"Mais uma vez a Universidade de São Paulo se apresenta como um referencial para o País e para a América Latina", afirma, orgulhoso, o reitor Flávio Fava de Moraes, comemorando a experiência de cristalização de proteínas a bordo da nave espacial Columbia. Fava lembra que a USP foi responsável pelo primeiro microcomputador brasileiro, o "Patinho Feio", desenvolvido na Escola Politécnica, pela primeira missão do País à Antártida, e por inúmeras iniciativas pioneiras na área médica, como os transplantes de rim, coração, pulmão e fígado.
Entre os grandes feitos da USP, segundo o reitor, está o controle do cancro cítrico em São Paulo, com um custo muito baixo. "Isso permitiu que hoje o estado tenha 200 milhões de pés de laranja e exporte cerca de US$ 1,5 bilhão por ano, superando outras culturas em pouco espaço de tempo", diz. Ele ressalta ainda que a USP é responsável por 54% dos doutores formados em todo o País: "A vanguarda da experiência de São Carlos é um reflexo disso".
O Laboratório de Cristalografia da USP está desenvolvendo pelo menos mais 15 outros projetos além da experiência da cristalização de proteínas. Seus equipamentos, de última geração, significaram investimentos de US$ 2 milhões feitos nos últimos cinco anos e bancados pela USP e agências de fomento nacionais, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e internacionais, como a própria Organização Mundial de Saúde (OMS).
O laboratório conta com um coordenador, quatro professores de inúmeras áreas, como biólogos, bioquímicos, farmacêuticos, químicos e 25 alunos de pós-graduação - sendo 16 de doutorado - e graduação. "É uma área tipicamente multidisciplinar e é muito difícil fazer esse tipo de ciência no Brasil, porque há dificuldade em se gerenciar", conta o físico Glaucius Oliva, coordenador do laboratório.
Ele pretende formar um Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural, ligado à USP, mas com maior flexibilidade para, através de uma fundação fazer intercâmbios com empresas e governo. As grandes multinacionais farmacêuticas investem cerca de 20% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. "Hoje as grandes empresas investem cerca de US$ 350 milhões para fazer uma nova droga, mas o retorno pode chegar a US$ 1 bilhão", diz Oliva.
Com a nova lei de patentes, o professor acredita que as empresas nacionais terão de investir em novos produtos, o que nunca foi feito antes. "Os produtos que elas fabricam, com a nova lei vão ser limitados e a estratégia será ter novos produtos ou morrer no mercado, já que até hoje nenhum medicamento farmacêutico foi feito no Brasil", afirma. Ele acredita que o grande patrimônio de biodiversidade brasileira motivará as empresas nacionais - através de parcerias com estrangeiras - a novas pesquisas. "Essas parcerias fazem sentido e estamos tentando convencê-los disso." (F.L)
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Gazeta Mercantil