Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) realizado com hamsters apontou uma possível relação entre a infecção pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2, e processos de aceleração do metabolismo de células do sistema nervoso central e aumento do consumo de moléculas ligadas à geração de energia. Isso poderia justificar eventos de confusão mental e impactos na memória recente de pacientes que tiveram a Covid-19.
A pesquisa foi realizada com animais vivos, que foram infectados via intranasal e monitorados por 14 dias, e com células encontradas em abundância no sistema nervoso central chamadas astrócitos, também dos roedores, que foram isoladas e cultivadas in vitro. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e os achados foram divulgados no repositório bioRxiv, mas ainda não foram revisados por pares.
Os astrócitos têm o papel de dar suporte ao funcionamento dos neurônios, atuando como fonte de nutrientes, como glicose e glutamina, e regular a concentração de neurotransmissores. Também fazem parte da barreira hematoencefálica, cuja função é proteger o cérebro contra toxinas e patógenos.
Segundo os pesquisadores, os estudos sugerem que, para replicar seu material genético e produzir novas partículas virais, o Sars-Cov-2 "superativa" os astrócitos para obter mais energia, que será usada nesses processos.
Eles observaram que esse mecanismo desencadeia uma série de impactos. Ao consumir moléculas de energia, como a glutamina, a síntese do principal neurotransmissor que atua na comunicação entre os neurônios, o glutamato, pode ser prejudicada.
Nos roedores, os pesquisadores notaram mudanças no metabolismo em duas regiões do cérebro: no hipocampo, ligado à consolidação da memória e ao aprendizado, e no córtex, que tem importância para a linguagem, a cognição e a memória.
Estudos realizados em 2020 já apontaram a presença do vírus nos astrócitos de pessoas que morreram de Covid-19. Os resultados deste estudo abrem caminho para futuras pesquisas para tratamento de sequelas neurológicas de pacientes que tiveram a doença com medicamentos que modulam as sinapses mediadas por glutamato, de acordo com os pesquisadores.
Com Agência Fapesp