As escolas brasileiras têm se tornado ambientes hostis. É o que indica uma pesquisa da FAPESP: o número de casos de violência no ambiente escolar mais do que triplicou em dez anos, atingindo o ápice em 2023. Um conjunto de fatores contribui para esse cenário, incluindo a relativização de discursos de ódio e a falta de estrutura e de pessoal nas instituições de ensino.
É inegável que na última década houve maior conscientização sobre o que é a violência escolar, contribuindo para o aumento do número de registros. A palavra “bullying” não soa tão estranha como há dez anos, mas é preciso mais do que a teoria. Estado, pais, gestores e professores devem participar ativamente da prevenção à violência.
Do ponto de vista psicológico e social, as falhas são generalizadas no país. Ainda são incipientes as ações voltadas à saúde mental no ambiente escolar. Na rede pública de ensino básico, o atendimento de psicologia e assistência social está previsto em uma lei federal promulgada em 2019, mas grande parte dos Estados e municípios ainda não colocou a norma na prática.
Professores e diretores se veem sem ferramentas para fazer frente ao discurso de ódio que cresce nas redes sociais e seduz tantos alunos. O mesmo dilema é enfrentado pelas famílias. Mais de um terço (37,6%) dos diretores e diretoras de escolas brasileiras relatou já ter observado a ocorrência de bullying, de acordo com pesquisa do Instituto Ayrton Sena.
No caso do bullying, a ação da comunidade escolar logo nos primeiros indícios de violência é fundamental para evitar o agravamento da situação, por meio de estratégias humanizadas de acolhimento. O sofrimento da vítima pode ser silencioso, mas as consequências drásticas são sentidas por ela e por quem está ao seu redor.
A proteção à integridade física e psíquica dos estudantes é um bem em si, mas também é fundamental para a formação de cidadãos capazes de romper com a cultura da violência na sociedade no futuro.
Editorial O TEMPO