Notícia

Jornal do Brasil

Vampiros do bem

Publicado em 29 janeiro 1996

Por PAUL HARRIS - Reuter
LONDRES - À primeira vista, são apenas vermes vampiros que vivem nos pântanos. Certos cientistas acreditam, porem, que as sanguessugas têm potencial para ajudar no combate a algumas das doenças humanas de mais difícil tratamento. Terapeutas medievais usavam a sanguessuga para tratar pacientes com as chamadas "doenças do sangue" - e podem não ter sido tão loucos como a história os classifica. Segundo o pesquisador Bob Wallis, as idéias eram dúbias, mas eles estavam no caminho certo. "As sanguessugas têm um padrão de vida muito especializado e se desenvolveram de uma forma que as obriga a produzir muitas substâncias que os outros animais não possuem", diz Wallis, que è diretor de pesquisa e desenvolvimento do laboratório britânico Biopharm, um dos maiores criadores comerciais do verme. Como se alimentam de sangue, as sanguessugas enfrentam desafios peculiares. Aberta uma ferida, o sangue coagula naturalmente. Para continuar a se alimentar, os vermes produzem substâncias que inibem a cicatrização e a coagulação. Uma agulhada comum sangra por 10 minutos, no máximo. Mas uma picada de sanguessuga pode demorar até 10 horas para parar de sangrar. Essas substâncias anticoagulantes podem ser úteis para a elaboração de medicamentos para tratar ataques cardíacos e trombose venosa. A picada de sanguessuga não costuma doer. Wallis acredita que os animais usam alguma substância anestésica que está apenas esperando para ser descoberta. Acredita-se que as sanguessugas também produzem uma molécula inibidora da enzima que provoca enfisema pulmonar. O centro de pesquisas da Biopharm produz anualmente mais de 50 mil sanguessugas de centenas de espécies. Entre elas, a sanguessuga gigante da Amazônia, que pode alcançar 45 centímetros de comprimento. Este monstro, descoberto pelo fundador do laboratório, Roy Sawyer, deu origem a uma substância anticoagulante chamada hementina. A maioria das sanguessugas que o laboratório cria é vendida a 150 hospitais britânicos e de outros 29 países. Os vermes são usados em cirurgias plásticas e de reconstituição de tecidos. São aplicadas nas áreas operadas para manter o sangue circulando e impedir que coagule, enquanto o sistema circulatório é recomposto.