Notícia

MSN (Brasil)

Vírus da Covid-19 “superativa” células do cérebro para obter mais energia (84 notícias)

Publicado em 04 de novembro de 2021

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) realizado com hamsters apontou uma possível relação entre a infecção pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2, e processos de aceleração do metabolismo de células do sistema nervoso central e aumento do consumo de moléculas ligadas à geração de energia. Isso poderia justificar eventos de confusão mental e impactos na memória recente de pacientes que tiveram a Covid-19.

A pesquisa foi realizada com animais vivos, que foram infectados via intranasal e monitorados por 14 dias, e com células encontradas em abundância no sistema nervoso central chamadas astrócitos, também dos roedores, que foram isoladas e cultivadas in vitro. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e os achados foram divulgados no repositório bioRxiv, mas ainda não foram revisados por pares.

Os astrócitos têm o papel de dar suporte ao funcionamento dos neurônios, atuando como fonte de nutrientes, como glicose e glutamina, e regular a concentração de neurotransmissores. Também fazem parte da barreira hematoencefálica, cuja função é proteger o cérebro contra toxinas e patógenos.

Segundo os pesquisadores, os estudos sugerem que, para replicar seu material genético e produzir novas partículas virais, o Sars-Cov-2 "superativa" os astrócitos para obter mais energia, que será usada nesses processos.

Eles observaram que esse mecanismo desencadeia uma série de impactos. Ao consumir moléculas de energia, como a glutamina, a síntese do principal neurotransmissor que atua na comunicação entre os neurônios, o glutamato, pode ser prejudicada.

Nos roedores, os pesquisadores notaram mudanças no metabolismo em duas regiões do cérebro: no hipocampo, ligado à consolidação da memória e ao aprendizado, e no córtex, que tem importância para a linguagem, a cognição e a memória.

Estudos realizados em 2020 já apontaram a presença do vírus nos astrócitos de pessoas que morreram de Covid-19. Os resultados deste estudo abrem caminho para futuras pesquisas para tratamento de sequelas neurológicas de pacientes que tiveram a doença com medicamentos que modulam as sinapses mediadas por glutamato, de acordo com os pesquisadores.

Com Agência Fapesp