A vacinação contra a dengue no Brasil enfrenta desafios significativos, apesar da oferta da vacina QDenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda. O país entrou no segundo ano de disponibilização do imunizante no Sistema Único de Saúde (SUS), mas os números revelam uma adesão abaixo do esperado. Em 2024, foram distribuídas 6,6 milhões de doses, enquanto para 2025 a previsão é de 9 milhões. No entanto, apenas 1,1 milhão de pessoas completaram o esquema vacinal com as duas doses recomendadas. A baixa cobertura preocupa especialistas, principalmente diante do aumento da circulação do sorotipo 3 do vírus da dengue, que não era predominante no Brasil há décadas. O Ministério da Saúde alerta que, sem a vacinação adequada, o risco de surtos severos cresce, elevando a demanda hospitalar e potencializando os impactos da doença no sistema de saúde.
A QDenga é uma vacina tetravalente que protege contra os quatro sorotipos da dengue e tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para pessoas entre 4 e 60 anos. A imunização exige duas doses, com intervalo de três meses, para garantir proteção eficaz. A Takeda já disponibilizou o máximo de doses possíveis dentro da capacidade de produção e do orçamento do governo brasileiro.
O aumento expressivo de casos de dengue reforça a necessidade de campanhas de conscientização para combater desinformação e incentivar a adesão à vacinação. Segundo a diretora médica da Takeda no Brasil, Vivian Lee, a farmacêutica tem investido na disseminação de informações corretas para enfrentar fake news sobre a vacina e garantir que a população compreenda sua segurança e eficácia.
Importância da vacina QDenga e desafios na cobertura vacinal
A QDenga demonstrou eficácia de 80,2% na prevenção de casos sintomáticos e de 90,4% na redução de hospitalizações. Mesmo assim, a vacinação em massa não está atingindo os índices ideais. A baixa adesão pode estar relacionada a informações equivocadas, falta de acesso adequado em determinadas regiões e hesitação da população quanto à necessidade da segunda dose. O Brasil enfrenta, há anos, dificuldades para manter altos índices de imunização em diversas campanhas de saúde pública, e com a dengue a situação não é diferente.
A dengue é uma doença endêmica no Brasil e se torna ainda mais preocupante nos períodos de calor e chuvas intensas, que favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Em 2024, o país registrou um aumento expressivo de infecções, com milhares de casos notificados diariamente. A entrada do sorotipo 3 no cenário epidemiológico aumenta o alerta, uma vez que muitas pessoas nunca tiveram contato prévio com esse tipo do vírus, tornando a população mais vulnerável.
Especialistas enfatizam que a vacinação é a principal ferramenta para conter a doença, reduzindo a circulação do vírus e evitando complicações graves. Os estados que mais sofrem com a dengue são aqueles com maior densidade populacional e condições climáticas propícias para a reprodução do vetor. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte registraram aumento expressivo de casos no último ano, reforçando a urgência da imunização em larga escala.
Expansão da vacina para outras faixas etárias e estudos internacionais
A Takeda já iniciou estudos para avaliar a aplicação da QDenga em pessoas acima de 60 anos. Atualmente, a vacina está aprovada para esse público na Europa e em países como Argentina e Tailândia. No Brasil, os testes devem começar em breve, e os resultados ajudarão a definir se a ampliação da faixa etária será viável no futuro.
Além disso, um novo estudo será conduzido na Ásia, região onde os sorotipos 3 e 4 são predominantes. A pesquisa envolverá 70 mil participantes e tem o objetivo de verificar a eficácia da vacina nesses sorotipos específicos. Os resultados obtidos poderão influenciar futuras recomendações sobre reforço vacinal e estratégias de imunização.
Enquanto isso, no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentou uma proposta para iniciar a produção da QDenga em território nacional, garantindo maior autonomia na distribuição do imunizante. O Ministério da Saúde avalia a viabilidade dessa parceria, que poderia ampliar significativamente a oferta da vacina.
Fatores que impactam a vacinação contra a dengue no Brasil
Falta de informação: Muitos brasileiros ainda não conhecem a QDenga ou têm dúvidas sobre sua eficácia e segurança.
Fake news e desinformação: Notícias falsas circulam nas redes sociais, desestimulando a adesão ao imunizante.
Logística de distribuição: Algumas regiões enfrentam dificuldades para garantir que todas as unidades de saúde tenham doses disponíveis.
Baixa adesão à segunda dose: Muitas pessoas tomam a primeira dose, mas não retornam para a segunda aplicação, comprometendo a imunização.
Prioridade ao SUS: Atualmente, a vacina é oferecida majoritariamente no setor público, o que limita o acesso em clínicas privadas.
Impacto da vacinação na redução de casos graves e hospitalizações
A vacinação contra a dengue tem um impacto direto na redução do número de casos graves e das internações hospitalares. Em locais onde a imunização foi implementada com sucesso, houve queda significativa nas hospitalizações por complicações da doença. A cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, foi escolhida para um estudo em vida real sobre a eficácia da QDenga, e os primeiros resultados indicam que a vacina pode ter um papel fundamental no controle da dengue no país.
Além da vacina da Takeda, o Instituto Butantan também trabalha no desenvolvimento de um imunizante contra a dengue, que pode ser incorporado ao Programa Nacional de Imunizações nos próximos anos. A coexistência de diferentes vacinas no mercado é vista como um fator positivo para ampliar a proteção da população.
Evolução histórica da vacinação contra a dengue
Primeira vacina contra a dengue aprovada no mundo, Dengvaxia, mas com restrições para quem nunca teve contato com o vírus.
Início dos testes clínicos da QDenga em larga escala.
Aprovação da QDenga no Brasil e incorporação ao SUS.
Primeiro ano de vacinação no Brasil com distribuição de 6,6 milhões de doses.
Continuidade da vacinação com ampliação para 9 milhões de doses.
Perspectivas para o futuro da imunização contra a dengue
Com o aumento da circulação do sorotipo 3, a vacinação se torna ainda mais urgente. A Takeda segue acompanhando os estudos para avaliar a necessidade de doses de reforço no futuro. Atualmente, a proteção demonstrada após quatro anos e meio da aplicação da QDenga se mantém elevada, especialmente na prevenção de hospitalizações.
O Brasil possui um dos maiores programas de imunização do mundo, e a inclusão da vacina contra a dengue representa um avanço significativo no combate à doença. No entanto, o sucesso dessa estratégia depende diretamente da adesão da população, que precisa se conscientizar sobre a importância da imunização.
A expansão da vacinação para outras faixas etárias, a produção nacional da QDenga e a entrada da vacina do Instituto Butantan no mercado podem transformar o cenário da dengue no país nos próximos anos. Até lá, a principal recomendação das autoridades de saúde é garantir que todos os elegíveis recebam as duas doses da vacina para evitar complicações e reduzir a circulação do vírus.