O número de casos de violência no ambiente escolar mais do que triplicou entre 2013 e 2023 no Brasil, saltando de 3,7 mil para 13,1 mil registros.
Os dados, divulgados nesta segunda-feira (14) pela Revista Pesquisa FAPESP com base em informações do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), revelam um cenário alarmante de agressões físicas, psicológicas, sexuais e autoprovocadas em instituições de ensino públicas e privadas de todo o país.
Entre os casos contabilizados em 2023, metade foi de agressão física. Violência psicológica e moral representaram 23,8% das ocorrências, enquanto episódios de abuso sexual responderam por 23,1%. Em 35,9% dos registros, o agressor era amigo ou conhecido da vítima. Desde 2001, ao menos 47 pessoas morreram em episódios de violência escolar.
O levantamento mostra ainda um aumento expressivo de agressões autoprovocadas, como automutilação e tentativas de suicídio. Esse tipo de violência cresceu 95 vezes ao longo da última década, refletindo o sofrimento silencioso de muitos estudantes, afetados por fatores que vão além da escola, como o ambiente doméstico e a pressão social.
O Ministério da Educação classifica quatro tipos principais de violência escolar: ataques extremos e letais, como o ocorrido em uma creche de Blumenau (SC) em 2023; violência interpessoal, que envolve discriminação e hostilidades entre alunos e professores; bullying, caracterizado por intimidações repetitivas; e episódios no entorno das escolas, como tráfico de drogas, tiroteios e furtos.
A pesquisa aponta múltiplas causas para o crescimento da violência, especialmente entre 2022 e 2023. Entre elas estão a desvalorização da carreira docente, a precarização da infraestrutura escolar, o despreparo para lidar com casos de racismo e misoginia, falhas nas estratégias de mediação de conflitos, e a relativização de discursos de ódio. Também contribuíram para o aumento dos casos a radicalização política desde 2013 e o crescimento de comunidades virtuais que promovem ideologias destrutivas.
Relatórios recentes, como o Atlas da Violência 2024, revelam que o percentual de estudantes que relataram sofrer bullying passou de 30,9% em 2009 para 40,5% em 2019. No mesmo período, dobrou o número de alunos do ensino fundamental que deixaram de ir à escola por medo, subindo de 5,4% para 11,4%. A violência familiar também se intensificou: em 2019, 16,1% dos estudantes das capitais afirmaram ter sido agredidos por familiares nos 30 dias anteriores à pesquisa — contra 9,5% em 2009.
Entre as propostas para combater o avanço da violência escolar estão políticas intersetoriais permanentes, parcerias com os setores de saúde e assistência social, maior escuta ativa dos estudantes, acionamento mais frequente dos conselhos tutelares e transformação estrutural da cultura escolar. Para especialistas, é urgente que o ambiente educacional seja um espaço de acolhimento e não de reprodução da violência vivida fora dele.