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Villares Metals testa plasma na produção (1 notícias)

Publicado em 21 de setembro de 2002

Por FRANCISCA STELLA FAGÁ
A tecnologia da tocha de plasma usada pelas siderúrgicas modernas do mundo, em especial pelas japonesas, para melhorar a qualidade de aços especiais, terá o primeiro teste industrial no Brasil em janeiro, na fábrica da Villares Metals em Sumaré, perto de Campinas. Fornecedora global de aço para válvulas de motores e fabricante de outros aços especiais que exigem elevado grau de precisão, a Villares Metals há tempos planeja adotar a tocha de plasma no lingotamento contínuo dos aços para melhorar ainda mais a qualidade, explica Celso Antônio Barbosa, gerente de tecnologia da empresa. A empresa cogitou de comprar uma tocha pronta. Há fabricantes nos Estados Unidos e no Japão, não no Brasil. Mas animou-se com um projeto de pesquisa iniciado na década de 70 e coordenado pelo professor Aruy Marotta, do Instituto de Física da Universidade de Campinas (Unicamp). Optou pela construção de uma tocha no Brasil, sob a coordenação de Marotta. Sediada ao lado do campus da Unicamp, a Villares fez uma parceria com a universidade. A tocha foi acesa pela primeira vez na semana passada. Em janeiro, a tocha será transferida para a fábrica da Villares e começará a ser utilizada no lingotamento contínuo das diversas linhas de produtos. Além de aços para válvulas, a Villares Metals, que fatura em média US$ 100 milhões por ano, fabrica aço-ferramenta, usado na fabricação de moldes e matrizes industriais; aço rápido, destinado à fabricação de brocas, machos e ferramentas; aço inoxidável; e ligas especiais destinadas à fabricação das chamadas árvores de natal molhadas, usadas nos poços de extração de petróleo. A linha inteira demanda temperaturas constantes no processo de lingotamento contínuo, explica Antônio Celso Barbosa. A tecnologia permite essa constância. Barbosa estima em 5% a redução de custos decorrente da possibilidade de utilizar o lingotamento contínuo para esses tipos de aço. O uso da tocha de plasma também possibilita temperaturas menos elevadas, o que significa economia de energia, explica Marotta. A tocha foi inteiramente construída no Brasil e teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Um dos itens-chave do equipamento é a fonte de corrente elétrica, projetada e desenvolvida pela GPL Eletro Eletrônica S.A., em conjunto com o professor Marotta. O QUARTO ESTADO DA MATÉRIA Há inúmeras aplicações industriais para o plasma, conhecido como o quarto estado da matéria - além do sólido, do líquido e do gasoso. Plasma é um gás ionizado, a matéria que forma o Sol e as estrelas, que conduz eletricidade. Além do processo siderúrgico, a tecnologia da tocha de plasma pode ser utilizada na eliminação de resíduos hospitalares e de resíduos industriais perigosos. É também usada na síntese de novos materiais cerâmicos e de materiais utilizados como eletrodos de células combustíveis. O professor Aruy Marotta, da Universidade de Campinas (Unicamp), iniciou há mais de 20 anos sua pesquisa com a aplicação da tocha de plasma no corte de metais. Em maio do ano passado, quando foi concluída a construção e instalação do novo laboratório de plasma industrial da Unicamp, projetos de porte industrial começaram a ser desenvolvidos. A parceria com a VHlares Metals para a utilização da tocha de plasma construída no laboratório da Unicamp resultará na primeira aplicação industrial do projeto. A tocha transforma energia elétrica em energia térmica e com isso permite manter estável a temperatura do distribuidor do sistema de lingotamento contínuo, tanque intermediário que gera as barras do metal. O aparelho é uma espécie de resistência que produz temperaturas altíssimas, de 3 mil a 70 mil graus centígrados. Em vez de um fio de metal, porém, ele é composto por um arco elétrico, que mantém uma espécie de "relâmpago" contínuo, explica o professor. Outros projetos estão sendo estudados pelo Instituto de Física da Unicamp. Diversos grupos empresariais já procuraram o professor, pioneiro nessa linha de pesquisa no Brasil. A Petrobras, por exemplo, procurou Marotta para analisar a possibilidade de converter o metano, material descartado como resíduo do processo de extração do petróleo, em gás de síntese. Isso agregaria um enorme valor ao material, porque o gás de síntese pode ser usado para se transformar em combustíveis, como a gasolina. Uma infinidade de novos materiais pode ser criada com essa tecnologia, explica.