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Violência na escola: pesquisa aponta dados alarmantes (1 notícias)

Publicado em 13 de junho de 2004

Por Adriana Silva - sub-editora chefe da Tribuna
De 14% a 22% dos alunos da rede pública de ensino já viram alguém com arma de fogo dentro da unidade escolar. O percentual é superior a 30% em caso de armas brancas como canivete e punhal e aponta um demonstrativo preocupante da violência nas escolas. Mais de 20% deles já foram, de alguma forma, ameaçados. O cenário consta em relatório científico parcial de uma pesquisa sobre a violência contra a criança e o adolescente no município è foi revelado na última semana pelo vereador Elias Chediek Neto (PMDB), que representa o Poder Legislativo no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Araraquara (Comcriar). Os dados começaram a ser apurados em 1999 e se estendeu até 2001, tendo demonstrativos parciais também dos anos de 2002 e 2003. No anexo sobre a violência dentro da escola, os pesquisadores trabalharam com a realidade da população estudantil de duas unidades de 5ª a 8ª séries e do Ensino Médio. Uma localizada na periferia, outra na área central da cidade. Para o presidente do Comcriar. Flávio Haddad, a amostragem é um indicativo da realidade não só das escolas públicas de Araraquara, mas de todo o País. Para ele, a falta de perspectivas hoje é um dos fatores mais preocupantes para os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes e a pesquisa demonstra que o que está jogo, na verdade, é a banalização da vida. Na periferia, 31% dos alunos entrevistados disseram que se sentem inseguros dentro da escola. Exatamente o mesmo percentual de quem estuda na região central. O medo também é uma constante hoje dentro da escola. Vinte e um por cento dos alunos que estão no Centro já foram ameaçados ou intimados de alguma forma. O índice dobra, quando o entrevistado é da região periférica. A realidade entre as duas populações só difere quando a pergunta é invertida ou no momento em que as drogas entram em discussão. Na periferia. 25% dos alunos disseram que já ameaçaram ou intimidaram alguém dentro da escola. Na região central, o índice é de 23%, ou seja, eles são mais autores do que vítimas das ameaças. Outro dado preocupante revela que, na região da periferia, 22% dos alunos já tiveram maconha ofertada dentro da escola. O cigarro, o álcool e inalantes foram citados por 35%, 17% e 9% dos entrevistados, respectivamente. Na área central, não há dados sobre drogas. Assim como há informações sobre atos de vandalismo dentro da escola que fica na região da central da cidade. Ao contrário do que se verifica na periferia, onde 42% dos entrevistados afirmaram que já viram alguém depredando a escola. Pesquisa Os dados do relatório integram o projeto Políticas Públicas e Violência Contra Crianças e Adolescentes em Araraquara que nasceu de uma parceira entre o Departamento de Sociologia e Política da Unesp, Conselhos Tutelares e Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Araraquara (Comcriar) e foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). O trabalho foi coordenado pela professora doutora Maria Tereza Miceli Kerbauy, tendo como pesquisadores os professores doutores Darlene de Oliveira Ferreira e José Luís Bizelli. Eles ressaltam, ao encerrar o relatório, a busca para "desvelar os aspectos da violência urbana nas escolas públicas de Araraquara, esperando que tais dados possam auxiliar em quaisquer formas de intervenção ou de políticas públicas que almejem lidar com tal fenômeno". Para isso, explicam, será preciso considerar o ponto de vista social e urbano, os tipos de relação das escolas com os bairros onde estão situadas, o perfil sócio-cultural dos alunos e os significados do fenômeno da violência dentro da escola para esses alunos.