A variante brasileira do coronavírus, detectada pela primeira vez em Manaus (Amazonas), pode possuir a capacidade de driblar os anticorpos adquiridos por quem já teve covid-19 e causar uma nova infecção. É o que aponta um estudo, ainda não revisado, detalhado pelo The New York Times nessa segunda-feira (1º).
Denominada P.1, a variante do Sars-CoV-2 foi identificada em dezembro na capital amazonense, mas pode ter surgido um mês antes e facilitado a transmissão na cidade, que sofreu com um número recorde de casos, passando a se tornar a cepa dominante na região.
Enquanto se espalha pelo Brasil, ela também já foi encontrada em outros 24 países, chamando a atenção dos pesquisadores, que agora fizeram um estudo mais abrangente sobre a mutação. Uma das descobertas é sobre o seu poder de contágio, superior ao da variante padrão (de 1,1 a 2,2 vezes mais), confirmando as suspeitas anteriores.
Outro ponto importante revelado pela pesquisa é a capacidade superior de reinfectar pessoas que já tiveram covid-19 apresentada pela P.1, escapando dos anticorpos adquiridos quando elas foram contaminadas por outra linhagem do vírus.
Alta taxa de reinfecção
Coordenado pela professora da Universidade de São Paulo Ester Sabino e o pesquisador da Universidade de Oxford Nuno Faria, o estudo teve como base a análise genômica de 184 amostras de pacientes de Manaus diagnosticados com a doença, coletadas entre novembro e janeiro.
Usando essas amostras, os pesquisadores misturaram, em laboratório, a mutação P.1 encontrada nelas com os anticorpos de pessoas que tiveram a doença, infectadas pela variante padrão. A partir daí, eles descobriram que os anticorpos adquiridos se tornaram cerca de seis vezes menos eficientes contra ela, em comparação com outras cepas.
Dessa forma, o estudo estimou que entre 25% e 61% dos indivíduos já infectados pelo Sars-CoV-2 poderiam ser novamente infectados, caso tivessem contato com essa linhagem mais recente surgida em Manaus. Segundo Faria, fortes evidências indicam, inclusive, que a maioria dos casos da segunda onda na cidade foram resultado de reinfecções.
“Esses números são uma aproximação, pois se trata de um modelo. De qualquer modo, a mensagem que os dados passam é: mesmo quem já teve covid-19 precisa continuar se precavendo. A nova cepa é mais transmissível e pode infectar até mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus. Foi isso que aconteceu em Manaus. A maior parte da população já tinha imunidade e mesmo assim houve uma grande epidemia”, comentou Sabino, em entrevista à Agência FAPESP.
Eficácia da CoronaVac contra a P.1
Durante os experimentos, a equipe de pesquisa também testou os anticorpos obtidos por oito pessoas vacinadas com a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac. O objetivo era verificar como o imunizante reagiria à variante de Manaus.
Segundo o artigo, a proteção gerada pela vacina foi menos eficaz contra a P.1 do que em outras mutações do vírus, indicando uma baixa ação neutralizante diante desta nova versão do Sars-CoV-2, pelo menos nos testes realizados em laboratório.
A pesquisa relata uma eficácia reduzida da CoronaVac contra a P.1, mas ressalta a proteção oferecida contra formas graves da doença.Fonte: Freepik
Apesar do resultado não muito satisfatório, os cientistas fizeram um alerta importante em relação a isso, afirmando que os testes realizados com as células em tubos de ensaio podem ter um desfecho diferente quando feitos em pessoas. Ou seja, a CoronaVac pode ser eficaz contra a P.1 mesmo que os anticorpos gerados por ela não sejam tão potentes.
Eles também lembraram que caso haja uma infecção pela variante brasileira em alguém vacinado, o indivíduo provavelmente permanecerá protegido das formas mais graves da covid-19.
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