Pesquisa feita pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico revela que o ensino oferecido no Brasil está abaixo da crítica. Resultados preliminares da aferição em 27 estados, envolvendo quase 125 mil alunos, compõem um quadro sombrio em que alunos do ensino fundamental e do segundo grau apresentam capacidade de leitura sofrível e enorme dificuldade de aprender matemática.
Os indicadores são assustadores: do total de 1.236 itens a serem respondidos pelos alunos, o resultado dos acertos é inferior ao que se poderia chamar de medíocre. Os alunos da quarta série, por exemplo, só atingiram percentual de acerto de 50,6% em testes de língua portuguesa destinados a medir a compreensão da leitura. Em matemática, o quadro é pior: o percentual de acerto dos alunos da quarta série não chega a 40%.
Desloca-se, portanto, o foco do problema da universalização da oferta do ensino, da construção de escolas - 90% da população em idade escolar freqüenta alguma instituição, ou seja, 35 milhões de alunos de 7 a 14 anos - para a qualidade do ensino, a valorização do professor e o baixo desempenho dos alunos, que apresentam alto grau de repetência e evasão.
De cada mil alunos que entram na primeira série do primeiro grau, 400 repetem o ano. Desse total, apenas 58% chegam até a quarta série. Depois de 11 anos de escola, ao final somente 43% cursarão a oitava série. É uma tragédia.
A educação, uma das cinco prioridades do governo Fernando Henrique Cardoso, juntamente com saúde, emprego, agricultura e segurança, pede mobilização de todos os setores da sociedade para reverter esse quadro. Prioridade deve ser atribuída a novos parâmetros curriculares e a preparação de professores. É necessário um programa de Qualidade Total nas escolas, aplicado no governo anterior de Minas com resultados notáveis: o índice de repetência no segundo grau caiu de 40% para 18% nos últimos cinco anos.
É imperativo romper o chamado "pacto da mediocridade" em que professores mal pagos fingem ensinar e alunos entregues à própria sorte fingem aprender. O caso da menina Luciana Soares da Silva, de 17 anos, focalizado pelo JORNAL DO BRASIL de domingo, é exemplar do revoltante estado da rede pública.
Órfã de pai e dependente de mãe que trabalha como caixa de supermercado, Luciana acorda às 5h 15, cinco vezes por semana, para chegar às 7h ao Colégio Estadual Paulo de Frontin, na Tijuca, para ficar conversando no recreio porque seus professores não comparecem às aulas. Durante praticamente todo o ano letivo de 1995, sua turma ficou sem aula de português. A escola não dá livros e ela não tem dinheiro para comprá-los. Luciana diz que o governo não tem a menor idéia do que acontece nos colégios.
O ministro Paulo Renato de Souza manifestou veemente repúdio a essa patética perversão. Espera ver aprovada ainda neste semestre a reforma constitucional na área da Educação. Sabe que o Brasil só será um país sério quando alterar este vergonhoso quadro.
Notícia
Jornal do Brasil