úteis e viáveis no Brasil, que ainda não conta com estudos aprofundados sobre o tema.

Em trabalho anterior, o mesmo grupo de pesquisadores, vinculados ao Hemocentro de Ribeirão Preto, associado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), já havia identificado o gemykibivirus humano-2 por análise metagenômica em doadores de sangue positivos para HIV e HBV (causador da hepatite do tipo B) do Estado do Amapá. A descoberta levantou a hipótese de disseminação do agente viral também entre doadores saudáveis. O trabalho atual, que contou com apoio da FAPESP, buscou justamente avaliar essa prevalência.

Para isso, foram investigadas 450 amostras de plasma sanguíneo de doadores sadios obtidas em três regiões brasileiras: 150 do Distrito Federal, 150 do Amapá e 150 do Rio Grande do Sul. A análise feita pela técnica conhecida como PCR (reação em cadeia da polimerase, que permite ampliar e sequenciar os ácidos nucleicos presentes em uma amostra biológica) constatou a presença do vírus HuGkV-2, ainda pouco conhecido pela comunidade científica mundial e sem relação comprovada com efeitos clínicos, mas que levantou preocupação na comunidade científica em 2019, após ter sido encontrado em um paciente chinês com síndrome respiratória aguda inexplicada.

A prevalência geral desses agentes nas amostras avaliadas foi de 7,78% – com 15,33% em doadores da região amazônica, 6% do Centro-Oeste e 2% do Sul.