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Variante brasileira do Zika vírus pode afetar sobrevivência de células do cérebro (47 notícias)

Publicado em 11 de agosto de 2022

Por Yanne Vieira

Um estudo publicado na revista americana Molecular Neurobiology, sugere que as infecções pela linhagem brasileira do Zika vírus podem afetar a comunicação, o crescimento e até mesmo a sobrevivência de células cerebrais. Alterações moleculares causadas pelo vírus sugerem uma relação com distúrbios neurológicos, falhas no neurodesenvolvimento e malformações do sistema nervoso.

O trabalho é fruto de uma parceria entre o Laboratório de Neuroproteômica da Universidade Estadual de Campinas (LNP-UNICAMP) com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Educação (IDOR).

Juliana Minardi Nascimento, uma das autoras responsáveis pelo artigo, destaca que o estudo envolveu dois tipos de ensaio. Cada modelo foi dividido em grupos e infectado com uma de três linhagens virais: o vírus causador da Dengue e duas variedades do Zika – a cepa africana e a brasileira.

Após um período de exposição aos vírus, as células infectadas passaram por um processo para separar as proteínas presentes em cada amostra e verificar se a presença desses organismos foi capaz de desencadear mudanças na atividade e na composição celular.

Segundo Daniel Martins-de-Souza, coordenador do LNP e do estudo, a infecção por Zika vírus foi capaz de alterar a produção de proteínas importantes para a formação, a sobrevivência e a comunicação das células infectadas desde o começo de seu desenvolvimento, o que mostra potencial para prejudicar seriamente a formação do sistema nervoso.

“A reparação de danos ao DNA, a reserva de energia e o posicionamento das células no cérebro também são prejudicadas. Em conjunto, essas mudanças mostram que o Zika vírus pode impedir que as células neurais imaturas proliferem e pode até levá-las a morte”, continua a pesquisadora Juliana.

O texto destaca que essas modificações podem ser decisivas, principalmente para o desenvolvimento fetal. Ao infectar uma pessoa grávida, o Zika tem a capacidade de atravessar as proteções do útero e atingir o feto em crescimento – e essa característica está ligada principalmente à linhagem brasileira do vírus.

“Se, ao ser infectado, o cérebro fetal não consegue se desenvolver e as células neurais não proliferam e diferenciam corretamente, isso pode levar a malformações no sistema nervoso da criança”, explica Juliana Nascimento. A autora ressalta ainda, que outras doenças neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, também podem ser desencadeadas como consequência dessas infecções, uma vez que são relacionadas a variações semelhantes nas células neurais.

Segundo Daniel Martins-de-Souza, esses resultados preliminares têm potencial para favorecer a compreensão, a prevenção e o tratamento dessas doenças. “A longo prazo, as proteínas e vias que estamos descrevendo pela primeira vez podem passar a ser alvos para medicamentos ou até modulações que pudessem vir a prevenir a microcefalia e outras malformações neurológicas em mães infectadas por Zika”, diz.