Rede privada enfrenta desabastecimento; farmacêutica que produz vacina contra a dengue afirma que prioriza fornecimento de doses ao SUS
A preocupação com os alertas sobre a alta nas transmissões da dengue e a restrição de faixa etária na vacinação da rede pública têm levado muitas pessoas a buscar a imunização na rede privada. Entretanto, o cenário nos laboratórios e clínicas particulares também é preocupante: nesta quinta-feira (16), a rede privada de Campinas está totalmente desabastecida de doses da vacina contra a dengue.
Além disso, um levantamento realizado pelo acidade on em 12 clínicas de imunização da cidade revelou que o desabastecimento já se arrasta há meses, sem previsão de normalização – leia mais abaixo. O preço médio do imunizante na Metrópole é de R$ 550 a dose. Para imunização completa, são necessárias duas doses da vacina.
Enquanto isso, na rede pública, a vacina está disponível apenas para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, de acordo com determinação do Ministério da Saúde, em todos os 68 centros de saúde da cidade da Metrópole, de acordo com determinação do Ministério da Saúde – saiba mais abaixo. Em 2024, Campinas bateu recorde de casos e mortes da doença.
O imunizante Qdenga, fabricado pelo laboratório japonês Takeda, foi incorporado ao Ministério da Saúde em janeiro de 2024.
Clínicas de imunização
A enfermeira Ângela Moreira, da clínica Dr. Vacina, relata que, há uma semana, a unidade recebeu apenas seis doses da vacina contra a dengue. Porém, todas foram vendidas rapidamente para uma única família.
“Nós recebemos cerca de 20 pessoas, todos os dias, perguntando por vacina contra a dengue”,
Na clínica de imunização Vacine-C, o cenário não é diferente. A farmacêutica Bianca Breve explica que o abastecimento está irregular desde fevereiro do ano passado.
“Até outubro, o laboratório enviou somente as segundas doses de quem já havia iniciado a imunização. Depois, eles passaram a responsabilidade para as distribuidoras. Dessa forma, começamos a receber pouquíssimas doses da vacina”,
Longas listas de espera para vacina contra a dengue
Apesar do desabastecimento prolongado, a procura pela vacina continua alta. Na clínica VacineSIM, a lista de espera já soma 200 pessoas.
“Recebemos o último lote em outubro do ano passado com poucas doses. A justificativa do laboratório é a demanda, por conta do contrato com o Governo”,
Diante da entrega imprevisível e da grande procura, algumas clínicas optaram por não manter listas de espera. É o caso da Defend, que orienta os interessados a entrarem em contato por telefone ou mensagem para verificar a disponibilidade da vacina e, assim, garantir a imunização.
“Também é importante ressaltar que estamos vendendo as duas doses necessárias juntas, justamente para garantir o esquema completo de vacinação das pessoas”,
De acordo com o médico responsável pela clínica Previna, Luis Alberto Verri, o laboratório responsável pela produção da vacina contra a dengue, Takeda, espera normalizar o abastecimento apenas em 2026 , depois da construção de uma nova fábrica.
Paralelamente, há expectativa da entrada de um imunizante do Instituto Butantan no mercado nos próximos meses – sabia mais abaixo. Enquanto os prazos não são definidos, a clínica também optou por não estender ainda mais a lista de espera.
“Este mês recebemos apenas dez doses. Às vezes, colocamos as pessoas na lista de espera e elas não acreditam na falta, acham que estamos passando outras pessoas na frente. Então, optamos por esperar a normalização do fornecimento para que essa espera não fique cada vez mais extensa”,
O que diz o laboratório Takeda?
Em nota ao acidade on , o laboratório Takeda informou que , em relação à oferta de doses da vacina contra a dengue para o setor privado, “ mantém um estoque de segurança para atender a demanda da população não elegível à vacina pelo SUS (Sistema Único de Saúde, além de priorizar a segunda dose para quem já iniciou a imunização na rede particular”.
“No entanto, o número de doses disponibilizadas ao setor privado permanece limitado, devido à prioridade dada ao atendimento do SUS. Para este ano, a empresa assumiu o compromisso de fornecer nove milhões de doses para o Ministério da Saúde”,
Além disso, a farmacêutica japonesa também afirmou que a gestão das doses disponíveis no sistema privado é de responsabilidade das clínicas e farmácias.
