A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) continua analisando o pedido de registro da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. Batizada de Butantan-DV, a imunização pode se tornar a primeira vacina de dose única do mundo para proteção contra os quatro sorotipos do vírus da dengue.
Segundo o Butantan, os ensaios clínicos foram encerrados em junho de 2023, com o último participante completando cinco anos de acompanhamento. Os dados de eficácia, publicados nas revistas científicas New England Journal of Medicine e The Lancet Infectious Diseases, indicam que a vacina apresentou eficácia de 79,6% contra dengue sintomática e 89% contra formas graves ou com sinais de alarme, com proteção prolongada por até cinco anos.
Se for aprovada pela Anvisa, o instituto prevê produzir até 1 milhão de doses ainda em 2025, com expectativa de ampliar essa capacidade para 60 milhões de doses em 2026.
“A projeção é entregar 1 milhão de doses este ano. Em 2026, aumentaremos bastante a produção”, afirmou Esper Kallás, diretor do Butantan.
Dose única e proteção ampla
Segundo Kallás, a Butantan-DV tem como diferencial o fato de ser tetravalente e de dose única, além de poder ser aplicada em uma faixa etária de 2 a 60 anos, sem a necessidade de comprovação prévia de infecção pela doença.
“É uma vacina que depende apenas de uma injeção. E tem uma vantagem importante em comparação com outros imunizantes: pode ser aplicada mesmo em quem nunca teve dengue”, explicou o diretor.
Desenvolvida a partir de uma tecnologia trazida dos Estados Unidos no início dos anos 2000, a vacina vem sendo estudada pelo instituto há mais de duas décadas.
O Butantan também pretende iniciar, ainda este ano, testes clínicos em pessoas acima de 60 anos e em públicos com condições que afetam a resposta imunológica.
Vacina contra chikungunya
Além da vacina contra dengue, o Instituto Butantan também aguarda posicionamento da Anvisa sobre a vacina contra a chikungunya, que já foi aprovada para uso nos Estados Unidos, Europa e Canadá.
A vacina, também de dose única, alcançou 98,8% de eficácia em adultos, segundo o instituto. O pedido feito à Anvisa é para aplicação em pessoas de 18 a 65 anos, mas estudos clínicos já estão em andamento no Brasil com adolescentes de 12 a 17 anos que vivem em regiões endêmicas.
Se aprovada, o Butantan prevê disponibilizar inicialmente 3 milhões de doses da vacina contra chikungunya. No entanto, Kallás ressalta que, diferentemente da dengue, a transmissão da chikungunya ocorre de forma mais localizada, o que exigirá estratégias específicas de vacinação.
“É uma doença que aparece em bolsões. Por isso, teremos que usar a inteligência epidemiológica para definir onde aplicar a vacina”, disse o diretor.
Ambas as vacinas integram a estratégia do Butantan de reforçar a capacidade nacional de resposta às arboviroses, doenças que têm se tornado cada vez mais frequentes no Brasil em decorrência de mudanças climáticas e expansão da área de circulação do mosquito Aedes aegypti.