Finalmente teremos uma vacina que protege contra a zika? Um novo imunizante desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco mostrou-se uma opção promissora. Feita com uma técnica de DNA, ela induziu a produção de anticorpos em experimentos com camundongos.
Detalhes sobre a vacina “anitizika” foram publicados na revista Frontiers in Immunology.
Tudo sobre a nova vacina contra a zika
- O novo imunizante contra zika é do tipo DNA. Isso o torna mais barato do que aqueles com vírus inativados, por exemplo.
- Em resumo, ela é feita com uma molécula de DNA que funciona como uma fábrica de proteínas semelhante ao vírus zika que estimulam o corpo a produzir anticorpos.
- A formulação da vacina que mais deu certo é a ZK_ΔSTP, desenvolvida com uma proteína que recobre a superfície do zika, também chamada de envelope, a principal indutora de anticorpos neutralizantes.
- Os resultados são promissores: o imunizante induziu uma alta resposta do sistema imune adaptativo em testes com camundongos adultos, explica Franciane Teixeira, uma das autoras do estudo, para a Agência FAPESP.
- Além disso, a capacidade de proteção da vacina foi potencializada com a adição de sais de hidróxido de alumínio à sua formulação.
O que é uma vacina de DNA?
Uma vacina de DNA utiliza partes do código genético de um vírus para estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos. É como se fossem inseridas estruturas “fakes” que se assemelham aos vírus em nosso corpo. Elas não afetam a nossa saúde, mas nosso organismo acredita que sim e se protege, gerando anticorpos.
No caso da vacina contra zika, em vez de usar o vírus real, usou-se uma molécula circular de DNA chamada plasmídeo, que atua como uma “fábrica” de proteínas dentro do corpo. Ela produz partes do vírus, que são reconhecidas pelo sistema imunológico como uma ameaça. Como resposta, o corpo produz anticorpos que neutralizam o vírus zika real, conferindo proteção contra a doença.
É uma tecnologia promissora porque pode ser mais barata e potencialmente mais eficaz do que outras vacinas tradicionais e não possui perigo algum, diz Isabelle Viana, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco.
"Vale ressaltar que, assim como as vacinas de mRNA [RNA mensageiro], como as da Pfizer e da Moderna contra a COVID-19, as vacinas de DNA não alteram o código genético dos imunizados, não criam uma nova espécie, nem causam doenças autoimunes. São tecnologias seguras, mas que sofreram com uma enxurrada de fake news e desinformação"
Isabelle Viana para Agência FAPESP
Reação cruzada
Ainda não temos uma vacina contra zika porque é difícil fazê-la, já que o vírus é muito semelhante aos quatro sorotipos da dengue. Por isso, o que pode ocorrer é uma confusão do nosso organismo que detecta e ataca ambos os vírus – mesmo que a dengue não esteja presente. Isso pode parecer bom num primeiro momento, mas apresenta grande perigo.
"O risco é ocorrer o que chamamos de reação cruzada, ou seja, os anticorpos produzidos pela vacina contra zika reconhecerem os vírus da dengue […] Caso esses anticorpos não sejam potentes o bastante para evitar uma segunda infecção por outro sorotipo de dengue, acontece um efeito contrário. Eles se ligam ao vírus e fazem com que a célula do hospedeiro englobe o patógeno com mais facilidade. Desse modo, o próprio corpo ajuda o vírus a infectar as células"
Isabelle Viana para Agência FAPESP
Os testes da nova vacina em camundongos indicam que a formulação pode neutralizar o vírus sem induzir uma reação cruzada com os sorotipos da dengue, o que é um resultado promissor.