Mudanças em compostos indutores da resposta imune favorecem o combate geral à bactéria causadora da doença e reduzem custos de produção
Uma nova vacina desenvolvida por pesquisadores do Instituto Butantan (Brasil) e do Boston Children Hospital (Estados Unidos) é uma forte aliada no combate à pneumonia bacteriana. A vacina, que está em fase de teste em humanos, tem previsão de custo menor do que a utilizada atualmente e potencial para proteger contra todos os sorotipos da doença.
Até então, o controle da pneumonia bacteriana é difícil porque a bactéria Streptococcus pneumoniae, principal causadora da doença, tem mais de 90 sorotipos diferentes, ou seja, mais de 90 grupos da mesma espécie de bactéria que diferem entre si pela composição química de sua superfície. A grande novidade da vacina é utilizar proteínas compartilhadas por todos os sorotipos de S. pneumoniae como antígeno, que é o agente indutor da resposta imune. Com isso, a proteção passa a ser garantida independente do sorotipo causador da infecção.
Nas vacinas disponíveis atualmente, os antígenos são determinados por moléculas de polissacarídeos (açúcares) presentes na cápsula de cada sorotipo da bactéria e, para uma proteção mais ampla, é preciso combinar os polissacarídeos de sorotipos diferentes e criar uma vacina conjugada. As vacinas conjugadas hoje protegem contra 10 a 13 sorotipos bacterianos.
Além de ampliar a proteção, a vacina desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan pode ser mais barata do que as convencionais. Isso porque não será mais preciso produzir e purificar cada um dos sorotipos em laboratório e depois realizar uma série de reações entre os diferentes polissacarídeos. O processo de produção será menos complexo e mais rápido. A estimativa feita pela pesquisadora Luciana Cezar de Cerqueira Leite, integrante do Laboratório Especial de Desenvolvimento de Vacinas e coordenadora do projeto, é de que a nova vacina custe cerca de US$ 2 (R$ 8,70). O imunizante disponível hoje custa US$ 15 (R$ 65) no Sistema Único de Saúde (SUS) e US$ 60 (R$ 261) no sistema privado.
A vacina já passou pelas fases 1 e 2 de testes clínicos, que analisam segurança, toxicidade e a capacidade de desencadeamento de resposta imune. Na fase 3, o número de pessoas que recebem a vacina aumenta significativamente e os efeitos neste grupo imunizado são comparados com os efeitos em um grupo que recebeu uma vacina placebo. Por enquanto, não há previsão de início da terceira fase.