O crescimento do agronegócio, em contraste com a crise em outros setores, atraiu investidores e empreendedores e favoreceu o desenvolvimento de startups voltadas para o campo. "O ano de 2015 foi um marco para as startups ligadas ao setor.
O interesse por esse mercado aumentou tanto que tivemos um verdadeiro 'boom' em 2016. Apenas na EsalqTec, agora em 2017, estão sendo desenvolvidas 90 startups voltadas para o agronegócio", explica Sergio Marcus Barbosa, gerente-executivo dessa incubadora tecnológica ligada à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), de Piracicaba. No momento, o maior polo de desenvolvimento dessas empresas é justamente Piracicaba (SP).
O município no noroeste do Estado quer se tornar o "Vale do Silício" da agricultura brasileira e há um movimento apelidado de AgTech Valley que reúne institutos de pesquisa como a própria Esalq e dezenas de empresas. Um exemplo é a Raízen, líder na produção de açúcar. etanol e bioenergia, que inaugurou no início de agosto no município um hub de inovação para hospedar startups direcionadas para o setor. a Pulse.
De acordo com pesquisa divulgada pela AgTech Garage e pela EsalqTec, 38% de startups para agronegócios do Estado de São Paulo - ou 18,6% do País - se concentram nessa cidade. Para Barbosa, o crescimento é acelerado no Brasil e há polos em regiões como Londrina (PR) e Cuiabá (MT). Sócio fundador da AgTech Garage - empresa que conecta startups com investidores, grandes companhias e outros atores -, José Augusto Tomé diz que um segundo censo sobre startups ligadas ao agronegócio deverá ser publicado em março de 2018. "Se havia 75 delas detectadas no primeiro censo, elaborado em conjunto com a EsalqTec e publicado em dezembro de 2016, esse número AgTech Garage (acima) reúne startups. Murilo da Silva ljanc (à esq.) e João Trevizoli Esteves, sócios da LabMet, criaram estação com sensores que indica melhor hora de plantio e pulverização dobrou. Isso é fato.
Nossa percepção é que o número das startups ligadas ao agronegócio chegue a 250 no fim deste ano." As startups focam áreas como TI, biotecnologia e meio ambiente. Pela peculiaridade biológica e climática do segmento, elas usam especialmente armazenamento de dados para otimizar a produção das fazendas, com redução de custos, economia de adubos, defensivos, água e energia. Por exemplo: programas podem ser implantados nas próprias máquinas agrícolas (tecnologia embarcada) para maior precisão na seleção de sementes, entre outras funções; a irrigação pode ser racionalizada a partir de dados fornecidos por sensores de umidade no solo.
Essa agricultura de precisão se vale de ferramentas tecnológicas de conexão, captação de dados próprios e de fontes externas. O cruzamento dessas informações para sugerir ações é feito por meio de inteligência artificial (IA). O resultado pode ser acionado pelos clientes por meio de celulares ou tablets, mesmo nas lavouras. A LabMet startup em desenvolvimento em Jaboticabal (SP), se vale dessa tecnologia.
Ela trabalha com hardwares que promovem modelos estatísticos para previsões, de forma a se obter mais produtividade nas culturas. João Trevizoli Esteves, sócio da LabMet com Murilo da Silva Ijanc, diz: "Inventamos uma estação meteorológica com sensores conectados à internet para coletar dados que alimentam nossa inteligência. Com isso, estimamos a melhor época de plantio, de floração, de colheita; agro químicos a serem pulverizados, em qual quantidade, quando, em qual velocidade, em quais trechos." O produtor. explica Esteves, tem acesso às informações e recebe indicações das melhores decisões sobre manejos a tomar.
"O cliente não precisa nem entender do assunto: pode ser um médico que é dono de fazenda." Franz Arthur Pavlu, diretor da Drop, desenvolve plataformas para aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas com a utilização de drones, imagens aéreas e imagens via satélite, que identificam problemas nas lavouras. A partir dos dados coletados, são recomendadas ações por meio de urn software. "De uns dois anos para cá, com a internet das coisas, a agricultura de precisão vem se tornando cada vez mais popular e virou moda, afirma Pavlu. "O Brasil está tão avançado ern tecnologia quanto os Estados Unidos, mas a conectividade nas fazendas ainda é urn grande desafio para a implantação."
Diretor da startup @Tech, Tiago Albertini faz parte de urn grupo de pesquisadores que há três anos partiu para o desenvolvimento de urna empresa com apoio da Fapesp. Voltada para a pecuária, a @Tech desenvolveu urna plataforma que rnonitora biologicamente cada bovino com dados corno crescimento e composição química de tecidos, e ainda reúne dados econômicos, estatísticos e matemáticos para apontar o ponto ideal de abate dos animais.
Para os frigoríficos, a companhia desenvolve softwares que vão estabelecer o melhor momento de levar para o abate grupos de animais confinados, considerando-se dados biológicos e questões logísticas e comerciais, no Brasil e no exterior. "Nosso diferencial é que olhamos o mercado para a fazenda e para a indústria ao rnesrno tempo", diz Albertini. O "boorn" relacionado ao agronegócio também abriu campo para aceleradoras - empresas cujo objetivo é apoiar e investir no desenvolvimento das startups.
É o caso da Sevna, de Ribeirão Preto (SP). Seu diretor de Marketing, José Guilherme O li ver. diz que ainda há espaço nesse mercado: "O trabalho de aceleração é por ciclos de seis meses, com imersão no ecossistema das startups. No momento, estamos com nove startups. E ternos mais cinco entrando".