Manhã de inverno, nuvens carregadas. Antes de os primeiros raios de sol despontarem na praia, um grupo de biólogos destaca-se na paisagem de barcos abandonados e pescadores de mariscos. Com botas de neoprene, pás e sacos plásticos, coletam amostras do solo. A cena acontece no litoral norte de São Paulo, em um conjunto de quatro praias que formam a Baía do Araçá, entre as cidades de São Sebastião e Ilhabela. Com a maré baixa, a vazante revela estrelas-do-mar, crustáceos, moluscos e rochas que abrigam diversas espécies. É o lugar perfeito para os biólogos fazerem suas descobertas.
As pesquisas integram o Biota Araçá, projeto em que atuam cerca de 170 pesquisadores de aproximadamente 30 instituições, com atividades que englobam áreas como física, química, biologia e ciências sociais. Criado em 2012, o projeto faz parte do programa Biota-Fapesp, que surgiu em 1999 com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para inventariar espécies de animais, plantas e micro-organismos dos biomas paulistas e definir estratégias para sua conservação.
A história do Araçá
Até 1936, as árvores de mangue recobriam quase toda a Baía do Araçá. A construção do primeiro porto de São Sebastião, nesse ano, alterou a circulação das águas e provocou o assoreamento das praias em frente ao centro histórico. As expansões portuárias nas décadas seguintes retalharam a orla da baía, que hoje já não possui ligação com as demais praias do município.
Várias tentativas para aterrar o restante da orla foram vetadas pela Secretaria do Meio Ambiente, graças à pressão popular. A defesa do mangue, no entanto, não impediu a instalação de um emissário submarino de esgoto pela Companhia de Saneamento.
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