Descoberta acende alerta para implicações em concepção natural e reprodução assistida em face de alterações celulares e extracelulares, assim como ultraestruturais em génadas.
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram, recentemente, que o vírus SARS-CoV-2 pode persistir no organismo de indivíduos por um longo período de tempo, sendo detectado em diferentes partes do corpo, como os pulmões e o cérebro.
Além disso, foi observado que mesmo após a recuperação da infecção pelo vírus, alguns pacientes continuam a apresentar sintomas persistentes e complicações de saúde, tornando-se doentes crônicos. É fundamental realizar um acompanhamento médico regular para monitorar a evolução do quadro clínico e garantir um tratamento adequado para os casos positivos de longa duração.
Estudo revela impacto do vírus em células reprodutivas masculinas
Os resultados de uma pesquisa recente, publicada na revista Andrology, ressaltam a importância de considerar um período de ‘quarentena’ após a doença para indivíduos que planejam ter filhos. Mais de quatro anos após o início da pandemia de Covid-19, é evidente que o novo coronavírus tem a capacidade de invadir e causar danos em diversas células e tecidos do corpo humano, incluindo as células do sistema reprodutivo, com os testículos sendo apontados como um ponto de entrada.
Embora vários estudos já tenham apontado para a maior agressividade do vírus em relação ao trato genital masculino em comparação a outros agentes infecciosos, e mesmo tenham detectado o SARS-CoV-2 nos testículos durante autópsias, a presença do patógeno raramente é identificada nos exames de PCR do sêmen.
Para preencher essa lacuna no conhecimento científico, um estudo recente, apoiado pela FAPESP, utilizou técnicas de PCR em tempo real para detecção de RNA e microscopia eletrônica de transmissão (TEM) para analisar espermatozoides de homens que se recuperaram da Covid-19. Amostras de sêmen de 13 pacientes que tiveram a doença, em diferentes graus de gravidade, foram examinadas, revelando dados interessantes.
Embora todos os pacientes tenham testado negativo para a presença do SARS-CoV-2 no sêmen por meio do PCR, o vírus foi identificado em espermatozoides de oito dos 11 pacientes com casos moderados a graves até 90 dias após a alta hospitalar. Além disso, o vírus também foi encontrado em um dos dois pacientes com Covid-19 leve.
Dentro do grupo estudado, nove pacientes apresentaram o SARS-CoV-2 de forma intracelular nos espermatozoides ejaculados. Dois pacientes mostraram alterações ultraestruturais nos gametas, semelhantes às observadas nos casos em que o vírus foi identificado.
Os pesquisadores destacam que, ao todo, 11 participantes apresentaram presença viral nos espermatozoides. Além disso, observaram que os espermatozoides produzem ‘armadilhas extracelulares’ baseadas em DNA nuclear, onde o material genético se descondensa, as membranas celulares se rompem e o DNA é liberado para fora da célula, formando redes semelhantes às descritas na resposta inflamatória ao SARS-CoV-2.
Jorge Hallak, professor da FM-USP e coordenador do estudo, menciona um mecanismo imunológico conhecido como NET (armadilha extracelular neutrofílica), utilizado principalmente pelos neutrófilos para combater agentes infecciosos. Essas ‘redes’ formadas pelos neutrófilos são uma estratégia de defesa importante do sistema imunológico contra bactérias, fungos e vírus.