Notícia

Gazeta Mercantil

USP projeta novo carro elétrico

Publicado em 04 maio 1995

Por André Lachini

Três engenheiros se associaram recentemente a seis professores e vinte alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), para executar o projeto do segundo carro brasileiro movido à energia solar: o Banana Enterprise P 400, que por enquanto só existe nas estações de trabalho da Politécnica e nos sonhos dos engenheiros, que estão atrás de patrocínio.

O objetivo deles é participar de uma corrida de carros movidos à energia solar que acontecerá em 1996, atravessando a Austrália de norte a sul. A prova australiana, que reúne centenas de construtores de automóveis movidos à energia solar, acontecerá em outubro do próximo ano e se chamará IV World Solar Challenge.

Os brasileiros participaram da última corrida, em 1993, com o Banana Enterprise P 204, e abandonaram a prova por problemas técnicos. A corrida tem 3 mil quilômetros de percurso, de Darwin, no norte australiano, a Adelaide, no sul do país. "Na última corrida, o P 204 quebrou. Mas na próxima, esperamos que o resultado seja melhor, com o novo modelo", conta Eduardo Bomeisel, um dos cinco engenheiros que participaram da construção do P 204 e que agora, junto a dois remanescentes do grupo, Alan de Souza e Júlio Adamowski, corre atrás de patrocínio para o novo carro.

Bomeisel disse que o Banana Enterprise P 204, carro que está exposto nesta semana na feira ABINEETEC 95, no Parque Anhembi, em São Paulo, exigiu gastos de US$ 67 mil, sem contar o dinheiro que foi necessário para a viagem australiana. No total, foram gastos US$ 120 mil no P 204. Ele calcula que, para o projeto do P 400, deverão ser gastos US$ 250 mil, na construção do protótipo e participação na IV World Solar Challenge.

O Banana Enterprise P 204 foi patrocinado por dez empresas, entre as quais figuravam a Embraer, a Siemens e a Delco-Freedom. Bomeisel atribui os problemas técnicos do veículo à própria precocidade do projeto, que resultou no primeiro carro movido à energia solar do Brasil e, talvez, de toda a América Latina. "O Banana P 204 foi um carro improvisado. Agora, temos peças sobressalentes e uma aerodinâmica melhor no P 400", explica.

TECNOLOGIA

Um carro movido à energia solar tem um desgaste mínimo, porque as únicas peças móveis são a bateria, os freios e os pneus (de bicicleta, nos modelos atuais). Entre o projeto do P 204, executado em 1992, e o do P 400, desenvolvido atualmente, já existem diferenças significativas, explicou Bomeisel. O P 400 está sendo totalmente projetado em computador, no software Catia 3.0, da francesa Matra (e distribuído no Brasil pela IBM) e simulado no Caedes, um programa de Engenharia auxiliada por computador (CAE), que através de cálculos matemáticos simula com precisão as reações do automóvel em movimento.

Outra inovação é a instalação do "motor" do carro solar P 400 na roda traseira (o carro tem três rodas, duas das quais são dianteiras). O "motor" é formado por ímãs que são instalados na roda, ligados a uma bobina. Essa bobina gera um campo magnético que movimenta os ímãs, passando a energia solar. A energia chega na bobina através de cabos que ligam o conjunto a um controlador de potência e uma bateria, que armazenam a energia solar e mandam a quantidade necessária para o motor funcionar.

O controlador e a bateria recebem a energia de um painel solar com 12 metros quadrados, instalado na capota do carro. O painel é de silício monocristalino e capta 1.700 watts de energia, que permitirão que o P 400 desenvolva 120 km/h. A velocidade máxima do P 204 é de 100 quilômetros por hora. Segundo Bomeisel, a indústria automobilística já tem condições tecnológicas manifestas para fabricar automóveis convencionais movidos à energia solar. No caso de um automóvel pequeno, por exemplo, pode ser instalado um painel de 4 metros quadrados na capota.

O único problema, disse, é a autonomia que a nova fonte de energia proporciona: o carro tem de ficar nove horas na rua, para pegar energia solar, e depois só circula durante duas horas com a energia armazenada. No final desse tempo, é preciso fazer uso da bateria.

CORRIDA

Em 1993, 53 carros movidos à energia solar participaram da III World Solar Challenge. Só 20 chegaram ao final da prova. A corrida é uma amostra do que é pesquisado no mundo inteiro em matéria de automóveis movidos à energia solar. Além de projetistas independentes, como o brasileiro Bomeisel, participam grandes indústrias automobilísticas, como a General Motors, vencedora da primeira prova, realizada em 1987. Para participar, a equipe do Banana Enterprise P 400 está vendendo quatro cotas de patrocínio. "Quem der US$ 100 mil, que é a maior cota, pode escolher o nome do carro'", disse Bomeisel. As outras cotas são de US$ 50 mil. A previsão de Bomeisel é de que o P 400 esteja pronto até o final deste ano.