“A Takeda está empenhada em viabilizar o fornecimento necessário para completar o esquema vacinal daqueles que já receberam a primeira dose”,
Segundo a farmacêutica, o Brasil é o país com o maior número de doses disponíveis entre os mercados em que a vacina já está acessível.
“A empresa tem um plano estratégico para incrementar o fornecimento global da vacina contra a dengue e atingir a meta de 100 milhões de doses por ano até 2030, o que inclui um novo centro global dedicado à produção de vacinas, em Singen na Alemanha, previsto para lançamento em 2025. Ao mesmo tempo, a empresa está comprometida com os esforços para estabelecer novas parcerias para acelerar a capacidade de produção da vacina no Brasil e no mundo”,
Vacina contra a dengue na rede municipal em Campinas
Em Campinas, crianças e adolescentes com idades entre 10 e 14 anos podem se vacinar contra a dengue, de acordo com determinação do Ministério da Saúde. O imunizante está disponível em todos os 68 centros de saúde da cidade, segundo a Prefeitura.
“O abastecimento tem sido regular e o estoque é suficiente diante da atual demanda”,
Doses em atraso
Ainda, segundo o Executivo, há 8,5 mil pessoas com a segunda dose em atraso, público-alvo da iniciativa, e 2,2 mil precisam aguardar o fim do período de três meses entre cada aplicação para completar o esquema vacinal.
Vacinação até 6 de janeiro
1ª dose: 19.317
2ª dose: 8.467 (49,63% das 17.057 pessoas aptas para receber)
Total de doses aplicadas: 27.784
Receberam a 1ª dose e precisam esperar intervalo: 2.260 pessoas
Estão com esquema incompleto: 8.590 pessoas (50,36% das aptas para receber)
Como se vacinar da rede municipal?
Não é preciso realizar agendamento para receber a dose contra a dengue. Basta levar documento de identidade com foto e a caderneta de vacinação (se tiver).
As salas de vacinação funcionam conforme horário de cada CS. Endereços e contatos podem ser acessados pela internet – clique aqui.
Casos de dengue em Campinas em 2024
Campinas registrou, em 2024, a maior epidemia de dengue da história, com 121.241 casos confirmados e 90 mortes. Em 2025, a secretaria da Saúde espera que o cenário possa ser pior ou igual do ano anterior.
Ontem, a secretaria de Saúde divulgou a segunda edição do Alerta Arboviroses de 2025, que identifica e atualiza os 14 bairros com alto risco de transmissão da dengue (veja aqui a lista atualizada).
Entre os principais fatores para a preocupação estão:
Circulação de três sorotipos diferentes;
Alta expressiva nos casos no segundo semestre de 2024;
Fato de que uma pessoa pode ser infectada por até quatro vezes.
Nesta quinta-feira, a Pasta informou que reforçou ações em 14 bairros com alto risco de transmissão da doença.
Vacina contra a dengue do Instituto Butantan
O Instituto Butantan entregou, no dia 16 de dezembro de 2024, os documentos para aprovação de sua vacina contra a dengue à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O imunizante deve ser o primeiro do mundo em uma única dose.
No caso de aprovação do imunizante pela agência, o instituto acredita que tem condições de fornecer um milhão de doses em 2025. Outras 100 milhões de doses poderão ser entregues em 2026 e 2027.
Resultados de estudos clínicos de fase 3 indicam que a candidata a vacina contra a dengue do Butantan, a Butantan DV, é capaz de proporcionar proteção duradoura e elevada contra a dengue a, reduzindo, em média, em 67,3% o risco de as pessoas apresentarem sintomas leves, moderados ou graves de dengue, mesmo passado um longo tempo de sua administração — em média 3,7 anos. Os dados foram publicados na revista The Lancet Infectious Diseases.
Veja dados apresentados pelo Instituto sobre a eficácia da vacina:
79,6% de eficácia geral
89,2% de eficácia naqueles que já tinham contraído dengue
73,5% de eficácia em quem nunca teve contato com o vírus
Os dados são baseados na fase três do ensaio clínico.
“Das mais de 10 mil pessoas que receberam o imunizante na fase 3, apenas três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves, e todos se recuperaram totalmente. A frequência de eventos adversos foi semelhante entre as três faixas etárias, de 2 a 59 anos”,
A expectativa é que o imunizante chegue aos pontos de saúde do Brasil ainda em 2025.
Giovanna Peterlevitz, Meta Time