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Diário do Comércio (SP)

Viagem pelas espirais dos genes (1 notícias)

Publicado em 18 de abril de 2008

Por Lúcia Helena de Camargo

Nós, seres humanos, pertencemos todos à mesma raça e, em termos genéticos, somos 99,9% idênticos. A espécie é uma só: Homo sapiens. Porém, a variação de 0,1% representa 3 milhões de características diferentes. Daí a grande diversidade de tamanhos, formatos, cores de pele, olhos, cabelos etc. Assim, nenhuma pessoa é totalmente igual a outra, com exceção de gêmeos univitelíneos, originados da mesma célula inicial. A informação sobre cada característica fica registrada no DNA (ácido desoxirribonucleico).

Esse é apenas um resumo rápido daquilo que o visitante encontra na exposição Revolução Genômica em exemplos bem ilustrados e analogias interessantes — como listas telefônicas empilhadas em espiral para representar a seqüência de bases que formam o código genético dos seres vivos.

Em cartaz no Parque do Ibirapuera, a mostra inclui painéis, fotos, cartazes, vídeos, maquinetas interativas e até uma seção com bichos vivos, outra com animais empalhados. São 2 mil metros de área expositiva, dividida em três seções: Grande Salão DNA; A Era do Genoma e Genética dos Alimentos.

Giovanni Pasquato Lima, de oito anos, percorreu a exposição juntamente com a reportagem do Diário do Comércio. Como a maioria das crianças (e muitos adultos) que fazem a visita, aprendeu bastante quase sem perceber e se encantou com os aparelhos que convidam a apertar botões e mover peças para exibir informações curiosas, evidentemente bem mais interessantes nesse formato do que em um livro de ciências.

45% mosca - O preferido dos meninos é uma espécie de mesa de controle de nave espacial que convida o "piloto" a comparar seu próprio DNA com os genes de outros seres vivos. Uma câmera captura a foto de quem se posiciona no "comando" e um painel no alto exibe o resultado da comparação. Giovanni aperta, algo tímido, o botão Rato, cujo nome científico é Rattus rattus. E espanta-se em saber que tem 90% de genes iguais ao do bicho. Gosta da brincadeira e desta vez pressiona Mosca-das-frutas (Drosophila melanogaster). Resultado: 45% de material genético em comum. É convidado a comparar-se também com a bactéria do intestino (Escherichia coli). "Pelo menos deu só 9%", conforma-se ele, que em seguida fica sabendo que o Chimpanzé (Pan troglodytes) é um primo próximo, com 95% dos genes iguais aos humanos. Quando outro garoto toma para si o controle da máquina, nosso repórter mirim olha de esgelha e torce, gaiato: "Aposto que para aquele menino vai dar que é mais rato do que eu". Fica desapontado em saber que são os mesmos 90%, para depois aprender que o percentual é igual para todas as pessoas.

Humano na jaula - Na área de animais vivos, Giovanni aproxima-se da jibóia sem medo ou nojo. Mas interessa-se mais pela anatomia da iguana. Detém-se no sapo cururu, que por ser da mesma cor da pedra, quase passa despercebido. E lembra da aula sobre animais que "se disfarçam para não serem comidos". Pára, intrigado, quando vê dentro de outra jaula uma mulher, que fala ao telefone celular. Na placa de identificação: "Ser humano". O que acharia o pequeno visitante de ser observado dessa maneira, em um zoológico? "Não gostaria, porque é muito pequeno ali dentro. Nossa... será que os bichos não ficam enjoados?", divaga ele, que sem saber satisfaz um objetivo da curadora Eliana Dessem: "Mais do que ensinar, nossa idéia é levar o público a fazer perguntas mais inteligentes".

A onça empalhada chama a atenção pela imponência de felino e tamanho. Mas a mesa de luz que exibe desenhos de insetos é mais atraente. Baratas, pernilongos, mosquitos, formigas passam, enquanto Giovanni brinca de contar pernas e antenas e apontar qual deles é mais feio.

Inteligência - Uma enquete eletrônica quer saber se o público considera certo ou errado que pais possam aprimorar a inteligência dos filhos, antes de nascer. Giovanni não tem dúvida: "Claro! É melhor ser mais inteligente!". E ele prova sua tese. Em outra brincadeira, na qual é preciso girar barras que representam bases para produzir uma mutação na mosca, o garoto rapidamente aprende a lidar com o equipamento. Uma mulher de cabelos claros, com cerca de 20 anos, tentara antes dele durante muitos minutos, sem sucesso. "Mas como o menino conseguiu tão rápido?", questiona-se. Ele ri.

Transgênicos - Nas salas seguintes é possível conhecer o seqüenciamento do DNA da cana-de-açúcar, saber sobre biodiversidade brasileira, a questão da soja transgênica e o envolvimento dessas plantações no desmatamento da floresta amazônica.

Ao longo de toda a caprichada montagem, painéis com imagens capturadas pelo fotógrafo Araquém Alcântara mostram árvores da Amazônia, jaguatirica, coruja, pedra, selva, índios, aves.

Na programação paralela organizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) são ministrados cursos e palestras. E os alunos que visitam a mostra recebem, ao final, um DVD com material complementar.

A organização foi iniciativa do Instituto Sangari, representante no Brasil do Museu de História Natural de Nova York, nos Estados Unidos. Foram investidos R$ 4,5 milhões no projeto, que começou com a restauração do antigo prédio da Prodam, chamado de Pavilhão Armando de Arruda Pereira. Votorantim, Bradesco e Volkswagen estão entre os patrocinadores. O evento pode ser o início de um projeto maior. Segundo Alan Draeger, diretor da instituição de NY, há a intenção de montar em São Paulo um museu tão completo quando o americano. "Vamos trabalhar para realizar esse sonho antigo", diz.

Depois de um tour pelos EUA, Revolução Genômica viajou para a Nova Zelândia e Hong Kong. "No Brasil a montagem está maior e mais espetacular do que em outros lugares", afirma Draeger. A meta dos organizadores é atingir, apenas em São Paulo, público de 500 a 600 mil pessoas. Terminada a temporada paulistana, segue para o Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Belém e Manaus, ficando de dois a três meses em cada cidade.

Revolução Genômica - Parque do Ibirapuera - Pavilhão Eng. Armando de Arruda Pereira, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, tel.: 3468-7400. Terça a sexta, das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h. Ingressos: R$ 7 a R$ 15. www.revolucaogenomica.com.br.