A Universidade de São Paulo (USP) inaugurou este mês o seu Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologia da Informação e Comunicação (Lassu), que pretende desenvolver padrões e práticas que reduzam os impactos ambientais das empresas de TI. Por exemplo, por meio de pesquisas de ecodesign, para projetar computadores mais recicláveis, ou treinando catadores de lixo para coletar produtos eletrônicos e gerando soluções tecnológicas de baixo custo para aplicação social.
"Se quero usar dois computadores usados para montar um terceiro e as placas são de fabricantes diferentes, não dá para intercambiar", explica a coordenadora-geral do Lassu, Tereza Cristina Carvalo. "A ideia é encontrar formas de ter materiais mais recicláveis e produzir micros facilmente desmontáveis." E, uma vez dominadas essas tecnologias, oferecê-las à indústria de TI.
O programa de treinamento de catadores se chama Paidea e pretende profissionalizar jovens de baixa renda ou de comunidades de periferia para trabalhar com coleta e reciclagem de lixo eletrônico. A meta é preparar 20 alunos do terceiro ano do Ensino Médio por semestre, estima Tereza. "Com a nova Lei de Resíduos Sólidos, todas as empresas vão ter que contar com políticas de logística reversa. O mercado de reciclagem promete crescer muito."
O Lassu faz parte do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas, da Escola Politécnica da USP. Recebeu 150 mil reais de investimentos na infraestrutura das salas, capazes de receber até 18 pesquisadores. E tem três outros projetos na pauta, que devem receber avaliação final de fontes de fomento ainda este mês.
Um deles envolve a criação de um treinamento para catadores de lixo passarem a recolher também eletrônicos. "O grande desafio é que os catadores nem sempre são alfabetizados. Ou seja, o treinamento vai usar muito imagem e conceitos gerais, sem textos." A proposta está em análise na área de design de tecnologias sociais do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e demanda um orçamento da ordem de 400 mil reais.
Dessa vez com a unidade MIT-L (Liderança em Sustentabilidade), outra ação é que busca melhorar o processamento de lixo eletrônico, com metodologias para reduzir o tempo de desmontagem e teste dos computadores que vão para reciclagem. Nesse caso, a parceira seria com o MIT L-Lab e prevê 100 mil reais apenas para as especificações inicias. "A execução será mais cara", admite Tereza.
A terceira iniciativa foi submetida à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Trata-se de um projeto de governança de TI sustentável, para gerar indicadores que permitam às empresas avaliarem se suas práticas são sustentáveis. Deve mobilizar total similar de recursos, ou aproximadamente 400 mil reais.
Novo pregão certificado
A coordenadora do Lassu também está à frente do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), que certifica os fornecedores de equipamentos de TI da USP. Segundo Tereza, um novo pregão eletrônico deve ocorrer em outubro ou novembro, com novos requisitos ambientais. Além da Rohs (Restriction of Certain Hazardous Substances ou Restrição a Certas Substâncias Perigosas), certificação europeia para produtos que não contêm insumos tóxicos (como o chumbo), que já era exigida, será pedida a qualificação norte-americana Epat. Essa qualificação cobre não só o computador, mas toda a sua cadeia -- como as embalagens de papel.
O computador também precisa ter um sistema de encomia de energia e a empresa, estar de acordo com as normas ISO 9000 (de qualidade) e ISO 14000 (de gestão ambiental). O selo do Cedir foi dado à Itautec, vencedora no pregão de 2008, e no de notebooks em 2009, quando a Positivo ganhou a compra de desktops. "Depois que a empresa ganha o leilão, verificamos se ela atende os requisitos", diz Tereza.