A destinação das verbas para pesquisa e o financiamento dos núcleos de excelência científica provocaram polêmica ontem na 48ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A comunidade científica está preocupada com a origem das verbas para financiar os chamados núcleos de excelência, que fazem parte das propostas prioritárias da área de ciência e tecnologia do governo federal. "A idéia seria lutar para que os núcleos de excelência tivessem recursos adicionais e não que as agências de fomento tivessem de financiá-los com as verbas existentes hoje para a pesquisa", afirmou o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Lourival Carmo Mônaco.
Os pesquisadores estão preocupados com um aumento ainda maior da concentração da produção científica no eixo Sul e Sudeste do País. Para alguns, a destinação de verbas para poucos núcleos corre o risco de ampliar ainda mais as desigualdades, em vez de impulsionar a ciência nacional.
Na opinião de Sérgio Henrique Ferreira, presidente da SBPC, é preciso garantir financiamento de longo prazo para a viabilização dos núcleos de excelência científica: "A idéia do núcleo foi materializada pelo governo, mas precisamos saber se o dinheiro que os financiará é adicional ao sistema ou está embutido nele, porque, se for assim, a idéia já nasce morta", avalia.
Abílio Baeta Neves, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), explica que a proposta do governo com os núcleos de excelência era criar um programa que contaria com R$ 20 milhões anuais da Capes e R$ 50 milhões do Ministério da Educação. "Formou-se no segundo semestre do ano passado uma comissão para fazer proposta com essas previsões orçamentárias, mas com a aprovação do Orçamento de 1996, o programa sofreu cortes", explica. Para ele, o financiamento dos núcleos não deve ser feito com a verba já existente no sistema, até porque eles precisam de financiamento de longo prazo para conseguir resultados realmente eficazes.
Já para o presidente da Academia Brasileira de Ciência, Eduardo M. Krieger, os núcleos de excelência devem ser entendidos apenas como mais um programa: "Eles devem ser vistos como uma fração da comunidade científica e não devemos solicitar algo especial para eles que não seja estendido ao resto da comunidade", afirma.
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Gazeta Mercantil