Notícia

Jornal de Brasília

Versão braile para internet

Publicado em 22 junho 2009

Os deficientes visuais já contam com programas que permitem que os textos disponibilizados virtualmente sejam verbalizados. No entanto, pelo menos no Brasil, não existe um programa que permita que eles o leiam. Diante disso, um projeto de pesquisa, conduzido na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto (SP), tem desenvolvido um console em braile para permitir o acesso de deficientes visuais ao conteúdo de páginas da internet.

O trabalho visa à construção de um dispositivo eletromecânico, re-configurável em tempo real, capaz de exibir todos os diferentes sinais do alfabeto braile em uma matriz de pontos que se elevam e abaixam em uma superfície de referência.

O projeto intitulado Desenvolvimento de um dispositivo anagliptográfico para inclusão digital de deficientesvi-suais, coordenado por José Márcio Machado, professor do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Segundo Machado, com o dispositivo, um deficiente visual pode acessar textos comuns disponibilizados na internet sem necessidade de impressoras especiais, e no tempo real do acesso.

"Montados lado a lado em um teclado de leitura, os dispositivos se ligam a um processador capaz de ler um texto em uma tela comum de computador e o converter para os sinais braille", explica Machado. "O dispositivo poderá contribuir para ampliar as possibilidades de trabalho de deficientes visuais em todas as atividades que empregam computadores pessoais", justifica.

Processo

Esse projeto foi finalista regional do Prêmio Santander de Ciência e Inovação de 2008, na categoria Tecnologia da Informação e Comunicação. Além de Machado, participa da pesquisa Mário Luiz Tronco, especialista em robótica. O projeto está em fase de construção do hardware.

Machado ressalta que o dispositivo não converte arquivos de texto em áudio, uma vez que já existem outros equipamentos capazes de fazer isso. "Não é do nosso conhecimento que existam no Brasil pesquisas para o desenvolvimento desse tipo de equipamento, mas sabemos que existem resultados na área de conversão de texto em voz", disse.

A tecnologia de computação tem possibilitado o rompimento de barreiras pelos portadores de deficiência visual. Antes, um texto extenso demorava horas para ser criado manualmente em braile. Hoje, leva minutos com o uso de impressoras específicas para o sistema.

Por enquanto, o projeto envolve apenas a utilização de computadores de mesa (desktops). "A miniaturi-zação para uso em unidades portáteis (como notebooks) dependerá de desenvolvimentos e investimentos futuros", explicou Machado. "Em uma etapa posterior, finalizados os testes com o protótipo, será possível determinar custos de produção em maior escala, mas as tecnologias envolvidas são todas acessíveis ao parque industrial do país", esclareceu.

De acordo com o coordenador do projeto, o próximo passo será disponibilizar o dispositivo para testes com deficientes visuais. "Também pensamos em realizar uma generalização da ideia original para representar, por matrizes de pontos reconfiguráveis com maior dimensão, gráficos e figuras simples, que seriam reconhecidos pelo usuário também por via tátil. Isso seria muito importante, por exemplo, para o ensino de conceitos matemáticos avançados", apontou.

Em relação às limitações, Machado aponta que a principal é falta de mão de obra especializada, que acaba reduzindo a velocidade dos desenvolvimentos. A possibilidade de registro de patente é uma questão a ser examinada quando a etapa de testes terminar.

O professor da Unesp conta que o grupo está elaborando um artigo para apresentação na Conferenceon Eco-logical Modelling, que será realizada em Xian, na China, em setembro.

SAIBA +

A leitura e escrita de pessoas com deficiência visual se dá, principalmente, por meio do sistema inventado pelo francês Louis Braille (1809-1852)

Trata-se de um alfabeto cujos caracteres se indicam por pontos em relevo, distinguidos por meio do tato

A partir de seis pontos salientes é possível fazer 63 combinações para representar letras simples e acentuadas, pontuações, algarismos, sinais algébricos e notas musicais Braille publicou seu método de leitura para cegos em 1829

Um deficiente visual experiente pode ler duzentas palavras por minuto

A grafia braile para a Língua Portuguesa é regulamentada pela portaria 2.678 de 24 de setembro de 2002, da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, com uma segunda edição em 2006