Uma colaboração entre pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Pernambuco tem gerado resultados promissores no desenvolvimento de uma vacina de DNA contra o vírus zika. Utilizando camundongos como sujeitos de teste, a equipe conseguiu induzir uma resposta imune eficaz, protegendo os animais contra a infecção pelo patógeno. Esta inovação foi recentemente divulgada na revista Frontiers in Immunology, destacando avanços significativos na luta contra o vírus.
De acordo com Maria Sato, professora da Faculdade de Medicina da USP e autora correspondente do estudo, a equipe projetou quatro diferentes formulações de vacinas de DNA focadas em componentes proteicos do zika. Dentre estas, uma se mostrou particularmente eficaz, evidenciando não apenas o potencial da tecnologia de DNA em termos de resposta imunológica, mas também sua praticidade e custo-benefício comparado às tradicionais vacinas de vírus inativo ou atenuado.
Como funciona a vacina de DNA contra o Zika?
A tecnologia de vacinas de DNA se sobressai ao permitir a seleção especifica das sequências gênicas cruciais do patógeno. No caso do vírus zika, os pesquisadores focaram na proteína pré-membrana (prM) e na proteína envelope (E), essenciais para a estrutura viral. A estratégia adotada removeu partes do envelope viral para melhorar a estabilidade e eficácia da vacina, incorporando essas sequências ajustadas em plasmídeos – moléculas de DNA circulares obtidas de bactérias não patogênicas – que, uma vez inoculadas, produzem proteínas virais dentro do organismo imunizado, estimulando a produção de anticorpos.
Isabelle Viana, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, enfatiza a segurança das vacinas de DNA, destacando-os como uma fortaleza contra os efeitos nocivos da desinformação. Ressalta-se que essas vacinas, semelhantes às vacinas de mRNA utilizadas contra a COVID-19, não alteram o DNA do indivíduo imunizado.
Potencial de neutralização específica do Zika sem interferência na Dengue
Um desafio na criação de uma vacina contra o zika reside na semelhança do vírus com os diversos sorotipos da dengue. Há um receio de que a imunização contra um possa inadvertidamente afetar a resposta imune ao outro. O estudo traz boas notícias nesse aspecto, demonstrando que a vacina induziu a neutralização específica do zika sem promover reações cruzadas indesejadas com o vírus da dengue.
Próximos passos para a vacina contra Zika
Apesar do sucesso nos testes com camundongos, ainda há um longo caminho a percorrer até que a vacina de DNA possa ser disponibilizada para o público. O desenvolvimento continuado através de estudos translacionais é essencial para garantir sua eficácia e segurança em humanos. Além disso, enfrentar as complexidades econômicas e técnicas será crucial para tornar esta inovação uma solução acessível na luta global contra o vírus zika.
As pesquisas, apoiadas pela FAPESP, pela Facepe, pelo CNPq, pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo programa da União Europeia Horizon 2020, representam um marco importante não só para a saúde pública no Brasil, mas também para a comunidade científica internacional, reiterando o potencial das vacinas de DNA como uma resposta eficaz contra emergências de saúde global.