Pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior de São Paulo, constataram que a vacinação contra a Covid-19 reduziu o risco de internação e mortes pela doença mesmo em pacientes que tinham várias comorbidades, como problemas de coração e diabetes.
Entre os vacinados, apenas a idade acima de 60 anos e a doença renal permaneceram como fatores de risco
Já problemas de saúde como os de coração, fígado, neurológicos, diabetes ou comprometimento imunológico foram relacionados a um risco maior de internação pela Covid apenas para os não vacinados.
“A vacina diminuiu o impacto de todas as comorbidades”, explica o médico e virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp e um dos autores da pesquisa, que teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os dados foram divulgados nesta semana no “Journal of Infection”, do Grupo Elsevier.
Os pesquisadores analisaram dados de 2.777 pacientes, internados com sintomas de Covid entre 5 de janeiro e 12 de setembro de 2021, para verificar o impacto da vacinação no perfil de pacientes internados com a doença.
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Entre os participantes, nesse período, 2.518 (equivalente a 91% do total) ainda não haviam sido vacinados contra a doença no momento da internação. A idade média dos pacientes era de 51 anos de idade.
(É importante lembrar que a vacinação contra a Covid-19 só começou no Brasil em 17 de janeiro, e foi feita em idade decrescente. Até 12 de setembro do ano passado, só cerca de 34% dos brasileiros estavam imunizados).
Ao separar os pacientes entre vacinados e não vacinados, os pesquisadores compararam as características dos integrantes de cada grupo – idade, sexo, presença de comorbidades, os sintomas que apresentaram, as condutas clínicas adotadas durante a internação e os desfechos (recuperação ou óbito).
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Para pacientes vacinados, apenas ter mais que 60 anos e uma doença renal continuou sendo um fator de risco aumentado para hospitalização ou morte. Entre os não vacinados, além da doença renal, ter cardiopatias, distúrbios no fígado ou neurológicos, diabetes e comprometimento imunológico também aumentavam o risco.
“O que a vacina mudou foi o perfil da mortalidade. Ao invés daquela mortalidade que nós tivemos no meio do ano passado, onde atingia todas as faixas etárias e todas as comorbidades, a partir da vacina, essa mortalidade tende a ser maior apenas em idosos com insuficiência renal”, explicou Maurício Nogueira.
Os pesquisadores não separaram, no estudo, os pacientes conforme a vacina recebida, mas, segundo o médico, a maioria dos imunizados naquela época receberam a CoronaVac, com poucos tendo recebido a vacina de Oxford/AstraZeneca.
Outro ponto é que a variante dominante no país no período do estudo era a gama; hoje, é a ômicron.
“Hoje, com a volta das cirurgias eletivas, o avanço da vacinação e a emergência da ômicron, temos visto um panorama diferente nos hospitais”, explicou à Agência Fapesp a primeira autora do estudo e integrante do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp Cássia Fernanda Estofolete.
“Muitos pacientes são internados para fazer uma cirurgia agendada ou por trauma e acabam descobrindo que estão com Covid-19, ou seja, não é o vírus que leva a pessoa ao hospital”, explicou.
“E também há muitos idosos com comorbidades que acabam sendo internados porque a Covid-19 exacerba a doença de base – descompensa o diabetes ou a insuficiência renal, por exemplo. A maioria já não é internada por SRAG [síndrome respiratória aguda grave], como era na época em que o estudo foi feito”, completou Estofolete, que reforçou que a vacina mudou a forma como a Covid evolui.
Nogueira explicou que o objetivo dos cientistas não foi entender por que as pessoas com problemas de rins tiveram mais risco de internação e morte – mas que já se sabia que esses pacientes respondem pior à Covid e tem um equilíbrio (homeostase) pior no corpo.
“Tanto que as pessoas dialíticas [em tratamento de hemodiálise] eram grupo prioritário para fazer vacinação”, ponderou.